Municípios batem a média do Estado, mas nem sempre atingem suas projeções. Ainda é preciso evoluir mais
Criado para mensurar o desempenho do sistema educacional brasileiro e estabelecer metas para a melhoria do ensino a partir da combinação entre a proficiência obtida pelos estudantes em avaliações de larga escala, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e a taxa de aprovação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi divulgado no início deste mês pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os dados apontam altos e baixos nos índices da região.
Ao comparar o desempenho das cidades com a meta estabelecida e a atingida na média Estadual, os números são animadores. Porém, quando a comparação é com a projeção esperada para cada município, nem todos mostraram o avanço esperado pelo Inep. Por exemplo, nos Anos Finais, o Ideb de São José do Sul ficou em 4,6. O valor é maior que a média do Estado, que ficou em 4,4, mas não atinge o índice de 5,7 projetado para o Município.
Conforme o secretário de Educação, Cultura, Desporto e Turismo de São José do Sul, Sidnei Gustavo Schommer, o dado no Município é estimado e não real. “Até o ano passado, pelo pequeno número de alunos nas turmas de nossas escolas, não éramos obrigados a participar das avaliações externas”, observa. “O índice preocupa, mas em função de ser uma estimativa, e não uma amostragem real, nos deixa um pouco mais tranquilos e com a certeza de trabalhar sempre mais na melhoria da educação de nossas crianças”, pontua.
Apesar disso, a Secretaria já está atenta para os critérios utilizados no cálculo do índice. “Sabemos que o Ideb é gerado levando em consideração a avaliação nestas provas (Prova Brasil e Saeb) e o censo escolar, em que são consideradas repetências e evasões escolares. Não tivemos nenhum registro de evasão escolar em 2017 e o número de repetências ficou bem baixo”, afirma Sidnei. O secretário reforça que a pasta já está se organizando para a inclusão das turmas da rede municipal nas avaliações externas do próximo ano e que uma reestruturação organizacional está sendo planejada para 2019 com o intuito de melhorar o funcionamento de toda a rede municipal de ensino.
Os dados revelados pelo Inep mostram que, nas Séries Iniciais, apenas Montenegro e Pareci Novo chegaram no índice projetado: 5,7 e 6,4, respectivamente. Pareci Novo também se destaca por ter tido a maior pontuação da região nas Séries Finais: 5,3. Para a secretária de Educação de Pareci Novo, Carla Specht, o resultado é fruto do trabalho de muitas pessoas e do comprometimento dos profissionais da área. “Buscamos continuar avançando e ter o índice de acordo com o projeto já dá conta de que estamos no caminho”, observa.
Lembrando que a pasta utiliza o Ideb como parâmetro e que, atualmente, está discutindo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a secretária diz que ter o Ideb “em dia” já é um bom começo para as discussões sobre Educação no Município.
O cálculo do Ideb obedece a fórmula onde as notas das provas (Saeb e Prova Brasil) de Língua Portuguesa e Matemática são padronizadas em uma escala de zero a 10. A média destas duas notas é multiplicada pela média das taxas de aprovação das séries da etapa (Anos Iniciais, Anos Finais e Ensino Médio), que, em percentual, varia de 0 a 100. Pela própria construção matemática do indicador, para elevar o Ideb, as redes de ensino e as escolas precisam melhorar as duas dimensões do indicador, simultaneamente, uma vez que a natureza do Ideb dificulta a sua elevação considerando apenas a melhoria de uma dimensão em detrimento da outra.
Colégio Paulo Chaves tem melhor desempenho entre escolas de Ensino Médio
Enquanto a avaliação do desempenho dos Anos Iniciais e Anos Finais leva em conta dados levantados em escolas da rede municipal e também na rede estadual, o índice do Ensino Médio leva em consideração apenas a rede estadual, uma vez que é responsabilidade do Estado oferecer tal nível de ensino. A projeção do Inep era de que o índice no Ensino Médio no Rio Grande do Sul chegasse a 4,8. Porém, o número atingido foi de apenas 3,4. De fato, conforme o Inep, nenhum Estado atingiu a meta esperada para 2017. No entanto, os municípios da região ficaram com indicadores acima da média estadual.
O maior destaque foi Maratá, que alcançou 4,4 pontos no Ideb. Diretora da única escola de Ensino Médio da cidade, o Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves, Elisângela da Silva Oliveira está feliz com o resultado. “Estamos acima da média do Estado, mas não atingimos a meta. Embora as dificuldades, o quadro de professores está engajado com a educação dos alunos”, assegura. De acordo com a diretora, são 74 alunos matriculados no Ensino Médio – outros 110 estão no Ensino Fundamental.
Como ponto positivo do desempenho da escola, Elisângela aponta o baixo índice de reprovação, bem como o de evasão escolar. Ela observa que os casos de evasão são bem específicos, ocorrendo com alunos maiores de idade que tentam retomar os estudos e não se adaptam. “Em parceria com os pais buscamos resgatar esses alunos e temos tido sucesso”, comenta. No Colégio Paulo Chaves, as aulas do Ensino Médio acontecem apenas à noite.
A diretora salienta que o engajamento dos professores para com os estudantes é recíproco. “Os alunos também são muito engajados”, garante.
Elisângela destaca ainda a boa qualificação dos professores (75% deles possuem especialização) e a procura por projetos e parcerias para melhorar o aprendizado dos alunos. “O maior desafio é manter a motivação para que eles tenham êxito. É uma alegria na época do vestibular ver alunos aprovados e até recebendo bolsas (de estudo)”, afirma.
Januário Corrêa entre as 10 melhores do Estado
A notícia do bom desempenho da Escola Estadual de Ensino Fundamental Coronel Januário Corrêa, do bairro São João, em Montenegro, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), foi recebida pela equipe da instituição por meio da reportagem do Ibiá. Diretora da instituição, Paula Müller ficou sem palavras ao saber do resultado.
Os indicadores mostram o empenho de toda a comunidade escolar, que agora comemoram os 6,2 pontos obtidos pelos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental. O resultado colocou a instituição na lista estadual dos 10 melhores índices nos Anos Finais. A escola ultrapassou, em 2017, a meta imposta à instituíção para 2021, quando o educandário precisaria atingir a nota 6. Nos Anos Iniciais, a nota foi de 6,6 e a projeção apontada era de 6,5.
De acordo com a professora Dani Boos, o que mais faz a diferença para estes resultados é o trabalho dos professores dentro da sala de aula. “A equipe diretiva cobra bastante dos professores e, da mesma forma, exige bastante dos alunos. É preciso ‘vestir a camisa’”, aponta Dani. Já a diretora acredita que a valorização do aluno, para que ele seja parte fundamental da escola, é outro ponto favorável.
O educandário aposta firmemente nas regras e exigências, como é o caso do uso obrigatório do uniforme. “Para quem não tem condições ou tem um imprevisto com a roupa, há uma reserva de uniformes para empréstimo”, revela Dani. “Dá muito trabalho manter esta cobrança de regras, mas há um resultado positivo”, diz a supervisora Lourdes Fazenda. Esse trabalho tem dado tão certo que, em 2018, nenhum aluno desistiu de frequentar as aulas, ou seja, não há registro de evasão escolar este ano.
Com uma qualidade elevada no ensino, pais levam os filhos à Escola Coronel Januário Corrêa por meio de indicações feitas pelos que já conhecem o método de ensinar aplicado pela equipe. “É a manutenção de um trabalho que vem sendo feito há 18 anos. Agimos de forma democrática, dando espaço para opiniões e sugestões, e também expomos os problemas para a equipe resolver em conjunto”, revela a diretora Paula.
Conforme Paula, Dani e Lourdes, os recursos recebidos pelo Estado e pelo Governo Federal são bem aplicados na escola. As salas possuem ar condicionado, há monitoramento em todos os ambientes e também monitoramento externo. A única espera e desconforto é em relação à quadra de esportes, que está sem cobertura e pintura. Conforme a direção, a quadra menor será reformada com recursos da escola e a maior espera recursos do Estado.
Brochier tem números conflituosos
Enquanto possui o melhor desempenho da região em Língua Portuguesa e Matemática na prova de larga extensão do 9º ano e melhor média em Matemática na prova do 5º ano, Brochier também apresenta, conforme dados divulgados pelo Inep, o menor indicador de rendimento na taxa de aprovação nas Séries Iniciais e nas Série Finais dos municípios da região. O Município atinge, respectivamente, 0,89 e 0,65. Assim, Brochier acabou com um índice de 5,8 nos Anos Iniciais e de 4,7 nos Finais.
Coordenadora pedagógica de Brochier, Glaé Machado salienta que o Ideb é computado por vários fatores, incluindo aí taxa de reprovação, evasão escolar e transferência de alunos. Ela entende que o índice do Município poderia ser melhor e que a evasão não é um problema significativo. “Há muita transferência e migração de alunos”, observa. “As famílias estão trocando de cidade e isso faz com que os alunos repitam não por falta de conhecimento, mas de adaptação”, coloca. A coordenadora reforça que, para consolidar o processo de aprendizagem, o aluno precisa criar um vínculo e estabelecer relações na escola.
Apesar disso, a Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Desporto e Turismo (SMECDT) celebra o desempenho observado na rede municipal. O Plano Municipal de Educação apontava como meta que as escolas atingissem, nos Anos Iniciais, um índice de 5,5, o que foi batido pela Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Emílio Bauer. Na avaliação individual, o educandário de Linha Pinheiro Machado alcançou 5,9 pontos. Na Emef Leonar Ricardo Bauer, o índice atingido foi de 5,3. “Precisamos trabalhar em cima das metas e o pessoal está empolgado por tê-las atingido”, destaca a secretária Claudine Haupenthal. Ela reforça ainda que o Executivo tem feito investimentos importantes em materiais e também no quadro de funcionários que vem apresentando resultados.
A diretora da escola Emílio Bauer, Anelori Keller, diz que bater a meta mostra que o educandário está no caminho certo. “Tem coisa para melhorar, mas estamos no caminho. Temos que assumir o compromisso de manter e melhorar ainda mais o índice”, destaca. Conforme ela, a escola atende a 140 alunos desde a Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental. Anelori entende que o resultado no Ideb é fruto do comprometimento entre escola, família e comunidade.