Cresce número de ambulantes vendendo comida

Empreendimento local comemora sucesso no ramo, mas os idealizadores afirmam que a rotina não é para todos

Reduzindo consideravelmente a taxa de desemprego do país, mais de meio milhão de brasileiros optaram por ser, hoje, ambulantes de comida. São eles que saem nas ruas, de casa em casa ou de estabelecimento em estabelecimento, vendendo seus lanches. Alguns, ainda, optam por deixar suas “carrocinhas” de comida em praças ou ruas movimentadas, comercializando a quem passa. Do terceiro trimestre de 2016 para o mesmo período de 2017, a atividade cresceu mais de 97%.

Em 2016, eles eram 253,7 mil brasileiros. No ano passado, houve um salto para 501,3 mil – quase o dobro. Os números, levantados pelo IBGE, demonstram o crescimento de um trabalho que não pede grandes investimentos ou especializações e tem apresentado boa procura. Afinal, o valor final do produto vendido pelo ambulante é, muitas vezes, mais barato do que o comercializado por estabelecimentos fixos. Com a comodidade do comércio ir até onde o consumidor está.

A rotina, no entanto, não é para todos. “A maioria é pessoal que está desempregado. Colocam a cara, porque é a solução deles, mas muitos tentam duas, três vezes, e aí já largam”, afirma o ambulante Eliseu Machado da Rosa. Desde 2007, ele, a esposa e os filhos trabalham com a venda de suco natural, salgados, sanduíches, pizzas, saladas de frutas, tortas e doces. Nas ruas, ele já é o “Tio das Pizzas” ou o “Tio do Suco” e contabiliza mais de 400 clientes fixos.

“Tio” representa bem a atual onda dos brasileiros que migram para o negócio de ambulantes – realidade que o atingiu há mais de dez anos. Ele já trabalhou em obra, foi despachante, ferreiro e motorista. Teve até uma empresa de confecções. Quando se viu desempregado, começou a vender alfajores feitos pela esposa Nara Lucia Pereira da Rosa. Com um isopor, saía pelo Centro fazendo seu comércio e foi assim que tudo começou. “Tem que saber sair de uma situação e, do limão, fazer uma limonada”, declara.

Eliseu levanta às 3h30 da manhã para sair às 8h com os produtos frescos. A rota é fixa e, muitas vezes, por volta do meio-dia, o estoque já está todo vendido. O negócio é todo familiar. O filho Emerson sai com o pai fazendo as vendas. A filha Daiana trabalha nas tortas, que são comercializadas por pedidos. A mãe Nara cuida do preparo dos produtos e doces, que também saem sob encomenda. Além dessa atividade, ela também é professora das séries iniciais do Ensino Fundamental em uma escola de Triunfo e, aqui, na José Pedro Steigleder.

Um ramo de muitos desafios, mas também de realizações

Eliseu é conhecido como “Tio do Suco” e “Tio das Pizzas” no Centro. Já são mais de 400 clientes fixos

No verão, Eliseu chega a vender 120 litros de suco de laranja em uma semana. As frutas são buscadas diretamente em um fornecedor exclusivo, cortadas manualmente e espremidas na madrugada para o suco sair do freezer de manhã, geladinho para o consumidor. As pizzas – comercializadas em diversos sabores – seguem a receita da mãe de Eliseu, que transmitiu o conhecimento de família ao filho.

Em geral, eles prezam pela qualidade da matéria-prima, tendo feito muita pesquisa, no começo do negócio, por fornecedores com bom preço e bons produtos. Nara e a filha Daiana fizeram cursos para a atividade e tudo ocorre em uma peça separada na residência da família, em um ambiente climatizado e devidamente higienizado – investimento necessário e que tem se mostrado válido, visto a gama de pedidos e o leque de clientes.

O negócio tem todos os alvarás necessários e a empresa é enquadrada como Simples Nacional. Justamente estas regulamentações legais sobre o ramo dos ambulantes são foco de queixa da família. Eles apontam que muitos dos representados pelo índice do IBGE não seguem as corretas regras tributárias e de saúde, gerando concorrência desleal.

“O que tem de gente fazendo sem documentação. Aí não pagam imposto e podem fazer mais barato”, desabafa Nara. “O sol nasce para todos. Mas é quem faz melhor que fica no mercado”, contrapõe Eliseu. Driblando a necessidade e o desemprego, a família comemora mais de dez anos de luta e dedicação neste ramo altamente competitivo. “Nós demos a volta por cima e estamos bem”, afirma o pai.

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