Centenas de fiéis participaram da missa e da procissão nesta quinta-feira
Ainda tinha neblina quando os primeiros fiéis começaram a se organizar para a confecção dos tapetes das comemorações de Corpus Christi em Montenegro. Crianças, jovens e adultos trabalhavam com empenho a fim de deixar o percurso bonito para a procissão. As ruas, que receberam os tapetes coloridos feitos de serragem, flores, sal grosso, pó de café, farinha, tampinhas e outros materiais, ganharam um significado especial nesta quinta-feira: representar a fé.
Leci Maria Moraes, da Capela São José do Maratá, contou que participa há pelo menos oito anos das comemorações de Corpus Christi na cidade, e a comunidade, há mais de dez. Para ela, que coordena o grupo, o dia é uma representação de fé. “As comunidades se fazem presentes na confecção dos tapetes. Cada uma usa a criatividade para demosntrar a fé.”
Utilizando matéria-prima natural, como flores, sementes e serragem, o espaço onde foram colocados os tapetes da capela traduzia a devoção do grupo. “A gente se sente tão
gratificado depois de pronto. E quando a gente olha e percebe que conseguiu fazer tão bonito”, comemora.
Letícia Wollff, de 18 anos, e os amigos do grupo “Objetivo Novo do Apostolado Jovens seguindo o caminho de Cristo (Onda)” saíram cedo de casa para fazer os tapetes. “O nosso movimento é voltado para jovens, então temos uma missão: cada um carrega a sua e então decidimos vir ajudar e seguir a Cristo, como ele fez. Fazendo os tapetes, em procissão com a comunidade”, explica a líder juvenil.
Centenas de fiéis participam de procissão
Antes da procissão foi celebrada uma missa. Mais de 500 pessoas participaram da celebração na Catedral São João Batista.
Em sua homilia, o Bispo da Diocese de Montenegro, Dom Paulo de Conto, falou sobre o que realmente significa o dia de Corpus Christi: partilha.
“Muitos têm em mente os tapetes, a procissão e os enfeites. Mas não é só isso. Precisamos ter uma conversão para o corpo e sangue de Jesus e, consequentemente, para os nossos irmãos”, disse. “Quantas pessoas passam fome e no mundo tem tanto alimento? Deus Pai não deixa de mandar alimento, mas tantas pessoas passam fome. A exemplo de Jesus, o pão precisa ser compartilhado”, afirma.
Depois da cerimônia, os fiéis seguiram pelas ruas Olavo Bilac, Ramiro Barcelos, Osvaldo Aranha e Coronel Antônio Inácio, encerrando em frente à Catedral, onde o Santíssimo foi recebido pela comunidade. No local, o bispo coadjutor, Dom Carlos Rômulo, deu a benção final à população que acompanhou a celebração.
Tapetes tiveram referências de ações solidárias
Na rua Olavo Bilac, ainda próximo a Catedral, o Movimento de Casais Jovens (MCJ) teve uma iniciativa diferente neste ano. Além da serragem, o trecho reservado para o grupo ornamentar recebeu material de higiene, limpeza e alimentos não perecíveis, que foram doados às famílias carentes depois da procissão. “Este é um trabalho que decidimos fazer para doar para as famílias que estão passando necessidade. Em princípio vamos doar para as comunidades do Caí. Depois do encerramento da missa, a gente recolhe os alimentos e materiais de limpeza e faz a distribuição para as famílias”, detalha.
Laérte José Silveira de Melo, representante do MCJ, conta que a ideia surgiu a partir de uma reportagem do Jornal Ibiá, que mostrava a falta desses materiais nas famílias atingidas pela enchente. “É muito gratificante. Até porque não estamos fazendo isso para nós”, fala ele, apontando o dedo para o céu: “Estamos fazendo isso para Deus, então é maravilhoso. A gente se sente realizado”.
No local onde foi recebido o Santíssimo Sacramento, a praça em frente à Catedral, o altar foi organizado pelas representantes da Cáritas, entidade social que trabalha na defesa dos direitos humanos. Marlene Reidel, voluntária, conta que o trabalho para organizar o espaço começou bem antes. “Os painéis que estão lá (ela aponta para o altar cercado de imagens)foram feitos durante a semana para hoje já estarem prontos. Como a gente não é só tapete no chão, decidimos colocar as imagens em painéis e o santíssimo ter uma boa recepção.”
Na escada que leva até o altar, agasalhos foram usados para demonstrar o trabalho desenvolvido pela entidade. “Utilizamos os agasalhos para demonstrar as ações solidárias que fazemos”, explica Marlene. “Vale muito a pena estar aqui”, completa.
Origem do Corpus Christi
Com origem no século 13, a festa católica ocorre cerca de 60 dias depois da Páscoa e celebra a Eucaristia — um dos sacramentos da igreja católica que representa a transmutação do corpo e do sangue de Jesus em pão e vinho. A data é sempre comemorada numa quinta-feira em alusão à Quinta-feira Santa, quando a Igreja diz ter tido início a instituição deste sacramento na última ceia de Jesus.