“Crianças não devem comer doces até os dois anos”

Evento da Smec oportuniza troca de experiências entre merendeiras e oferece sugestões de alimentação saudável

“Quanto mais precoce for dado o alimento rico em gorduras, maiores são as chances de aquela criança crescer obesa e ter dificuldade de manter um peso normal”, reforçou a nutricionista Mariana Brito, palestrante do 10º Encontro Microrregional de Merendeiras 2017, que aconteceu ontem, no Instituto de Educação São José. O evento contou com diretores, representantes e merendeiras de Montenegro e 10 municípios próximos. A iniciativa foi da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec).

A proposta da nutricionista às merendeiras foi uma análise do que é oferecido de alimento aos alunos e do que elas mesmas comem. “Tudo para a criança vem a partir de imitação. Se ela vir o pai tomando refrigerante, vai querer também. Por que muitas chegam à escola já falando palavrão?”, questionou. “Costumávamos falar que a região não tem números elevados de casos de obesidade, mas quantas crianças vocês veem nas filas da merenda que também já são obesas?”, perguntou.

Os brasileiros, conforme informações levantadas pela nutricionista, são os que mais diminuíram a refeição básica do seu dia a dia, como feijão e arroz, e consomem alimentos de pacote. Nesse sentido, Mariana complementa que não há muita diferença entre as crianças, os adolescentes e os adultos. “Isso porque, em cada três crianças, uma toma refrigerante diariamente. E de dois adultos, um tem excesso de peso”, apontou, lembrando que, até os dois anos, não deveriam consumir açúcar.

Somando todos os malefícios de uma alimentação inadequada desde cedo, o impacto no crescimento do aluno também é grande. “Ele vai receber apelidos constrangedores na escola e pode ser vítima de bullying”, alertou Mariana. Mas ainda há uma alternativa para as bolachinhas recheadas e salgadinhos serem substituídos por verduras e legumes: “A maioria dos alunos não quer comer brócolis, banana e maçã, mas o biscoito, tu nem precisas oferecer.

Quem sabe vamos aderir à técnica de perguntar cinco vezes se a criança não aceita provar alimentos saudáveis?”, sugeriu a palestrante. “A primeira tentativa dificilmente vai dar certo. Mas o importante é persistir, por mais que aquele aluno já esteja acostumado com as gorduras e resista”, propôs.

VIVIANE é a nutricionista responsável pela merenda escolar da cidade

Evento uniu o útil ao agradável
A nutricionista responsável técnica pela merenda escolar de Montenegro, Viviane Vogt, ficou satisfeita com o objetivo alcançado. “Existe uma legislação que determina pelo menos uma capacitação a quem trabalha com alimentos. Então decidimos reunir municípios do entorno para fazer um único evento”, explicou.

Viviane diz que outro ponto positivo do encontro é a troca de experiência entre as participantes, pois o trabalho exige uma postura específica das merendeiras. “Não se pode usar anéis e manter as unhas pintadas, por exemplo. Então esta é uma oportunidade de oferecer leveza a elas”, comentou a profissional.

“Por mais errada que seja, a ilusão é necessária”, diz Gerta
Gerta Ziech, 48 anos, e Sílvia Junge, 49, merendeiras de Brochier, destacaram que a parte fundamental do Encontro é o incentivo. “É bom que as nutricionistas dos municípios também estejam aqui, pois elas sabem melhor do que nós o que dar aos alunos”, comentou Gerta. “Todos os anos, participamos e é dita a mesma coisa, mas infelizmente é a nossa realidade. Não tem como mudar o assunto”, ponderou Sílvia.

SÍLVIA Junge e Gerta Ziech são de Brochier e participaram de todas as edições. Para elas, a repetição e a troca de experiências valem a pena

Elas sugerem que a palestra também seja oferecida aos pais, com os mesmos dados que foram levantados na que ocorreu ontem e as mesmas orientações. “Eles dão bolachinhas para o filho levar para a escola. Daí nossa maçã fica para trás. Não sabem o que está se tornando o hábito alimentar dos alunos”, reforçaram.

Gerta diz que o melhor jeito para a criança comer alimentos saudáveis é esconder os ingredientes. “Esses dias, fiz um bolo de couve e ficou verde. Na hora do intervalo, praticamente todos os alunos me perguntaram o que era e eu disse que recebemos, na escola, um açúcar cristalizado e ficou com essa cor. Então eles comeram. Depois eu disse o que era mesmo e, em troca, ganhei carinhas de nojo, mas eles gostaram”, contou. “Por mais errada que seja, a ilusão é necessária”, concluiu.

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