Cufa Montenegro: 12 anos de ativismo social e empoderamento da periferia

Entidade completa mais um ano impulsionando a cultura, empreendedorismo e força nas favelas

“Favela não é carência, e sim potência” afirma o jornalista, sociólogo, e coordenador geral da Central Única das Favelas (Cufa) em Montenegro, Rogério Santos. Nesta segunda-feira, 7, serão completados 12 anos de fomento na potência da periferia pobre de Montenegro. Para celebrar a data, uma live será transmitida através da Cufa Montenegro RS no Facebook.

Apesar da data, as atividades presenciais foram suspensas devido à pandemia do novo coronavírus e o movimento terá um debate online disponível para todos. Dentre os convidados está o jornalista e fundador da Cufa RS, Manoel Soares; a Secretária Estadual da Cultura, Beatriz Araujo; o escritor e produtor, Jessé Andarilho; a juíza diretora do Fórum da Comarca de Montenegro, Priscila Palmeiro; o empresário co-fundador da empresa Dobra, Guilherme Massena; a delegada da Deam de Montenegro, Cleusa Spinatto e o jornalista Rogério Santos. A live começa a partir das 19 horas. Além disso, a Cufa Montenegro está divulgando, via redes sociais, momentos especiais de todos esses anos.

De acordo com o coordenador, ainda que este ano esteja mais difícil, com todas as consequências causadas pela Covid-19, muitas coisas significativas vieram à tona. “Hoje, por essa questão da pandemia, é a possibilidade de troca”, declara.

A troca é exemplificada com o caso de uma mulher atendida pela entidade que, após se reerguer, ajuda como pode. “Agora ela mandou um áudio se oferecendo, porque ela passou essa frase de dificuldade, conseguiu comprar um carrinho e está fazendo transporte de passageiros. E ela se oferece a fazer entregas, porque tem vezes que mandam um Whatsapp pedindo algo no momento, e não temos como nos deslocarmos. E essa pessoa está se deslocando 0800 (gratuitamente), fazendo isso para contribuir”, diz.

Rogério Santos, coordenador da Cufa Montenegro, atuando durante ações de enfrentamento à pandemia

Início da caminhada
Com uma grande rede de apoiadores e parceiros, a Cufa Montenegro começou pequena; um destino do acaso. Durante uma Feira do Livro do Colégio Sinodal Progresso, Rogério conheceu a entidade por meio do rapper MV Bill, um dos fundadores da organização, e após conversas a ponte entre os coordenadores do Estado, Manoel Soares e Dinorá Rodrigues, foi criada.

Em Montenegro, Manoel, Dinorá e Rogério se encontraram e, no dia 7 de setembro, teve início a Central Única das Favelas no município. Durante mais de uma década diversos projetos foram colocados em prática.

Sejam permanentes ou transitórios, todos fizeram a diferença na vida de um morador das favelas montenegrinas. Cine Periferia Cufa, Projeto Segunda ao Quadrado, Maria Maria, Negro no Vale do Caí, Projeto a Luta de Denis, ações como o Natal Solidário, Palestras e Círculos de Paz na Comunidade Terapêutica Elis Regina e o Projeto Maria e João sem Violência são alguns que podem ser lembrados.

Este ano a Cufa Montenegro foi contemplada por mais um projeto do Ministério da Cultura, porém, devido à pandemia, a ação foi adiada. “Viriam umas ações em algumas escolas municipais e teria o fechamento com o MV Bill. O dinheiro já tinha sido depositado, ele já estava contratado, porque seria em julho, mas tentaremos trazer ele ano que vem”, explica.

Danielle Araujo, coordenadora da juventude da Cufa Montenegro

Poder feminino
Apesar da lista extensa de projetos criados pela Cufa Montenegro, o de mais importância desde o início da entidade é o Núcleo Maria Maria, coordenado por Kaká Pinheiro. “Esse foi o primeiro projeto implantado na cidade. É um projeto que tem uma base nacional. O Maria Maria pegou de uma forma na Vila Esperança, que ele nunca parou nesses 12 anos”, fala Rogério.

O Núcleo voltado para as mulheres da favela serve como espaço de empoderamento, empreendedorismo, acolhimento, troca, e encaminhamentos. Desde meados de 2015 na Cufa Montenegro, Danielle Araújo iniciou a sua caminhada no Maria Maria para ajudar em rodas de conversa, pautas e outras necessidades, e hoje é coordenadora da juventude da entidade.

“A gente tem esse trabalho de prevenção, escuta e empoderamento. Quando eu comecei a conversar com elas (integrantes) foi bem no meu período de transição, de me reconhecer como pessoa negra. Eu entrei como uma Dani e naquele período eu mudei. Elas me acompanharam e foi muito importante isso”, relata. “A Cufa engrandece muito Montenegro. Eu fico muito feliz, e eu digo pro Rogério que sou muito privilegiada por poder participar”.

Desmistificando padrões

Rogério Santos conta que uma das missões da Cufa é desmistificar padrões, como o preconceito com a favela. “Assim como tem pessoas que fazem algo que não é legal na favela, tem no Centro, no bairro mais nobre. Assim como tem um bom profissional, tem mau profissional em todas as correntes”, declara.

A luta da entidade é para que a periferia seja visto como é, sem barreiras. “A gente está lutando pra mudar isso, porque muita gente que mora na Vila Esperança, Trilhos, Estação, ainda dá outro endereço para procurar emprego. Chegam a pegar endereço de familiares que moram em outro local”.
Santos ressalta que a Cufa não é um movimento negro, mas que possui uma leitura de base. “A base da pirâmide, a parte mais baixa é pra todos, mas onde está a maioria, como está composta? Quem faz parte da maior parte das pirâmides? São negros”, comenta. Mesmo com maioria negra, ao atendimento da entidade é focado na periferia pobre, sem distinções.

Com o espaço conquistado nos meios de comunicação, Rogério comemora a possibilidade de representatividade as favelas montenegrinas. “Quando sai uma matéria positiva sobre uma periferia pobre ou uma favela, fortalece. Eles têm orgulho disso. Isso é um grande destaque essas parcerias”, completa.

Favela contra o vírus
Seguindo o exemplo da Cufa nacional, em Montenegro a entidade criou uma rede solidária desde o início da pandemia do novo coronavírus, através da campanha #Favelacontraovirus. Com início no Núcleo Maria Maria, as ações se expandiram para todo o município e hoje já são mais de 35 toneladas de doações para periferias pobres da cidade e até de outros municípios.

Atualmente a Cufa Montenegro atende cerca de 45 pessoas por semana, e para que todos recebam os mantimentos necessários ainda é preciso suporte. Para ajudar basta entrar em contato pelos números (51) 98184-4018 e (51) 99609-9049, ou pelo email: [email protected].

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