Por questões de saúde, congregação pode levar religiosas a São Paulo
A história da Congregação das Irmãs Franciscanas da Conceição de Maria de Bonlanden em Pareci Novo começou em 1950, 42 anos antes da emancipação do município. Foi no dia 5 de fevereiro daquele ano que as irmãs Maria Iluminata e Erna Apolônia Graef chegaram na cidade. Dois anos depois, elas iniciaram uma escola de artes domésticas que mais tarde transformou-se na hoje Escola Municipal de Ensino Fundamental Beato Roque. Ao longo dos anos, centenas de pessoas da comunidade foram educadas na “escola das irmãs” e guardam boas lembranças das religiosas, que também cumprem outros papéis na comunidade. Porém, a presença das irmãs remanescentes Maria de Lourdes Luft, conhecida como irmã Goretti, Julita Hammes e Noemia Flach em Pareci Novo está ameaçada.
No começo desta semana, a irmã Irena Boritza, da direção provincial da ordem, esteve no município para conversar com as religiosas sobre sua possível transferência para a sede da congregação, em São Paulo. “As irmãs estão muito idosas e as vocações estão reduzidas”, explica Irena. De acordo com a franciscana, a decisão ainda não é definitiva e será levada à direção da congregação. A representante da direção provincial diz ainda que a ação é realizada pensando na saúde delas.
Porém, a visita da irmã Irena mobilizou a comunidade, que quer a permanência das franciscanas no município. Ao chegar na cidade, ela encontrou dezenas de parecinovenses em frente à casa das irmãs. Eles entoavam a música “Amigos para Sempre” e lideranças políticas também leram um manifesto dirigido às representantes da Congregação Franciscana e que foi entregue à irmã Irena.
Um dos articuladores do movimento foi o vereador Paulinho Reisdorfer. Segundo ele, mais de mil pessoas subscreveram, em menos de quatro horas, um abaixo-assinado pedindo a permanência das religiosas. “Foi um choque grande para a comunidade”, diz o vereador sobre a notícia da possível saída das irmãs. Para ele, a história de Pareci Novo está diretamente ligada às irmãs franciscanas.
Quem também destaca a importância das irmãs para o município é o chefe de Gabinete e ex-prefeito Jorge Renato Hoerlle. Ele lembra que foi no seu mandato que a escola Beato Roque e o prédio sede do Executivo foram adquiridos da congregação. “Elas não venderiam se não construíssemos uma casa para permanecerem aqui enquanto vivessem e por quanto tempo desejassem”, lembra. Ele ressalta que a importância das religiosas era tanta que a irmã Agostinha seguiu sendo diretora da escola mesmo após a municipalização do educandário.
Memórias que marcaram
Hoje com 63 anos, o aposentado Roque José Klein ainda lembra que a irmã Goretti foi sua professora na pré-escola. “Eu não tinha idade ainda, mas como meus pais moravam na frente (da escola) eu ia passar meu tempo lá”, recorda. A memória mais recente é ainda deste ano, quando Roque pensou em fazer uma festa de aniversário para a irmã Goretti, que completou 80 anos, e ela pediu que nada fosse feito. “Elas são muito simples e muito queridas”, garante.
Quem também guarda boas recordações das religiosas é Carla Elisa Klein, 45 anos. “A letrinha da irmã Goretti é perfeita. Elas também foram minhas catequistas e, no Corpus Christi, éramos os anjinhos delas”, afirma. Para a comerciante, as franciscanas fazem parte não só da sua vida, mas da vida de várias famílias em Pareci Novo. “Nas dificuldades, recorremos a elas para receber palavras de apoio e, dentro da igreja, elas também fazem seu papel”, aponta.
Carla salienta ainda a ligação dela com a irmã Goretti. “Temos uma história muito grande com ela. A Goretti é um membro da família. Se ela for embora, vou me sentir enlutada. Será uma perda muito grande que a gente terá”, garante.
Padre Inácio destaca a importância das religiosas
Nomeado para a Paróquia São José de Pareci Novo em agosto do ano passado, o padre José Inácio Steffen entende que as franciscanas possuem um papel social, religioso e cultural na história da cidade e da região. “Elas ajudam na paróquia, visitam os doentes e preparam o altar para as missas. Elas são uma presença muito positiva. São um sinal de Deus na comunidade”, avalia. Para o sacerdote, a importância delas se estende ainda para a criação da escola Beato Roque e pela formação da catequese de centenas de pessoas.
O padre Inácio destaca que a saída delas do município seria uma grande perda e salienta a mobilização da comunidade. “A manifestação vejo como algo positivo. O povo reconhece que elas foram e são importantes para a comunidade”, afirma o líder religioso. O padre Inácio lamenta apenas que a decisão da permanência ou não das irmãs fuja da alçada da comunidade. “Podemos lutar e pedir que elas permaneçam. Mais que isso não podemos fazer e a congregação entende que precisa colocá-las num lugar seguro, onde as irmãs possam tomar conta da saúde”, observa.