O 3º Encontro da Família Brochier reuniu mais de 200 pessoas no último domingo, 10, em sua maioria descendente dos irmãos que colonizaram aquela região do Vale do Caí, e que hoje é o município que leva o nome dos franceses. Esta edição teve uma motivação especial com o lançamento do livro “Irmãos Brochier: da França para o Rio Grande do Sul: uma história de superação” (Z Multi Editora/ 2024 – contate para compra online); obra que resgata, com clareza e de forma oficial, a epopéia individual que Jean Honnoré e Auguste Brochier iniciaram há 195 anos.
Os autores da pesquisa, Mariana Brochier e Lauri Valdemar Krug, fizeram um breve relato dos 10 anos de trabalho baseado em documentos dos governos da França e do Brasil. As palavras dos pesquisadores, sendo que ela é da 7ª geração de Jean Honnoré, prenderam a atenção e despertaram curiosidade do público no Centro Comunitário Católico.
Certamente uma emoção para a descendente mais idosa presente, Ivete Finco Pisani, de 89 anos, de Caxias do Sul; que inclusive é uma bisneta com proximidade genealógica da autora. Ela se apresentou como filha de Paulo Gabriel (neto de Jean Honnoré) e de Elsa Frida Brochier, que moraram em Montenegro (possivelmente no 9º Distrito Brochier). Mas sua recordação de infância é as férias de inverno na casa de um familiar da mãe (sobrenome Müller) na localidade de Cafundó (hoje Santos Reis), em Montenegro.
Já sua primeira visita à cidade nomeada em homenagem aos Brochier aconteceu quando já era avó. “Eu tinha muita curiosidade. Então pedi para meu filho (Fernando) ‘me leva lá, quero conhecer’”, descreveu. Em um domingo, há dois anos, andaram pela cidade, visitaram o cemitério e foram até Maratá. Neste dia 10 foi a segunda vez que Ivete reencontrou o berço de sua história.
Doralina descende dos dois irmãos
A segunda Brochier mais idosa presente era Doralina Kochenborger Fernandes, 85 anos, bisneta de Auguste, mas também trineta de Jean. A pesquisa de Mariana e Krug inclusive revela estes casamentos entre primos, que no caso de Doralina foi sua mãe Olinda Rohden, bisneta de Jean, que casou com Elogeo Kochenborger, neto de Auguste.
Doralina mora até hoje em Brochier, uma proximidade com as raízes que lhe deu mais acesso aos relatos “dos antigos” a respeito dos ancestrais franceses. Um fato que recorda diz respeito à bisavó Marie Saticq Brochier (esposa de Auguste), que cedeu um carroção com junta de bois para transportar as pedras para o alicerce da Igreja Católica, além de ter doado o sino que badala até hoje na torre do Templo.
Ela mantém viva na memória a forma respeitosa que eram tratados aqueles que levavam este sobrenome, respeitados pelo legados deixado. “Porque os Brochier são pessoas de coração muito bom”, orgulha-se.
Autores informam e esclarecem muito
O livro se revela um importante documento histórico, inclusive para compor acervos escolares. Os autores apresentaram apenas fragmentos da década de trabalho, com imagens das cidades de origem dos irmãos Brochier na França, mapas e fotocópias de originais. Mariana revelou que o mais antigo documento de um ancestral na Europa data de 1660, de Antoiné Brochier. Mas também encontraram registros dos pais dos irmãos imigrantes, Paul e Catherine.
A obra esclarece que eles não vieram juntos. Jean Honnoré embarcou primeiro, em 1829, com 25 anos, e desembarcou em Montevidéu, no Uruguai, de onde veio para Porto Alegre no mesmo ano. Já Auguste chegou com 18 anos, em 1831, no Rio de Janeiro. “Diferente da imigração alemã e italiana, que vieram em massa por iniciativa do governo, os franceses vinham individualmente e com objetivos próprios diversos”, explica a historiadora.
Krug trouxe informou a respeito da vida dos irmãos no Brasil, destacando o fato de o Vale do Caí ter sido sua terceira morada. “Não é correto dizer que os irmãos Brochier vieram (direto) pra cá”, declarou. Além de Porto Alegre, onde inclusive há documento de 1833 relativo a imbróglio jurídico de Jean contra um cliente no negócio de peças de metais, os irmãos ainda tiveram negócios na região onde hoje fica Paverama, no Vale do Taquari.
Foi a venda de uma serraria que tinham na localidade Fazenda Cachimbos, em 1842, que permitiu comprarem as terras da atual Brochier, onde seguiram no negócio da madeira. Veja entrevista com os autores no Youtube de Jornal Ibiá.
A origem do nome
O pesquisador e professor Décio Aloisio Schauren, que escreveu o prefácio do livro, participou do encontro, sobretudo para enaltecer a pesquisa dos autores. Além de contribuir com informações a respeito da presença de imigrantes franceses no Brasil, ele esclareceu a origem etimológica do sobrenome Brochier, que algumas vezes é alvo de piada. Segundo seu estudo, ela faz referência aos fabricantes de broches, peças ornamentais um pouco diferente das atuais, sendo aqueles específicas para famílias reais e patentes militares, moldados inclusive em ouro.