Está difícil pra mim. Provavelmente, está difícil pra vocês também. A pandemia do novo coronavírus já completou um ano e trouxe com ela uma série de fatores que vêm interferindo na nossa rotina e na nossa saúde mental. Convivemos com o medo do contágio, com o distanciamento de muitas de nossas pessoas queridas, com a crise econômica, com um luto coletivo diante de tantas perdas.
As consequências ao nosso emocional variam. Vão de altos níveis de estresse e irritação, distúrbios de sono, cansaço, aumento de compulsões por bebida, comida e outras “válvulas de escape”. A ansiedade tornou-se sentimento cada vez mais recorrente; e é necessário lidar com isso. A convite do Jornal Ibiá, o psicólogo Níkolas Petry trouxe algumas orientações que podem nos auxiliar a atravessar este momento.
Reconheça que não está tudo bem
Petry aponta que não se pode negar os efeitos da pandemia. “A gente tem que estar preocupado. A gente não pode negar o que está acontecendo”, sublinha. Mas salienta que, no combate à ansiedade, é preciso entender que essa pressão não está toda em nossas costas e que nem tudo pode ser controlado. “Nós estamos em uma situação de impotência e não vamos, sozinhos, mudar o mundo”, comenta o psicólogo. “Isso tem que ficar claro pra gente; de poder assumir essa condição de desamparo em que a gente está e o que a gente pode ou não fazer.”
Entre em contato com você mesmo
Não negar o medo é entrar em contato com a gente mesmo, reconhecendo ele e também as possibilidades trazidas para lidar com ele e que podem nos fazer algum bem. O psicólogo cita práticas como a meditação como ferramentas para este fim. “É a possibilidade de olhar pra dentro. Esse tipo de situação vai nos ajudar muito, de ao invés de buscar fora, buscar algo dentro que nos acalme”, comenta.
Encontre atividades onde colocar sua energia
Atividades que nos deixem motivados e onde possamos colocar nossas energias, nos desligando um pouco dos sentimentos pesados, são imprescindíveis. Petry lista como exemplos atividades físicas; atividades culturais, como música, livros e filmes; e hobbies como cozinhar, pintar, escrever…Talvez até coisas que a pessoa nunca nem imaginou fazer. “Tem fatores positivos por trás de tudo isso de ruim; e um deles é esse de as pessoas acabarem se descobrindo, de começarem a fazer novas atividades e a gostar disso”, destaca. Segundo o psicólogo, quanto mais variado o rol de possibilidades, melhor. É que ter diversas opções é cuidado importante para evitar compulsões como a que as pessoas criam ao redor da comida ao terem nela a única alternativa para lidar com a ansiedade.
Não perca o contato com as pessoas
O ser humano precisa do contato humano; e em meio às orientações de isolamento e distanciamento social para conter a disseminação do coronavírus, isso pode estar fazendo falta. Segundo o psicólogo, mesmo que por vídeo-chamada feita pelo celular, é importante continuar mantendo as pessoas próximas. “Não digo só fazer uma chamada pra saber se está tudo bem, mas poder conversar mesmo. Conversar sobre coisas antigas”, coloca. Dá pra usar a criatividade. Por que não um jantar a distância? Por que não assistir a um filme com seu amigo do seu lado, mesmo que só por vídeo-chamada?
Respire
Tá difícil? Pare um pouco. Foque no ambiente. Puxe o ar pelo nariz de forma lenta e profunda e solte pela boca devagar.
Saiba quando buscar ajudar
Petry indica que, antes de buscar um auxílio profissional para lidar com a ansiedade e os sentimentos ruins, a pessoa pode buscar o auxílio de outras pessoas. “Eu digo de familiares, de amigos. É essencial”, aponta. Se abrir, conversar, trocar experiências é importante. “Em segunda instância é o auxílio profissional, psicólogo, psiquiatra, que é quando o sofrimento chega a um ponto em que eu já não consigo fazer as coisas do meu dia a dia”, explica o psicólogo. É preciso estar atento à intensidade e a frequência dos picos de ansiedade, mas jamais hesitar em buscar ajuda.
– Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, de antes da pandemia, já apontava o Brasil como o país mais ansioso do mundo, com 18,6 milhões de pessoas convivendo com o transtorno. Também, era o quinto país mais depressivo.
– Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde entre abril e maio do ano passado mostrou que a ansiedade foi o transtorno mais citado no período, com 86,5% dos entrevistados relatando sofrer com o problema.
– Em Montenegro, segundo a Prefeitura, houve aumento de 300% nos atendimentos na área de saúde mental entre abril e junho de 2020.