Negritude. Aulas de dança trabalham valores civilizatórios e a ancestralidade afrobrasileira por meio dos movimentos
O movimento do corpo e o ritmo da música contagiam. Os braços balançam no ritmo das águas de Oxum enquanto as pernas seguem o toque da percussão. Ao fundo, uma voz animada cantando a cultura afrobrasileira.
Há cerca de um mês, a Sociedade Floresta Montenegrina é palco de aulas de dança afro, promovidas pela professora Rita Lende. O objetivo, segundo ela, é trabalhar os valores civilizatórios afrobrasileiros, através da dança. “É o momento de vivenciar a negritude no corpo, na corporeidade e potencializar a corporalidade naquele que se propõe a conhecer e se investigar, investigar o próprio movimento”, explica.
A dança afro existe há pelo menos três séculos e é originada a partir de passos das tribos africanas e foi trazida ao Brasil pelos negros. Ela está diretamente atrelada às religiões de matriz africana, mas não é exatamente a prática religiosa, e sim uma manifestação cultural.
Os passos incorporam movimentos relacionados a cada Orixá, como o movimento das águas de Oxum, sua graciosidade e sensibilidade ou o manejo do arco e flecha de Oxóssi, por exemplo. “Nós estamos trabalhando a corporeidade de Oxum, sua feminilidade e a ligação com a ancestralidade. Além dessa relação simbólica com as relações afroreligiosas, nós trabalhamos outros movimentos, como o samba de roda”, explica Rita.
Essa é, também, uma oportunidade para deconstruir as imagens que se têm sobre a cultura negra e afrobrasileira. “Quando a gente fala de dança afro vem uma série de outras coisas na cabeça, como panos da Costa Africana”, diz Rita. “Não só militar o movimento negro através da dança, mas sim conhecer essa cultura negra que é tão linda e tão sensível”.
As aulas podem, também, ser uma terapia e autoconhecimento. “A aula tem uma proposta de meditação ativa através da dança. No fim a gente vai acalmando o movimento e fazendo com que a pessoa se reconecte consigo mesmo e dê continuidade em melhoria para a própria vida, através do movimento”.
Quem pode fazer?
Quem pensa que a dança afro é algo voltado para um público muito específico, está bastante enganado. É possível praticar essa atividade sendo negro, branco, homem, mulher, criança, adulto e até idoso. A artesã Suzete Furtado, 55 e a aposentada Regina Helena dos Santos, 66, aprovam a atividade.
“A aula não faz bem só para o corpo, faz bem para a alma. Tu te solta, te arrepia com as músicas, te emociona”, afirma Suzete. “O lado espiritual também toca. A gente se sente muito bem”, concorda Regina. Elas garantem que, além de mexer o corpo, ainda aprendem sobre a cultura negra. “A gente vai conversando, ela [Rita] explica de onde vem o movimento”, contam as alunas.
Segundo a professora, as aulas são pensadas para atender as necessidades das suas alunas. “A gente começa aquecendo. Eu tenho um cuidado para que os movimentos ocorram de acordo com a bagagem que as alunas trazem de corpo. Não tem como eu trazer movimentos mais efusivos, maiores, para um público que tem uma outra bagagem corporal”. As atividades acontecem às quintas-feiras, 19h30min, na Sociedade Floresta Montenegrina e a mensalidade custa R$ 50,00, ou R$ 20,00 uma aula avulsa.