Pedal. Montenegrino sofre com problemas de saúde desde os 14 anos
O esporte muda a vida de muitas pessoas, melhora a autoestima, é importante para a saúde e transforma o medo em desafio. Para o montenegrino Carlos Wallauer, 32 anos, o ciclismo é uma verdadeira terapia, mesmo que pratique como hobby e não por fins competitivos. Aos 14 anos de idade, ele perdeu a audição. Há quatro anos, descobriu que estava com depressão e, posteriormente, foi diagnosticado com esclerose múltipla.
É no ciclismo que Wallauer encontra sua paz, desde pequeno. Seu pai era apaixonado por bicicletas, mas também não competia. “Acredito que a paixão pelo esporte vem de família. Meu pai tinha diversas bikes, todas ornamentadas, com farol, dínamos, enfeites e uma pintura que ele mesmo fazia, deixando traços marcantes no quadro. Quando eu era pequeno, gostava de ‘pilotar’ uma bike que ele tinha no seu quarto”, relembra.
Aos oito anos de idade, Carlos aprendeu a andar na bicicleta de uma prima. No entanto, só foi ter uma bike própria aos 12 anos. “Como minha mãe não tinha condições financeiras para comprar uma para mim, juntei dinheiro e mais um rádio ‘3 em 1’ que encontrei na rua e troquei por uma bicicleta. Com essa idade, ia até São José do Sul visitar minha avó. Era uma aventura. De lá para cá, tive dezenas de bikes”, ressalta.
Devido a uma meningite, Carlos perdeu a audição quando tinha 14 anos de idade e ficou meses afastado do ciclismo. “Minha família não queria que eu andasse de bike, por não escutar. Mas não adiantou muito, fui teimoso e andava até escondido”, admite Wallauer.
“Quero somente pedalar, no meu ritmo, superando todos os medos
e os limites.”
Carlos Wallauer
Ciclista de Montenegro
O montenegrino passou a se envolver ainda mais com o pedal aos 19 anos, quando começou a fazer uma pesquisa com um primo. “Passei a ir aos cemitérios da região de bike. Lembro que saía de casa pela manhã e voltava só à noite, com uma mochila e um caderno. Não levava ferramentas, câmera e nem celular – artigo de luxo na época. Chegava a percorrer 60 quilômetros em um único trajeto. Entrava em cada ‘biboca’ do interior… Mas felizmente nunca ocorreu nada grave comigo”, comemora.
Na região, há muitos ciclistas que participam de campeonatos em nível estadual e até nacional. Carlos afirma que já foi convidado para competir, mas esse não é seu objetivo atualmente. “Já até pensei em competir, mas não tenho essa ideia no momento. Apenas ando pela liberdade e sem precisar apostar corrida com ninguém. Quero somente pedalar, no meu ritmo, superando todos os medos e os limites. Meu desejo é comprar uma bike ‘speed’ (de corrida), mas pelo custo, vou adiando e fico na bicicleta de mountain bike”, salienta.
“Enjoado de ficar em casa, resolvi investir no ciclismo”
Movido a desafios, Carlos Wallauer sofreu mais um duro golpe em 2014, quando descobriu que estava com depressão e, pouco tempo depois, médicos detectaram que o ciclista estava com esclerose múltipla (doença que causa lesões nos nervos e distúrbios na comunicação entre o cérebro e o corpo). Foi aí que o esporte ganhou uma importância ainda maior em seu cotidiano.
Os problemas de saúde serviram como “combustível” para Carlos investir no pedal e ir cada vez mais longe. “Enjoado de ficar em casa, resolvi investir no ciclismo. Comecei a comprar bicicletas melhores, roupas, capacetes e acessórios de segurança. Cada vez que saía para pedalar, ia mais longe e sempre sozinho. Nunca andei em grupo”, reforça.
Com o passar do tempo, o ciclismo se tornou uma terapia na vida de Carlos. Ele já andou por todos os 19 municípios do Vale do Caí e passou por cidades do Vale do Sinos, do Vale do Taquari, da região metropolitana e da Serra. “Acredito que se não fosse o ciclismo, eu nem vivo estaria mais. É uma forma de colocar para fora a depressão e me sentir valorizado. Meu pedal mais longo foi até Colinas. Foram 157 quilômetros percorridos (ida e volta de Montenegro), em pleno inverno, num frio de 3 graus”, conta.
Recentemente, o montenegrino de 32 anos fez um pedal até Canela, na Serra, o qual considera o mais desgastante até hoje. “Apesar de ter ficado lá, foi muito cansativo. Peguei chuva torrencial em Vale Real, tive sorte que minha mochila era impermeável. Foram 40 km debaixo de chuva. Tive que guardar o aparelho auditivo e o celular na mochila. Acabei não conseguindo me orientar, passei o acesso e fui parar no trajeto mais longo”, detalha.
O ciclista conseguiu sair a 18 quilômetros de Gramado, onde já tinha sol. Porém, ele considerou ainda mais difícil esse trecho, já que a estrada não tem acostamento e é caracterizada por muitas subidas. Foram 136 quilômetros percorridos em oito horas e meia. No retorno, pela BR-116, encarou a chuva novamente e demorou 12 horas até chegar a Montenegro. “Foi cansativo, mas gratificante. Muitos me perguntam se tenho medo, mas meu maior medo é não viver de verdade”, complementa.
No próximo ano, Carlos Wallauer tem planos de pedalar para fora do Estado e até do País. “Quero ir para o Uruguai. Até pensei em fazer esse pedal ano passado, mas por motivos pessoais, não consegui. É uma das minhas maiores ideias para 2019, assim como ir a Santa Catarina”, finaliza.