AUMENTO de vereadoras e prefeitas reflete avanço gradual da participação feminina no Brasil
O aumento da participação feminina na política brasileira é um reflexo das transformações sociais em curso. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2024, o número de mulheres eleitas para as câmaras municipais cresceu 13% em relação às eleições de 2020. Em 2020, de 58.094 vagas para o cargo de vereador, 9.371 foram preenchidas por mulheres, representando 16,13% do total. Já em 2024, foram eleitas 10.603 vereadoras, ou 18,24% das 58.309 vagas disponíveis. Isso significa que, em números absolutos, houve um acréscimo de 1.232 vereadoras em todo o país.
No âmbito municipal, o crescimento da representatividade feminina também é notável. Em Montenegro, o número de mulheres eleitas para a câmara de vereadores aumentou de duas em 2020 para cinco em 2024, de um total de 10 vagas. Outro exemplo é São José do Sul, dos nove vereadores eleitos, seis são mulheres.
O avanço também é percebido nas prefeituras. No Brasil, 717 prefeitas foram eleitas no primeiro turno deste ano, um aumento de 9% em relação a 2020. Embora a proporção de mulheres no cargo de prefeita ainda seja baixa — 15,5% do total de eleitos —, o crescimento é sinal de que mais mulheres estão conquistando espaços de poder. No Rio Grande do Sul, foram eleitas 39 prefeitas, o que representa 7,93% do total. Esse percentual, embora pequeno, mostra um avanço em comparação com eleições anteriores, quando 88% dos prefeitos eleitos foram do sexo masculino.
A região de cobertura do Jornal Ibiá também testemunhou crescimento na eleição de prefeitas. Maratá reelegeu sua primeira prefeita, São José do Sul também manteve a atual gestora, e Pareci Novo escolheu ter sua primeira prefeita.
Para Cesar Hamilton Brito Goes, sociólogo e professor adjunto da Unisc, esses resultados mostram que os ventos de renovação estão se intensificando, pelo menos em termos de gênero. Ele destaca que o Brasil já teve uma mulher no cargo de presidente, Dilma Rousseff, e cita o avanço de outros países ocidentais, como o México, que recentemente elegeu sua primeira presidenta. Segundo Goes, esses avanços são parte de um movimento global rumo a uma sociedade com menos preconceito de gênero.
Com 50% de mulheres, Câmara terá equilíbrio
A Câmara de Vereadores de Montenegro, a partir das eleições de 2024, passa a ter uma composição inédita: 50% de suas cadeiras serão ocupadas por homens e 50% por mulheres. Esse equilíbrio de gênero no Legislativo local é um marco na representatividade feminina e reflete as mudanças sociais em curso. Para o sociólogo Cesar Goes, essa conquista se insere em um processo maior de enfrentamento ao patriarcalismo, que ele define como um sistema de controle profundamente enraizado na sociedade.
Goes avalia que o machismo, embora muitas vezes não reconhecido ou subestimado por homens que se consideram respeitadores das mulheres, está presente de maneira estrutural e cultural. Segundo ele, quanto mais mulheres ocupam funções políticas, mais frentes de combate são criadas contra essa tradição patriarcal. No entanto, o sociólogo pondera que, apesar do avanço numérico, as mulheres que ingressam na política precisam estar preparadas para enfrentamentos. Isso inclui resistir à pressão de um sistema ainda marcado pelo machismo, tanto em Montenegro quanto em outras partes do mundo.
Sobre o comportamento esperado dos vereadores e vereadoras nesse cenário de igualdade de gênero, Goes destaca a importância da civilidade e do respeito mútuo. Ele ressalta que a convivência no espaço público deve ser pautada pela horizontalidade, com escuta ativa e debates produtivos. No entanto, alerta que a trajetória das mulheres na política, independentemente de sua ideologia, tende a ser marcada por desafios e dissabores, como evidenciam biografias e experiências de mulheres ao redor do mundo.
Ainda assim, o estudioso aponta que, diante de uma onda conservadora, algumas mulheres podem entrar na política com discursos conciliadores ou até negacionistas. Contudo, ele observa que muitas mudam de postura ao vivenciar situações de discriminação e preconceito dentro do próprio meio político.
Para Cesar, a nova composição da Câmara de Montenegro representa não apenas um avanço numérico, mas um passo importante na construção de um ambiente mais equitativo. As mulheres eleitas, ao lado de seus colegas homens, têm o desafio de fortalecer essa representatividade e enfrentar as estruturas que ainda limitam o pleno exercício de seus direitos políticos.
Representatividade feminina e negra
A eleição de 2024 em Montenegro também teve outro momento histórico com a vitória de Fabrícia Souza, a primeira mulher negra eleita diretamente como vereadora na cidade. Nas eleições de 2020, Fabrícia já havia feito história como a primeira negra eleita suplente, mas agora conquistou o número necessário de votos para assumir uma cadeira na Câmara de Vereadores.
O sociólogo Rogério Santos, coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) em Montenegro, ressalta a importância dessa eleição, já que nunca, até então, um negro ocupou cargo no Legislativo. Segundo ele, a presença de uma pessoa negra no Legislativo traz uma mudança significativa em dois aspectos. O primeiro é que a eleição de Fabrícia prova que é possível para a comunidade negra alcançar representatividade em espaços de poder. O segundo ponto destacado por Rogério é o valor de Fabrícia como uma referência para a população negra da cidade, especialmente para as mulheres negras.
Para Santos, a eleição de uma mulher negra como vereadora é um marco que vai além do simbólico, representando uma oportunidade de inspirar e fortalecer a comunidade negra na cidade. Esse momento reforça a importância de ampliar a diversidade e a inclusão em todas as esferas da sociedade, mostrando que o caminho para a representatividade está se abrindo, mesmo diante de desafios históricos.