Ecológico. Cetam ensina que alimento saudável surge do equilíbrio entre natureza e plantio
A busca por uma alimentação mais saudável está tirando as pessoas de sua zona de conforto, fazendo moradores da cidade se somar aos agricultores que acreditam nesta forma de cultivo. Plantar sem agrotóxicos e evitando agredir o meio ambiente é prazeroso, todavia trabalhoso e demorado para colher frutos, inclusive financeiros. Uma balança que acaba pendendo de forma favorável ao plantio natural ao verificar que as soluções estão na própria natureza, e que essas reduzem outros custos.
Na agenda de cursos do Centro de Treinamento de Agricultores de Montenegro (Cetam) o curso de Horticultura Agroecológica tem boa procura. Mas, apesar da vertente profissional da instituição, as turmas são formadas principalmente por não agricultores. O engenheiro agrônomo Sandro Trevisan Fidler – um dos professores do curso – observa inclusive uma saída considerável do morador urbano em direção ao campo. Os motivos giram entre busca por uma alternativa econômica em tempos de desemprego ou simplesmente trocar o estresse por uma atividade em local tranquilo e com os pés e mãos energizadas na terra.
Todavia, a opção por comer algo sem veneno está no norte de quem toma essa decisão, inclusive daqueles que cultivarão suas hortas urbanas. O conhecimento que os alunos buscavam tem relação com um retorno ao passado dos bisavôs, que reconheciam a função de cada elemento no ciclo de vida da natureza. Assim, plantar de forma organizada significa usar em seu favor as ervas espontâneas, a sobra de outras plantas, o capim como fortificante do solo e retentor de erosões, e a ação dos insetos predadores de pragas que de fato se alimentam de plantas.
Profissionais da cidade colocam a mão na terra
De fato é mais demorado alcançar um resultado positivo na agricultura orgânica. Mas, depois que o sistema está criado, colher os frutos é mais prazeroso, inclusive pelo trato direto com a terra ser terapêutico. O resultado financeiro também pode ser compensador, seja pelo aumento da procura pelos orgânicos, como pela redução de custos com venenos e máquinas que este sistema pede.
Engenheiro elétrico aposentado, o montenegrino Ricardo Alemar está empolgado em iniciar sua horta em casa, no bairro Progresso. Há tempos ele consome frutas e legumes da banca de orgânicos da Casa do Produtor Rural, mas agora quer colher seu próprio tomate. “Quero cada vez mais as coisas ecológicas, do que cheias de veneno”, define.
Há seis anos Juliane Cabral comprou um sítio no interior de Guaíba, atividade que ainda precisa dividir com o trabalho de veterinária na cidade. Após dois anos, o pomar de Oliveiras em sistema agro-florestal vingou e agora conviverá com hortaliças e criação de abelhas. “É um modo de vida. Não é um sistema produtivo. São escolhas de valores que cultivamos e pretendemos passar aos nossos filhos”.
De Barra de Ribeiro veio o engenheiro mecânico aposentado Odilon Borges, que há três anos planta hortaliças. Ele optou por transformar em um negócio, já comercializada em feiras de Porto Alegre e em 2019 deve receber selo de certificação. “Vivemos em uma época em que consumimos boa parte dos alimentos com níveis de contaminantes que estão interferindo em nosso organismo. E este é um legado que podemos deixar para nossos filhos e netos. Alimento saudável é vida”, finalizou.
Insetos para controle de pragas são vendidos vivos
“Não vamos matar as aranhas”, decretou Fidler, ao lembrar que elas não têm o menor efeito nas plantas. Nesta convivência visando a saúde dos cultivos, observar e aprender são fundamentais para aplicar o equilíbrio. É possível deixar mato nos canteiros, mas também pode ser necessário fazer um manejo para ele não tomar conta.
A vegetação natural nas entre linhas dos canteiros e pomares garante as “ilhas de refúgio para insetos benéficos”, onde este mato se tornar alternativa de alimento, evitando que ataquem a plantação. O agrônomo explica que o controle biológico já é, inclusive, comercializado pelas mesmas empresas que fabricam os venenos.
Ele recordou o exemplo da “mosca minadora” nos citros, que veio, provavelmente, entre itens importados dos Estados Unidos. Ela não tem predador natural no Brasil, então a alternativa será importar agora o inseto que se alimenta desta mosca. “O ciclo de um inseto mata o outro”, reforçou.