Cinco anos após serem adotadas no Brasil, placas Mercosul dividem opiniões

EFICAZES OU NÃO? Sem nome do município e podendo ser retirada facilmente, placas geram dúvidas

As placas do Mercosul começaram a ser implementadas nos estados brasileiros em 2018. A promessa era melhorar o patrulhamento e fiscalização das fronteiras entre os países que fazem parte do Mercosul. Além disso, as mudanças têm por objetivo evitar fraudes envolvendo emplacamentos de veículos. Mas, após cinco anos da implementação, mudanças em aspectos da composição, dividem a opinião de motoristas e especialistas em trânsito sobre a “nova” placa.

Para a condutora Luana Korner, fazer a leitura é um dos principais problemas apresentados pela placa. “É ruim misturar letra com número. Não gostei, acho que precisamos saber de qual cidade é o carro, isso não deveria ter sido mudado. Só facilitou para quem está fazendo coisas erradas”, opina.

Julio César do Nascimento trabalha com plataformas de guincho, ele diz que a questão da placa não informar o município de origem do veículo tem dificultado seu trabalho. “A gente não sabe de onde são os veículos, ainda sabemos distinguir o que é das prefeituras e caminhões, por exemplo, por que as cores são diferentes”.

Para Julio a retirada do lacre das placas também é visto como fator negativo, pois facilita furtos. “Um malandro pode tirar a placa do meu carro, colocar em outro do mesmo modelo e cometer um crime. Como vou explicar à polícia que não era meu carro?”, exemplifica.

O capitão Felipe dos Santos Valandro, comandante da 1ª Companhia de Policiamento do 5º Batalhão da Polícia Militar, corrobora com a opinião de Julio. “Existem alguns pontos negativos, um deles é a retirada da localidade, dificultando a identificação de veículos vindos de outros municípios, sendo semente possível está informação após consulta ao sistema. Outro ponto negativo foi a retirada do lacre, que gera maior facilidade da retirada dessas placas de veículos regulares para colocação em veículos em situação de furto e roubo”, justifica.

O empresário Wagner Andrade concorda que seria melhor se as placas mantivessem o nome das cidades, mas, fora isso, ele garante que não vê problemas. “Gosto de padronização, gosto de mudanças e atualizações. Para mim foi bom, não tenho problema em relação a ler, não mudou nada”.

Especialista em trânsito e membro da Brigada Militar, o tenente Fernando Pastorio afirma que as placas Mercosul apresentam diversos benefícios que justificam a mudança. Para ele, a segurança aparece entre os primeiros itens da lista. “Foi uma boa mudança, sob a óptica dos requisitos de segurança que ela oferece, além da visualização à noite quando no patrulhamento ou fiscalização ao ser iluminada”, explica.

Valandro também destaca o quesito segurança. Segundo ele, foram incluídos novos elementos de rastreabilidade que dificultam a clonagem. Além disso, apesar de num primeiro momento o policial não saber a origem do automóvel, o emprego da tecnologia amplia a quantidade de informações a serem consultadas no ato da fiscalização. “Com a implementação foi facilitada a fiscalização para o policial que, na hora da abordagem ao veículo, tem a possibilidade de fazer o escaneamento do QR code contido na placa e verificar todos os dados do veículo e as informações relacionadas à fabricação da placa”, completa Valandro.

Existem outros benefícios, segundo os PMs

O tenente Fernando Pastorio é especialista em assuntos de trânsito. Foto: arquivo Jornal Ibiá

Para o tenente Fernando Pastorio, a facilidade de remoção da placa é tido como ponto positivo, pois o próprio dono do veículo pode fazer a remoção, em caso de necessidade, sem que esteja cometendo nenhuma infração. “Se for preciso transportar uma bicicleta no suporte traseiro, por exemplo, elas podem esconder a placa. A placa Mercosul pode ser retirada e colocada diretamente no suporte, para que possa ser visualizada pelos agentes de fiscalização”, aponta o especialista. “Esse exemplo também se ajusta às caminhonetes que precisam circular com cargas volumosas, que exigem a utilização de um extensor de caçamba”.

O tenente diz ainda que há questão de economia envolvida na substituição das placas. “As placas tradicionais têm uma tarja com a cidade e estado onde o veículo foi emplacado, com o advento da nova placa, nas mudanças de proprietário, esse, não precisa arcar com custos da compra de uma nova tarjeta, nem com o valor desse serviço de substituição junto ao Detran”, explica.

“O novo modelo em formato que mescla letras e números dificulta a memorização, mas a Brigada Militar se atualizou e criou um aplicativo para uso interno que possibilita a rápida fiscalização, fornecendo dados importantes como furto e roubo, veículos com restrição de circulação entre outros aspectos relevantes a fiscalização”, conta o tenente.

“Outro ponto a ser frisado é que a placa Mercosul torna o processo de identificação de veículos muito mais ágil, eficiente e moderno, seguindo o padrão utilizado em outros países que fazem parte do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai”, completa o tenente.

Capitão Felipe dos Santos Valandro. Foto: Arquivo pessoal

Ponto que requer atenção
Conforme o capitão Felipe dos Santos Valandro, desde a concepção do projeto de placa única no Mercosul, anunciado no Brasil em 2014, pela resolução 510 do Contram, as placas passaram a perder dispositivos de segurança e identificação que dificultariam a falsificação e clonagem de veículos.

Fernando Pastorio enfatiza que quando ocorre alteração no padrão da qualidade das plascas, estipulado pela legislação há uma infração de trânsito, por isso o proprietário precisa ficar atento. Contudo, os agentes da Segurança afirmam que o trabalho policial para identificação de veículos clonados passa por constante processo de aperfeiçoamento. “Além da fiscalização nos itens de segurança que cada placa traz, como por exemplo o QR code que foi implementado para suprir a retirada do lacre, existe outros fatores que a fiscalização consegue identificar que aquele veículo está em situação irregular”, cita Valandro.

Mudança nas placas
No ano passado, o Ministério da Infraestrutura coletou a opinião dos motoristas sobre as placas do Mercosul, através de consulta popular. Com isso, começaram especulações sobre possíveis mudanças. Mas, órgão disse que a consulta foi para ouvir a sociedade civil. Dessa maneira, foi apenas para saber como está sendo a recepção por parte dos cidadãos.

Sendo assim, não há previsão concreta se a placa irá realmente mudar. A possibilidade de mudanças não passam apenas pelo governo brasileiro, mas devem ser discutidas com outros membros do Mercosul.

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