Lamentavelmente, a Guerra na Ucrânia passa dos quarenta dias e, segundo o último levantamento da ONU, já culminou na morte de mais de 1.300 civis em ataques armados. O conflito também traz consequências econômicas, que afetam o mundo inteiro, inclusive a nós. Vemos isso nos preços de diferentes alimentos e dos combustíveis, por exemplo. É que Rússia e Ucrânia são relevantes exportadoras de itens como petróleo, gás natural, trigo, milho e fertilizantes. Então, sanções impostas e os próprios reflexos do conflito diminuíram a oferta mundial e jogaram lá em cima as cotações desses itens que são chave na produção de vários produtos que você consome no dia a dia.
Se sobe o combustível, sobe tudo junto
O petróleo em alta fez subir o gás de cozinha e a gasolina. Em Montenegro, o gás está na casa dos R$ 120,00. O litro da gasolina, nos R$ 6,30. O commoditie também é usado na fabricação de embalagens plásticas, que influenciam no preço dos alimentos. Além disso, a massiva maioria dos produtos comercializados no País vêm e vão por transporte rodoviário, consumindo combustível. O impacto nos itens alimentícios existe, mas, de acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, é relativamente baixo. “O frete custa, em média, 0,5% do valor do produto”, explica.
Preço do trigo encarece o pão “cacetinho”
Segundo o presidente da Agas, Antônio Longo, um impacto direto da Guerra na Ucrânia foi em razão da alta do trigo. A Rússia é a maior exportadora do produto no mundo; e a Ucrânia, a quarta – logo, ele encareceu no mundo inteiro. “Teve alta imediata de 15% nos pães e demais derivados”, aponta. Pesquisa realizada nessa segunda-feira, 4, mostra que o quilo do pão “cacetinho” já chega aos R$ 11,99 em padarias de Montenegro. Em setembro do ano passado, o produto era encontrado a R$ 9,99. A diferença é de 20%. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo, o Brasil importa quase 60% do trigo que consome – principalmente da Argentina.
Alta de custos no ovo, na carne, no leite…
Muitos países também costumavam comprar bastante milho da região envolvida no conflito. Com ele, acabaram indo buscar outros mercados – dentre eles, o brasileiro. Isso fez o preço subir num mercado que já estava relativamente aquecido. A alta – acontece parecido com o farelo de soja – acaba implicando nos custos de alimentação de porcos, galinhas, gado leiteiro e de corte. Gera um efeito cascata que impacta na carne, no ovo e no leite, dentre outros.
Proprietário de granja no interior de Montenegro, Felipe Kranz conta que a disparada do preço do milho, impulsionada agora, já tinha iniciado em 2020, quando começou a pandemia. “Depois, veio dois anos de seca. Em 2019, eu pagava num saco de milho R$ 45,00. Hoje, eu estou pagando em torno de R$ 120,00. Mais que dobrou”, denuncia. No ramo de ovos, o empreendedor rural conta que teve que reduzir a produção, já em 2020, visando segurar o preço num cenário de alta de custos. “Agora, o ovo ganhou preço, mas ainda está um pouco defasado”, aponta. Pesquisa realizada nos supermercados nessa segunda-feira encontrou a dúzia comercializada por, em média, R$ 9,00 – cerca de R$ 2,00 a mais que ano passado.
Também impactado pelo aumento dos custos de produção, o litro do leite é encontrado por, em média, R$ 4,87 em Montenegro. Em setembro de 2021 – último levantamento da coluna – o valor médio estava em R$ 3,32. As carnes enfrentam a mesma tendência. No caso do frango – setor importante pro Município – ainda há reflexo extra do aumento da demanda do mercado externo, que costumava comprar bastante a proteína da Ucrânia. O valor médio da coxa e sobrecoxa, por aqui, está em R$ 8,96. É menor, no entanto, do que o registrado em setembro de 2021 – R$ 9,32. É preciso considerar, porém, fatores locais, como promoções realizadas no momento da pesquisa. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, milho e farelo de soja representam até 80% do custo da carne de frango.
Óleo de soja é um dos impactados
Outro produto que disparou de preço foi o óleo de soja, que já tinha ficado mais caro durante a pandemia e voltou a subir por aqui. Ucrânia e Rússia respondem por 77% da exportação de óleo de girassol no mundo e, como foi reduzida a comercialização, cresceu a demanda pelo substituto – o de soja -, fazendo o preço subir. Ainda há um segundo fator influenciando o valor, que foi a quebra da safra de soja em razão da estiagem aqui no Sul, que também acabou valorizando o preço do grão. Aqui em Montenegro, essa semana, a garrafa do óleo de soja de 900 ml estava, em média, R$ 10,50. Há dois anos, estava abaixo dos R$ 6,00.
Pelos fertilizantes, até a nossa bergamota sente o impacto
Parte importante do problema gerado pela Guerra na Ucrânia está no preço dos fertilizantes. O Brasil importa 85% do que consome e, em 2021, 22% desse volume veio da Rússia (9,3 milhões de toneladas). É claro que fez o preço deles e das demais alternativas pro combate de pragas subir. Impactou o cultivo e produção de diversos alimentos; inclusive um produto tipicamente montenegrino: a bergamota. O citricultor Alexandre Alff explicou isso à coluna, em números: “Um ano atrás, eu comprei 20 litros de glifosato a R$ 320,00. Agora, paguei R$ 1.525,00.” No geral, esses insumos usados nas lavouras, como uréia, potássio e fósforo, subiram de 30% a 50%.
Tentando minimizar
Pra barrar as altas, o Governo Federal zerou a alíquota de importação de alguns produtos impactados pela guerra, pelas condições climáticas, dentre outros fatores que também vêm encarecendo a comida. Cobriu etanol, café, margarina, queijo, macarrão, açúcar cristal e óleo de soja. É tudo tão intricado que o aumento dos combustíveis gerou tendência de elevação do etanol e, com isso, mais cana-de-açúcar usada pra produzir o biocombustível em detrimento do açúcar, que acabou encarecendo. Sem alíquota de importação, é mais barato trazer o produto de fora para abastecer o mercado interno, se necessário. Outra medida recente foi a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25%. O impacto nas gôndolas, porém, ainda parece pequeno.
Dólar poderia oferecer alívio
Lendo a coluna, deu pra ver como muito do que a gente consome está atrelado a negociações no mercado internacional, né!? Daí, há um fator que deixou muitos esperançosos. O preço do dólar, em relação ao real, vem caindo nos últimos dias – o que poderia abrir espaço pra reduções nos alimentos. Dentre os principais fatores pra essa queda da moeda, está a alta taxa de juros aqui do Brasil – colocada pelo Banco Central em 11,75%, maior nível desde 2017. Ela tem atraído investidores de fora, com a maior rentabilidade oferecida, que deixam seus dólares por aqui. Além disso, também em função da guerra, muitos investidores estão saindo do Leste Europeu rumo a outros mercados, como o nosso. Faz baixar o dólar.
Os alimentos, porém, ainda não reduziram por causa disso. “Estamos com esta expectativa. É necessário que o dólar se mantenha estável nestes patamares mais baixos para que os preços reajam”, explicou o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados à coluna. O problema é que essa “estabilidade”, com a proximidade das eleições e o aumento dos juros nos Estados Unidos, possivelmente, não será alcançada. Aí, o alívio não vem.
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