Cultivo de orgânicos virou válvula de escape nos difíceis meses de pandemia
Pela casa, salada, pepino em conserva, feijão em conserva, morango congelado, geleia de morango, suco de morango; até paleta mexicana feita com a fruta. O cultivo de moranguinhos e verduras orgânicas feito em casa pelo montenegrino José Luis de Campos, de 53 anos de idade, tem dado tão certo que ele e a família precisam se desdobrar pra aplicar a produção em diferentes receitas e também compartilhá-las com amigos, vizinhos e parentes. Esses são os frutos de um trabalho que nasceu de uma curiosidade desse morador do bairro Cinco de Maio; e que, rapidamente, tornaram-se uma grande paixão.
“Eu nunca tinha plantado nada, eu não tinha ideia de como isso funcionava; mas um dia, era início de 2020, nós tínhamos ido tomar um café na Casa do Produtor e lá eu vi esse pé de moranguinho. Acho que me apaixonei pela plantinha”, lembra Campos. “Saindo dali, nós compramos a mudinha, deu as frutas, passou um tempo e já tinha um monte de pezinhos novos. Foi como eu me interessei pelo cultivo e comecei a estudar sobre os morangos, principalmente pelos benefícios deles, que têm uma capacidade antioxidante muito boa.”
Mas o 2020 que despertou o interesse do montenegrino na fruta, também foi o ano do início da pandemia de coronavírus. Começaram as restrições, o medo e as incertezas que, por meses, dominaram a grande maioria das pessoas. Trabalhador na área de produção no Polo Petroquímico de Triunfo, Campos acabou vendo naqueles primeiros pezinhos de morango uma válvula de escape pra lidar com a ansiedade pelo que estava ocorrendo em sua volta. “Paramos de circular, de conviver com as pessoas; e eu vi que tinha que descarregar a minha energia em alguma coisa”, relata. Foi quando começou a se dedicar efetivamente ao que virou a sua “horta na laje”, em cima do anexo de sua residência.
Muito aprendizado
Aproveitando conhecimentos de formação, em química e em engenharia da produção, o montenegrino conduziu o empreendimento por vários estágios. Começou plantando os morangos em caixas, mas logo percebeu que o formato lhe prejudicava a coluna. Então, levantou uma estrutura de madeira – até marcenaria, ele precisou aprender – e iniciou a produção dentro de slabs; bolsas plásticas cheia de terra preparada por ele mesmo. Com a criação de um sistema de irrigação que distribui facilmente a água entre as bolsas, a produção bombou. “Dá uns morangão que são a coisa mais linda do mundo. Eu até acho que já estou produzindo demais”, brinca o produtor.
Somados aos que foram cultivados em potes de sorvete, são quase 400 pés de morango em produção na laje. “Eu acabo dando morango para todo mundo”, diz Campos. E não parou neles. O montenegrino também introduziu na horta itens como tomate, pimentão, alface e temperos. Ele destaca, especialmente, a produção de feijão de vagem e a de pepino. “Ano passado, eu cheguei a colher quinze, vinte pepinos por dia. Todo dia tinha”, conta, satisfeito.
O jeito, daí, foi procurar aprender o que dava pra fazer com tanta produção. “Eu tive que aprender a fazer conserva de feijão e conserva de pepino. Isso é um grande barato do negócio, de ir perguntar pra um, pra outro, pesquisar na internet e ir desdobrando”, sublinha.
O manejo é exclusivamente orgânico
Os bons resultados da produção na laje do bairro Cinco de Maio são fruto dos cuidados de Campos com a sua produção. “Eu trato elas como crianças. Vou lá, cuido, controlo, faço a irrigação. É um trabalho de tempo”, conta.
A abundância da horta passa pela qualidade da adubação da terra, com as composteiras que o montenegrino produziu, com tonéis, no pátio de casa. Num sistema simples, mas eficaz, ele e a família depositam resíduos orgânicos – cascas de frutas e afins – nos tonéis que estão cheios de terra e de minhocas. São os animais que atuam na decomposição do material, culminando na liberação do chorume. O material é diluído em água e então vai pra adubação. “Dá uma média de 150 litros de adubo a cada quinze dias”, aponta o montenegrino. Funciona super bem!
O manejo, por lá, é todo orgânico; sem o uso de agrotóxicos. “Não faria sentido eu estar trazendo veneno pra casa. Hoje, eu posso levar a minha neta ali em cima pra ela pegar um morango e comer sem a preocupação de estar lavando”, declara. “Isso, pra mim, é fundamental”. Assim, é com o olhar atento e constante que ele vai fazendo podas e controlando a produção de eventuais pragas. A ideia do produtor para este ano é tornar o ciclo ainda mais sustentável, criando um sistema de captação de água da chuva para a irrigação da horta na laje. “É basicamente o que está faltando agora”, pontua.
Em meio às frutas, verduras e legumes, Campos fala com orgulho da paixão que descobriu quase que por acaso; e pra qual se dedica já há dois anos. “Isso, pra mim, tem me dado muito prazer. Tu realmente se sente realizado”, declara. “Não é nem pela colheita, mas de ver a flor, de ver o ciclo da vida. A dedicação me causa muita satisfação.” Que ele sirva de inspiração para muitos mais!