MAS ATENÇÃO. Alternativa também deve passar por reajustes
O encarecimento da carne tem assustado o consumidor nas últimas semanas. Com um reajuste médio que já passa dos 30% – alguns cortes encareceram bem mais – muita gente tem comprado só o estritamente necessário. Pudera, com o preço tão alto, varejistas relatam dificuldades até para segurar ofertas da proteína; e, no dia a dia, a fila nos açougues está bem menor do que o esperado para essa época do ano. Acaba que, na outra ponta, um outro segmento tem sido impulsionado pelo fenômeno: a procura pelos ovos cresce na região.
“Geralmente, esta época apresenta um declínio no número de pedidos, o que não está acontecendo”, relata a diretoria da Naturovos, de Salvador do Sul, em nota à reportagem. “É difícil dizer com certeza que é um reflexo somente do aumento da carne, mas podemos apontar como um dos fatores para este evento.” A empresa é uma das principais indústrias de ovos do Estado, mas o reflexo dos reajustes também é sentido pelos pequenos produtores.
Na Granja Kranz, agroindústria montenegrina da localidade de Alfama, em Montenegro, a percepção é a mesma. “Eu não consigo calcular em porcentagem o quanto de aumento teve, mas tem, sim, uma procura maior”, conta o proprietário, Felipe Kranz. “Hoje, também nota-se uma busca do cliente por qualidade e se ganha mercado com isso, mas é claro que essa influência da carne ajuda bastante no aumento do consumo de ovos.”
Só que apesar dos bons ventos para o setor, é consenso entre os empresários que o produto também está encarecendo. O próprio aumento da demanda é fator esperado para uma futura alta dos preços, de acordo com a Naturovos. Mas, hoje, o valor da proteína já tem sido pressionado pelos custos da produção.
“O aumento é puxado pelo preço dos insumos da ração, que são vinculados ao dólar; e ao início do inverno nos Estados Unidos, o maior produtor de milho do mundo”, explica a empresa. “O grão é a base para a alimentação das aves e os estoques do milho ficam pressionados até janeiro, quando começa a safra brasileira.” Na Granja Kranz, Felipe calcula que seus custos já subiram 10% na última semana.
Enquanto isso, a carne segue cara
Sobre as carnes, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) emitiu nota afirmando que a elevação nos preços não é sustentável e que ele deve refruir “em algum momento”. Notícia relativamente boa, não fosse a ressalva da entidade de que os preços não devem voltar aos patamares que estavam em maio e junho deste ano.
A alta da proteína tem como principal fator o aumento das exportações para a China, país onde os rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína africana, forçando a busca por outras opções exportadas. Com os chineses pagando bem e com o dólar em alta, os ganhos aos produtores brasileiros tornam a exportação mais atrativa do que a venda aos frigoríficos locais. Isso reduz a oferta interna e encarece o produto por aqui.
Um exemplo é o da chuleta que, há quinze dias era encontrada com o preço médio de R$ 16,99 no varejo montenegrino e que, agora, já beira os R$ 24,00, O fenômeno acaba sendo sentido mais na carne bovina, que é mais consumida, inegavelmente, mas também pode ser percebido na compra do frango e dos suínos. O encarecimento ainda vem junto de uma alta que já é tradicional para esta época de festas de final de ano, o que torna a situação ainda mais complicada.