Comida sem veneno: natureza já tem seu próprio adubo

Orgânico. Adubação verde usa o capim; e a harmonização de culturas garante uma proteção

Preocupados com a saúde, os brasileiros fazem crescer o mercado de alimentos livres de venenos e adubos industriais. A adesão dos agricultores à produção orgânica também avança, especialmente entre os pequenos, aumentado a oferta no mercado. A teoria é simples: substituir os químicos pelos nutrientes que a própria natureza possui; em um ciclo de troca entre os elementos orgânicos nativos e os cultivados.

Palha do milho que estava plantado virou adubo e ainda retentor de água no solo

Vale o ditado que “nada se cria, tudo se transforma”. O capim de hoje, que atrai os insetos predadores para si, mantém cobertura no solo e faz sombra às hortaliças menores, depois é cortado para virar adubo e retentor de água. A horta também teu seu ciclo harmonioso, com vegetais diferentes plantados lado a lado, servindo primeiro de sobra e depois de fertilizante natural ao encerrar seu ciclo.

Entre esta silagem de capim que apenas foi roçada e jogada no chão, Haas fará o plantio direto

Esta aula a respeito foi ministrada pelo agricultor Norberto Jorge Haas, que há 20 anos se dedica ao cultivo orgânico em Vapor Velho. Ele é um dos muitos produtores da região que migraram para o sistema, e que se organizam em associações para dividir experiências e buscar a certificação da Rede Ecovida. Essa união garante ainda a presença em feiras especializadas, inclusive na Capital.

Mas Haas fez questão de iniciar contando sua história, recordando que, ao lado do pai e irmãos, fazia roçada e capina em propriedades de terceiros, além da plantação própria. A gota d’água caiu em sua consciência quando o homem que os contratava foi hospitalizado em estado grave após optar em pulverizar o mato com veneno. “Vou procurar alternativas”, pensou na época.

Manejo e conhecimento
A produção ecológica na propriedade iniciou em 1999, e segue em constante desenvolvimento. Haas salienta que o primeiro desafio é recuperar os nutrientes após anos de agressão que a terra sofreu, com capina devastadora e aplicação de químicos. “O manejo do solo é fundamental na agricultura”, reforça, referindo-se a alternar culturas, descansar a terra e manter o equilíbrio naquele ecossistema criado.

Plantio intercalado usando os corredores do pomar é forma de proteção ao solo

As primícias são a adubação verde, alicerçada em saber observar e interpretar a natureza. A erva que predomina, por exemplo, diagnostica a saúde daquele solo. Umas surgem na terra forte, outras de degradada. Então, é deixá-las crescer incorporados à horta, entre, sobre ou nas beiradas dos canteiros. Como cada um tem seu ciclo, ao encerrar ela cumprirá sua missão de devolver ao solo os nutrientes que captou.

Também entre hortaliças, a mais forte defende a mais fraca do sol e da chuva

“Após sete anos começou a dar resultado, que se nota no sabor e na qualidade”, diz Hass a respeito dos citros. No início ele colocava 20% da produção na venda direta ao consumidor. Hoje, toda sua safra de frutas é vendida nas feiras especializadas e também para agroindústrias ecológicas, que produzem sucos, alimentos e essências. “É um trabalho que foi lento”, admite.

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