Há casos em que os moradores dos bairros sequer cogitam buscar por atendimento nos postos perto de suas casas
O tempo de espera na emergência do Hospital Montenegro (HM) tem preocupado a direção da entidade. São centenas de pessoas que buscam por atendimentos e as estatísticas da administração mostram que, na maioria, são casos de urgências menores ou mesmo sem urgência. E mais de 50% dos usuários são pessoas que residem em uma área onde há postos de saúde que, em tese, teriam condições de atender a essa parcela da comunidade.
Na tarde desta segunda-feira (17), a sala da emergência do HM estava mais uma vez lotada. E a pediatria ainda acomodava pelo menos seis crianças menores de quatro anos. A maioria dos pequenos, com diagnóstico de bronquiolite. “Quando há o afundamento da garganta, é caso de hospital. Do contrário, não requer internação”, explica o pediatra do HM Cleber Saffi .
O diretor administrativo do Hospital, Carlos Batista da Silveira, aponta que não tem como dar conta de toda a cidade e mais os pacientes das municípios vizinhos na emergência. O repasse da prefeitura é de R$ 358 mil/mês, sendo que maio e junho estão atrasados. Mas, para Batista, esse não é o ponto. “Melhor não ter repasses para a emergência, desde que houvesse uma retaguarda eficaz nos postos de saúde do município” desabafa.
Por outro lado, existe no Rio Grande do Sul, de modo geral, a cultura de procurar pelo pronto-socorro para mínimos casos ambulatoriais. O administrador entende que a estratégia deveria ser repensada em Montenegro. “Se for verificada essa realidade no município, temos que dialogar e a Prefeitura nos proporcionar melhorias no pronto-atendimento, nos dar mais condições para prestar os serviços”, analisa Batista.
Moradores não acreditam nos Postos
O auxiliar de produção Carlos Jardim mora no bairro Santo Antônio, mas levou a filha Isabela, de um ano 10 meses, direto para o Hospital. “Não fui ao posto e nem adianta ir. São só 13 fichas”, afirma.
Relato semelhante faz a doméstica Jociéli Bueno, moradora do Faxinal. “Meu filho se engasgou e o posto do Santo Antônio estava fechado no início da tarde”, diz a mãe de Gabriel, de quatro anos de idade.
Já a autônoma Débora Rosa mora no Aeroclube e reclama da distância da unidade básica de saúde mais próxima da casa onde reside. “Fica lá no Germano Henke. Costumo ir na Assistência, ali na Via II, mas lá tem que agendar. Vim direto pro Hospital”, diz a mãe de Lara, que tem apenas cinco meses de vida e, pela segunda vez, sofre com bronquiolite este ano.
Em casos semelhantes, há algumas semanas, a Secretaria Municipal da Saúde havia manifestado que, no total, são realizadas mais de 1.300 consultas/mês nos postos de saúde e que estava no limite de sua capacidade. Para amenizar a situação, foi retomado o atendimento noturno na sede da Secretaria. Apesar disso, a pressão sobre o HM não diminuiu.