DOENÇA transmitida por uma cigarra mata lentamente as árvores frutíferas
Uma praga letal aos pomares de fruta atravessou o Oceano Atlântico e desde 2004 se espalha pelo Brasil. A “Geening” ou “Huang Long Bing” (HLB) é uma doença causada por bactéria transportada por espécie de cigarra, que se estabelece nas folhas da árvores, sendo identificada em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. “E agora chegou em Santa Catarina também”, alertou o secretário de Desenvolvimento Rural de Montenegro, Ernesto Kasper.
Ele é integrante da Câmara Regional de Citricultura e esteve na comitiva que entregou relatório ao prefeito de Montenegro, Gustavo Zanatta. Como atual presidente da Associação dos Municípios do Vale do Caí (Amvarc), os agricultores pedem que Zanatta interceda junto ao Governo do Estado, que é o responsável pela fiscalização fitossanitária. Há uma necessidade urgente de evitar que o vetor cruze a fronteira, dentro de cargas de laranja vindas de São Paulo.
Kasper explica que é preciso aperfeiçoar muito o controle, sendo que a Câmara sugere que o Rio Grande do Sul imponha duas exigências: a lavagem das laranjas na origem e fiscalização minuciosa na descarga da fruta. O secretário recorda que após alerta da praga em pomares do Brasil, o Departamento de Defesa Vegetal veio fiscalizar as plantações e frutas daqui, ao invés daquelas que entram. “Ela mata a árvore, bebendo a seiva”, simplifica Kasper, apontando que as frutas também são afetadas.
Essa é considerada a mais destrutiva doença da citricultura e ainda não tem cura. Diante do quadro grave no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, a Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) lançou em fevereiro a campanha “Greening é coisa séria”. Levantamento realizado em 2021 confirmou a praga em seu maior índice médio, de 22,37%, com registros de seis ou sete em cada 10 laranjeiras adultas doentes.
Encontro preventivo no Vale
No dia 18 de outubro, às 8h30min, no auditório da Estação Cultura em Montenegro, reunião com a presença de técnicos da Secretaria de Agricultura do Estado, responsáveis pela fiscalização fitossanitária e pela política de controle do Greening. Dabte sobre construção de possíveis estratégias para evitar que entrada da doença no pomares gaúchos.
Ataque da bactéria pode derrubar 64% dos pomares
O assessor Técnico Regional da Emater, Marcos José Schäfer, participou da elaboração e da entrega do relatório da Greening. Ele reitera que é a mais devastadora doença dos citros, sendo que o estudo prevê perdas que podem alcançar 64% da produção regional de laranja, bergamota e limão.
Schäfer alerta ainda para a dificuldade de evitar sua disseminação através do manejo, experiência comprovada em São Paulo e em Minas Gerais. A maneira encontrada de matar o inseto vetor foi a pulverização semanal de inseticidas, que, além de pouco eficiente, tem alto custo econômico e ambiental. Sem cura, resta a erradicação por meio da derrubada das plantas infectadas.
“Estamos em diversos espaços buscado a ampla divulgação dos cuidados que precisamos ter para que esta doença não seja introduzida no Rio Grande”, reforça. Schäffer concorda que a principal ferramenta é reforçar a fiscalização sobre a entrada de mudas cítricas, da planta ornamental Murta e das cargas de frutas com folhas e ramos.
Estado garante ações de proteção
O diretor do Departamento de Defesa Vegetal, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado (SEAPDR), Ricardo Felicetti, reitera o monitoramento permanente de pragas de citros em pomares. Além de fiscalizar sintomas nas plantas, procura pelo inseto vetor. “São efetuadas fiscalizações de trânsito de material vegetal para identificação do ingresso de cargas irregulares, bem como o controle da aquisição de mudas de citros oriundas de outros estados”, afirma.
Segundo ele, a limpeza das frutas na saída de São Paulo já é exigida (Portaria Mapa Nº 317 de 2021), estabelecendo ainda a retirada de folhas e ramos. O regramento exige ainda a certificação dos pomares dos quais as laranjas são oriundas. Também o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária desenvolve ações de pesquisa para a proteção fitossanitária; e o Departamento de Políticas Agrícolas e Desenvolvimento Rural dialoga com o setor produtivo.
“Contudo, o trabalho de fiscalização e políticas públicas é infrutífero se não houver a conscientização dos produtores e dos serviços envolvido”, aponta Felicetti. Ele classifica como fundamental a utilização de mudas certificadas, a aquisição de produtos vegetais regulares e a precaução e atendimento às exigências fitossanitárias.
Sobre a doença
A Geening, ou “doenças do ramo amarelo”, é causada pela bactéria “Candidatus Liberibacter”; transmitida pela cigarra (Psilídeo) Diaphorina Citri, presente em todo o Brasil, embora em menor quantidade no Rio Grande do Sul. Causa manchas de coloração verde claro e verde escuro nas folhas e frutos, deformação de frutos, amarelecimento de ramos, queda de folhas e frutos com morte de ramos e depois a morte das plantas. No processo, vai diminuindo a produtividade e a qualidade.