Como ocorre em muitas manhãs, a localidade de Serra Velha, em Montenegro, acordou com o som de motores de trator. Mas nesse sábado, 2 de abril, o movimento dos veículos não ocorreu para o preparo da terra ou para puxar a lenha que será transformada em carvão. Foi pra um desfile pelas estradas do interior. A terceira edição do “Tratoraço”, organizada pela Sociedade União, juntou dezenas de agricultores em uma confraternização que, além de reunir amigos, visou evidenciar a força que tem o campo.
“Esse é o meio dos colonos, é o trabalho deles. A gente organizou pensando nisso, porque o colono, hoje, está muito desvalorizado. Ele quase não tem apoio pra nada”, resume Evanir Sarmento Pereira, presidente da entidade organizadora. Criado em 2018, o Tratoraço mostra como as comunidades do interior sabem ser unidas. Não só da Serra Velha, juntou gente de outras localidades montenegrinas e também de municípios como Brochier, Tabaí e Paverama. “É bom que o pessoal vem participar e, quando eles fazem, nós participamos dos deles”, conta Pereira.
Na sede da sociedade, no coração de Serra Velha, foi montada uma pequena exposição com antiguidades pra mostrar a evolução que teve o trabalho no campo nas últimas décadas. Um debulhador de milho manual e uma carreta “das antigas” estavam entre os artigos expostos sob uma placa que bem resumia a natureza do evento: “Valorizar o que é do campo, nossas origens, nossas histórias, nosso trabalho, nosso futuro.”
O agricultor Juliano da Silva, de 35 anos, explica que o trator acaba simbolizando um processo de evolução pro interior, pois chegou para facilitar bastante o trabalho diário nas propriedades. “A mão de obra, o sacrifício e o tempo envolvido, antes do trator, eram muito maiores. Antigamente, tu plantava um hectare de terra; hoje, tu planta dez hectares no mesmo tempo”, aponta.
E é no contexto das transformações que o Tratoraço encontra o seu segundo objetivo: incentivar o pertencimento pra garantir que as demais gerações sigam no campo e que não aja o esvaziamento das comunidades. “Muitas vezes, as famílias não têm apoio e não têm condições financeiras. Aí, o filho acaba indo procurar emprego fora (da agricultura)”, aponta Juliano. É uma preocupação em muitas localidades de interior.
Sábado, o agricultor de Serra Velha levou os dois filhos – o Jardel, de 11 anos, e o Samuel, de 7 aninhos de idade – para desfilar com ele de trator. “Eu dou incentivo pra eles e to tentando segurar para que eles sigam com nós. O meu pai, toda a vida, trabalhou na roça. Eu trabalho desde criança e a ideia que eu tenho é de que eles sigam na profissão também”, projeta o pai. O sorriso dos meninos em cima do trator mostra que há bastante potencial pra isso.
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