Tem crescido bastante a procura pelo item em todo o Estado. Vantagens são claras
A casa dos Derlam, na localidade de Faxinal, teve uma manhã de quarta-feira bem quentinha. Se na rua, Montenegro, enfim, presenciava um verdadeiro dia de Inverno, com temperaturas na casa dos dez graus centígrados, lá dentro o lar era aquecido por um equipamento “das antigas”, mas que vem sendo cada vez mais procurado nas lojas especializadas: o fogão a lenha.
Dados divulgados no início deste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2018, 1,4 milhão de famílias gaúchas optaram pelo item para cozinhar, em substituição ao fogão a gás. Foram 79 mil residências a mais na comparação com o mesmo levantamento realizado em 2016 e, segundo lojistas locais, o número deve aumentar mais ainda neste ano.
É o que conta a gerente de loja Luana Kord. “Aqui tem tido bastante procura, principalmente pelos modelos mais diferenciados”, relata. Um fogão a lenha todo pintado de amarelo acabou de ser vendido pelo estabelecimento, provando a tendência pela aquisição do item também com o viés decorativo. Eles têm saído até mais que as lareiras.
Luana avalia que o comércio, como um todo, vinha esperando o frio que deu as caras nessa semana. Com a #VemFriozinho, sua loja preparou promoções especiais só para estes dias, já se antecipando pela previsão dessa chegada de frentes frias à cidade. Ali, têm fogões de todos os tipos, tamanhos e cores. O preço varia dos R$ 800,00 aos R$ 3.800,00.
Quem vive da lenha, agradece a vinda do frio
“A gente ainda está esperando o frio”, declarou a comerciante Veridiana Alves Borges na manhã de ontem, ainda pouco confiante de que os dias de Inverno tenham chegado para ficar. As previsões já indicam, afinal, que o calor volta ainda nessa semana.
Moradora do Centro, Veridiana e a família vivem da venda de lenha. Ela é proveniente da propriedade do sogro, na localidade de Fortaleza, que planta acácia e eucalipto e tira parte da produção para a venda avulsa. No frio, eles ficam de caminhão às margens da RSC-287 fazendo as vendas.
“E tem boa procura. Já vendi para gente de Sapucaia, Novo Hamburgo, Sapiranga. O pessoal para e pega”, destaca a comerciante, já há cinco anos no ramo. Ela clama pela intensificação do frio para que as vendas melhorem.
Ali, cada saco de lenha está saindo por R$ 4,00, com cerca de 20 pedaços. Veridiana aponta que, em casa, cozinha o almoço no fogão à lenha consumindo meio saco para a refeição. “Do jeito que tá o preço do gás, já é uma economia”, garante.
Se aconchegar ao redor do móvel não tem preço
Economistas explicam o aumento da procura pelo fogão à lenha como consequência da alta do gás de cozinha, que torna o item mais em conta. Na casa dos Derlam, seu Erny, de 84 anos de idade, e dona Nelma, de 78, sentem essa diferença. Na localidade do interior, eles mesmo coletam a lenha necessária pelos arredores de casa para abastecer o fogão. Vai muita sobra de podas de bergamoteiras, por exemplo, para fazer a comida. Isso gera uma bela economia.
Mas a preferência pelo fogão do tipo, por ali, vai muito além do bolso. O filho do casal, Paulo Derlam, que vive com os pais, conta que a família está sempre em volta do móvel nos dias frios, aconchegada junto ao calor. “No Inverno, a gente fica só aqui. Ele esquenta toda a casa”, destaca. O fogão acaba sendo um verdadeiro ponto de encontro e de união.
E se engana quem pensa que o fogão de campanha dos Derlam só é aceso no inverno. Até no verão, os moradores só fazem o almoço nele. É que a comida acaba ficando com um gostinho todo o especial, quando cozida a partir da queima da lenha. “Ela cozinha mais demorada ali, então o sabor é outro”, relata Paulo. Aí, nos dias quentes, o jeito é abrir a casa para deixar o calor se dissipar.