Criminalidade. Compra de produtos sem procedência incentiva o furto de veículos e o abigeato
A segurança, ao lado deeducação e saúde, está entre os principais anseios e preocupações da população. Mas, frequentemente, ações de cidadãos incentivam a criminalidade e a violência. Talvez o exemplo mais latente seja a compra de produtos e alimentos, em especial a carne, sem procedência, com preços abaixo do valor de mercado, relacionado ao abigeato.
Na área de cobertura do Ibiá, desde o começo do ano, já são 19 furtos de veículos, 17 roubos também de veículos e sete abigeatos, segundo dados da secretaria de Segurança do Estado (SSP/RS). Isso sem considerar o fato de ser comum vítimas deste último crime não registrarem ocorrência.
É comum a pessoa ficar contente por ter adquirido aquele celular mais barato. Parece não saber ou nem dar bola para o fato de alguém ter tido o aparelho levado por criminosos ou do caminhão de carga de alguma empresa. Mas é responsável pelo aumento destes crimes. Se não houvesse comprador, não haveria roubo.
E isso não vale somente para esse caso específico. O furto de carros se encaixa neste contexto. Os modelos mais antigos só são alvo dos bandidos por haver um mercado de peças aquecido. Para ajudar a combater este problema, é realizada a Operação Desmanche durante a qual são fiscalizados estabelecimentos responsáveis por vender sucata automotiva.
O comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Caí, Marcelo Tadeu Pitta Domingues, salienta o fato de o comportamento de muitas pessoas não contribuir para um o aumento da segurança e do bom convívio.
Muitas vezes as pessoas tentam utilizar a chamada Lei de Gérson – os mais antigos conhecem – tentar levar vantagem em tudo, que era uma propaganda de cigarro. “Mas claro que sim, se o nosso povo fosse mais ordeiro e educado, cumprisse mais as regras de convivência, por questões não só legais e também morais, com certeza, teríamos um mundo melhor”, comenta.
Muitos produtos sem procedência são comercializados na internet a preço abaixo do mercado são fruto de crimes. “Aquela pessoa que compra mais barato não pode ter a falta de lucidez de que o produto é desviado”, acentua o oficial.
Sem se ater à criminalidade, o oficial dá outros exemplos, nem sempre seguidos. Como não dar preferência aos pedestres ao atravessarem as vias e aos idosos no transporte coletivo. Também é comum o famoso “furo nas filas”. Isso tudo dá sinais claros quanto à índole das pessoas na hora de tomar decisões comuns.
A pena por receptação de produtos do crime, vale lembrar, é de 1 a quatro anos de reclusão e multa. Na qualificada, quando o infrator mantém em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, entre outros, a punição é de 3 a 8 anos, mais multa.
Não compre carne sem procedência
A Gabardo Agro, dona de cinco propriedades na área de pecuária no interior de Montenegro, sofre com a ação abigeatários com frequência. Desde 2011, mais de 150 animais já foram levados dos locais por criminosos, totalizando um prejuízo superior a R$ 500 mil. Ao todo, são 4 mil cabeças na criação nas fazendas localizadas no Pesqueiro, Potreiro Grande, Volta do Anacleto, Bom Jardim e Fortaleza.
As formas de furtos são variadas, de acordo com o gerente administrativo, Daniel Guizzardi. Vai desde o ladrão com o objetivo de obter o sustento do vício em drogas até quadrilhas especializadas, que levam até 10 bichos de uma só vez. Uns chegam pelo rio e arrastam o gado com o barco e outros por terra. Em alguns casos, são levados vivos, em outros já carneados. Muitas vezes, são mortas vacas prenhas faltando poucos dias para parir e animais que receberam remédios sem o prazo de carência cumprido.
Guizzardi reforça o fato de o impacto do crime deixar a dúvida sobre permanecer ou não na atividade. “Hoje nós contamos com mais de 70 colaboradores e nos faz pensar se realmente vale à pena continuar na pecuária. Porque, além da desilusão de ver o ‘cara’ entrar no teu campo e fazer o que quiser, cada vez ele está vindo mais perto da tua casa. E nós temos exemplos que ele está vindo durante o dia, aos olhos de todo o mundo, longe 300 metros da casa”, conta.
A presença dos abigeatários deixa as vítimas com medo. Muitas, inclusive, não realizam o boletim de ocorrência por isso. “É um problema tão sério que um número elevadíssimo de pessoas não registra ocorrência por medo de represália. Porque já deixam avisado se denunciar, eles vão voltar, aí é complicado. Eles sempre estão armados, pois matam o gado a tiro. Então, estamos vulneráveis”, finaliza.
O presidente da Associação dos Pecuaristas do Vale do Caí (Apevale), Roberto Machado, lembra o fato de esse tipo de crime é fomentado, como todos os roubos e furtos, por existir um mercado comprador para a carne. Ele lembra a importância de os cidadãos ficarem alerta e desconfiar ao encontrar um produto bem mais barato do que o praticado no mercado.
“Se torna, inclusive, um problema de saúde pública. Onde as pessoas estão comendo carne com contaminação, sem certificação, inspeção federal. Há muito tempo estamos fazendo este alerta à população e às autoridades para ter um combate mais efetivo do abigeato”, completa o presidente da Apevale.
Machado também lembra o fato de a falsa sensação de estar lucrando com a receptação, não passar de ilusão. “A vantagem de comprar mais barato é na verdade, em um prejuízo muito grande. Pois além de incentivar o crime, a pessoa fica sujeita à aquisição de doenças, em face de estar consumindo alimento não fiscalizado”, finaliza.
Jovem teve carro furtado enquanto trabalhava
Ezequiel Ignácio, 26 anos, entrou para a triste estatística do furto de veículos em Montenegro, A Parati dele foi levada na noite do dia 2 de março, próximo à Pizzaria Ducais. A vítima estava no estabelecimento comercial, onde trabalha como garçom. Quando retornou, depois da 1h, o veículo prata, ano 1991/1992, não estava mais lá.
O carro não foi mais localizado, tampouco formam identificados suspeitos do crime. Ameniza um pouco a dor da perda o fato de a Parati já estar quitada. Por outro lado, ela não tinha seguro.
Ignácio ressalta o fato de o fim da criminalidade ser algo impossível de ocorrer. Isso aumenta importância de serem adotadas medidas de segurança, visando evitar ser a próxima vítima.
“E se pessoas de bem não forem coniventes com o crime, comprando algo roubado ou acobertando já é um grande passo que a sociedade dá no combate ao crime”, frisa o cidadão que já foi lesado.
Homem precisou pagar R$ 500 mil após fraude no IR
A sonegação de impostos é uma das faces dos desvios de comportamento das pessoas. Na área da Receita Federal de Montenegro, a estimativa é que das 70 mil declarações 1,5 mil caem na malha fina. Desses, muitos não declaram ganhos com a intenção de burlar a lei. No Brasil, dos cerca de 28 milhões são 500 mil caem.
Um profissional autônomo de Montenegro precisou pagar mais de R$ 500 mil em impostos não declarados, mais multas. A Receita tomou conhecimento do caso graças ao fato de os clientes dele terem colocado os pagamentos no IR.
O chefe da Receita de Montenegro, Mauro Medina, um fenômeno mundial, acentuado no Brasil, é de as pessoas acharem que tem direitos a saúde, segurança, educação, bem estar, não deveres, entre eles o de pagar impostos. “Segurança, educação e saúde de todos depende do pagamento de impostos de todos.”
Outro aspecto, segundo ele, é o posicionamento de avaliar já pagar um valor alto de impostos e não receber benefícios em contrapartida. “Sempre tem alguma coisa, se pensar friamente, o asfalto está ali no chão serve para todo mundo, parte do que tu pagou, certamente, está ali disponível. Pode ser que a pessoa ache que tem que ter mais”, revela.
Mauro fala ainda ter influência negativa para a quitação das pendências pela população a opinião de que os recursos são mal empregados pelo poder público e os frequentes casos de corrupção no País. A melhor forma de combater isso, avalia, é votar com consciência nos nossos representantes e denuncias os casos de desvios que tenham conhecimento.
Também é comum as pessoas não declararem o ganho sobre a venda de um imóvel. Outra estratégia é acertar com o comprador e dizer que o valor pago foi menor. Algumas vezes, a questão dos problemas na declaração ocorre por desconhecimento da necessidade. Um exemplo é o fato de quem recebe pensão alimentícia.
Programa para conscientizar os jovens
A Brigada Militar, visando formar cidadãos conscientes, promove o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), realizado também na região. Em Montenegro, somente neste ano, 415 divididos em 18 turmas já participaram da ação promovidas em escolas municipais e estaduais. Durante as palestras, são abordados temas como violência e prevenção ao uso de drogas. Quando o cidadão compra drogas, ele está financiando o tráfico e colaborando para o ocorrência de crimes.
“Muitos hoje deliquentes iniciaram suas ‘carreiras’ bem cedo. O tráfico de drogas coopta crianças e adolescentes em função do ato infracional, de não serem presos. E, a partir dali, começa um processo de crimes que segue pelo resto da vida.
A medida, atesta Pitta, tem sido eficaz. “O resultado a gente percebe em adultos já formados. ‘Bah, eu fui aluno do Proerd, que bom que eu tive aquilo’. Então, a pessoa já tem uma dimensão da questão da violência e das drogas”, conta.
O lançamento ocorreu na sede da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert), em Porto Alegre, com a presença de empresários e lideranças políticas. A iniciativa é totalmente voluntária. Peças publicitárias serão veiculadas em emissoras de rádio e televisão, jornal impresso e digital e mídias externas.
A campanha foi idealizada pelo presidente do Conselho de Acionistas do Grupo Sinos, Mario Gusmão, ganhando a adesão dos demais veículos gaúchos. Os anúncios foram desenvolvidos sem custo pela Martins + Andrade Comunicação.