De mulher para mulher: conheça a história da soldado Aline Paim

AMOR E SOLIDARIEDADE norteiam carreira da policial que, desde menina, sonhava em servir a sociedade

A soldado Aline Paim, de 40 anos, natural de Inhacorá, na região das Missões, é uma das servidoras mais atuantes do 5º Batalhão da Polícia Militar de Montenegro (5º BPM). Ela exerce a função de chefe da Sessão de Justiça, realiza policiamento ostensivo e é coordenadora da Patrulha Maria da Penha, juntamente com o tenente (PME) Celemias Goulart Nascimento. Contudo, o destaque que se dá à profissional não é relacionado, apenas, às várias atividades que exerce e, sim, à qualidade dos atendimentos prestados. Afeto e solidariedade são características marcantes da personalidade da policial, que vai a fundo no que faz.

Aline conta sua trajetória com emoção e com a sensação de quem fez a escolha certa para a própria vida ao ingressar na Brigada Militar

Desde menina, Aline sonhava em tornar-se policial militar. Aos 18 anos, deixou a pequena cidade onde nasceu e mudou-se para Porto Alegre. Na época, estava aberto o período para inscrições ao concurso público da Brigada Militar. Aline participou do processo e, em 2001, foi nomeada para dar início ao curso, na Escola da BM de POA. Em 2002, a jovem formou-se e iniciou a realização de seu projeto de vida: servir à BM.

A carreira começou no Pelotão de Operações Especiais (POE) de Guaíba e, posteriormente, atuou quatro anos no 3º BPM de Novo Hamburgo. “O período no POE foi de grande aprendizado, passei pelas mais variadas situações que se possa imaginar”, relata. Aline veio para Montenegro em 2004, mas continuou trabalhando e estudando fora da cidade. Três anos depois, foi transferida para o Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Caí (CRPO/VC), onde permaneceu até assumir como chefe da Sessão de Justiça do 5º BPM, isso em 2009, mesmo ano em que se formou no curso de Direito pela Feevale.

Aline teve momentos marcantes em sua trajetória. “Lembro com muito sofrimento de uma ocorrência que atendi, na qual tive que dar a notícia para a mãe, de que ela perdera dois filhos, porque as crianças saíram pra andar de bicicleta e um caminhão passou por cima”, conta. “Já chorei abraçada com mãe de infrator, morto durante ocorrência. É uma mãe sofrendo a perda de um filho. O que ele era e o que fez não interessa nessa hora, é uma mãe em sofrimento”, recorda Aline.

Apesar de todo o histórico de emoções, o envolvimento com a Patrulha Maria da Penha, a qual foi designada para estruturar pelo comandante do 5º BPM, tenente-coronel Rogério Pereira Martins, tem mexido de forma diferente com os sentimentos da mulher que abriu mão de ser mãe, mas que cuida das vítimas de violência doméstica com acolhimento materno.

Nervos à flor da pele
O envolvimento da soldado Aline Paim com a Patrulha Maria da Penha não fica restrito ao expediente. “Toda hora a gente está emocionalmente envolvido. A gente chega em casa e não consegue desligar”, comenta. “Somos seres humanos de carne e osso, não temos um escudo, uma proteção para sentimentos, para envolvimento”.

Aline e seus companheiros da Patrulha estão em contato direto com mulheres que foram agredidas, muitas vezes de forma brutal, e até mesmo estão sob ameaça de morte. “É inevitável a gente se envolver com as vítimas. Tem situações em que nos preocupamos como se fosse um filho da gente. Como é o caso de uma menina de 18 anos, que namora desde os 12, e já foi agredida várias vezes pelo namorado. Ele já chegou a jogar o carro em cima dela”, relata a PM.

Depois de tantos anos de envolvimento com os problemas emocionais das outras pessoas, Aline passou a ter crises de ansiedade. Há pouco mais de um ano, ela buscou ajuda médica e psicológica para lidar melhor com a situação. A soldado acrescenta que há uma preocupação da BM em relação aos patrulheiros da Maria da Penha e, por isso, a instituição passará a oferecer atendimento psicológico para todos estes profissionais.

Frustração pela recusa de ajuda
O sentimento de frustração toma conta de Aline quando uma vítima de violência doméstica recusa ajuda. No domingo, dia 1º de março, a Patrulha prestou atendimento a uma jovem de 21 anos, que havia sido gravemente ferida pelo companheiro.

Todas as medidas para garantir a segurança dela foram tomadas, mas já na quarta-feira, 4, a moça havia reatado o relacionamento. “A gente faz a nossa parte, todo o sistema de proteção está funcionando. Mas de nada adianta nosso trabalho se a vítima não consegue se convencer de que precisa romper com o ciclo de violência”, desabafa.

Contudo, situações como essa não desestimulam a policial, que mostra brilho no olhar ao falar sobre o trabalho realizado pela Patrulha. “Esse projeto me dá a oportunidade de conhecer pessoas e fazer um trabalho de pós-violência doméstica. É gratificante ajudar a essas mulheres”, diz.
Com a persistência, força e determinação, comuns a muitas mulheres, Aline tem um sonho audacioso. “Depois de um ano de trabalho com vítimas de violência, na Patrulha Maria da Penha, meu sonho é de que pudéssemos zerar os índices de violência doméstica”, almeja.

“Tudo que sou e tenho devo à Brigada Militar”
A soldado Aline Paim tem uma relação de amor e gratidão com a corporação. Embora a Patrulha Maria da Penha seja sua nova paixão, há outro relacionamento em sua história de vida, já com 18 anos de existência, iniciado quando Aline ainda estava na academia de Polícia. Foi na escola que, lá em 2002, ela conheceu Márcio Luz, na época chefe de segurança do Presídio Central, e hoje tenente-coronel, Comandante do CRPO/VC. “Cada vez mais, a Brigada me dá oportunidade para crescer, ela me deu até um marido”, brinca. “Tudo que sou e tenho devo à Brigada Militar”.

Últimas Notícias

Destaques