Centenas de pilotos formados no Aeroclube projetam Montenegro para o mundo

Aos 22 anos de idade, Ângelo Viegas se prepara para entrar no avião atento a todos os detalhes. Checa o óleo, o combustível, as asas, todos os diferentes instrumentos. Em sua mente, não consegue deixar de lembrar do pai que, sempre em que a oportunidade se apresenta, lhe conta a história de quando pegou um Ângelo ainda bebê, de apenas nove meses de idade, e o levou para um primeiro vôo. “A partir dali, tudo começou a vir pro lado da aviação”, destaca o jovem piloto privado, recém formado no fim do ano passado. “Minha ideia é seguir carreira.”

Histórias de paixão e das mais diversas experiências no mundo da aviação, como a desse montenegrino, são contadas, aos montes, por quem está e por quem passou pelo Aeroclube de Montenegro nos 80 anos de existência que a entidade completou nessa semana. Nascida como a administradora do Aeródromo Municipal – a história dos dois se entrelaçam – a entidade consagrou-se como uma importante escola de pilotos que é referência em todo o Brasil. Formou, só na última década, cerca de 250 profissionais, que totalizaram 20 mil horas voadas em cursos de piloto privado, piloto comercial, piloto de planador e de instrutores de voo em avião e planador. E alçando altos voos, essas centenas de alunos projetam a nossa Montenegro para o mundo.

“Eu vejo que o Aeroclube de Montenegro é único e singular, não só no Rio Grande do Sul, mas Brasil afora”, comenta o piloto de helicóptero João Guilherme Ferreira Alves, de 39 anos, que teve a primeira oportunidade na área dentro da entidade montenegrina. Natural de Brasília, hoje ele trabalha numa empresa dos Estados Unidos, atuando numa operação junto à Guarda Costeira Norte-Americana. “Eu sempre faço questão de estar presente quando posso.”

Mais abaixo no globo, do Panamá, Alan Wagner Alf concorda com o colega. “O Aeroclube de Montenegro foi peça fundamental na minha vida profissional. Me proporcionou curso de piloto privado, comercial, instrutor de voo e, com essa experiência, se abriram outras portas”, conta. Copiloto de linha aérea da Copa Airlines, ele tem 28 anos de idade e é natural da cidade gaúcha de Crissiumal. Mora no país da América Central carregando as lembranças dos tempos na Cidade das Artes.

Dentro do Aeródromo do Município, o Aeroclube possui doze aeronaves e oferece cursos variados para quem queira realizar o sonho de voar; todos homologados pela Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac. Em diferentes níveis – e demandando determinadas horas de vôo – a entidade forma pilotos de planadores, helicópteros e aviões que começam como privados e seguem se habilitando para serem pilotos agrícolas ou comerciais. E vêm alunos de todos os cantos do Brasil que encontram, por aqui, um alojamento preparado para ser seu lar durante o curso.

“Eu tive o grande prazer de morar por três anos em Montenegro e fazer parte dessa família chamada Aeroclube”, destaca o paranaense Everton Franco, de 31 anos, que hoje é piloto agrícola em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. “Levo o nome de Montenegro dentro do meu coração, sempre. Faz parte da minha vida”. O Aeroclube tem capacidade para alojar 20 alunos simultaneamente.

PILOTOS ENVIARAM VÍDEOS HOMENAGEANDO A ENTIDADE

“Os alunos se tornam uma família!”

O Aeroclube já é consagrado como uma importante escola de pilotos. E para atrair alunos de todo o Brasil e conseguir continuar relevante no coração e nas lembranças de quem formou, a entidade precisa ter um diferencial. Para o atual presidente, Marco Aurélio Dietrich, o Lelo, o grande destaque é bem claro. “O atrativo que o pessoal se encanta é a maneira como a gente trata o aluno. Os alunos se tornam uma família”, pontua. “Eles moram aqui e é como se fosse a casa deles. Eles têm contato direto com os aviões, participam do dia a dia da aviação. É um dos nossos diferenciais.”

A relação é tão boa que é no boca a boca que muitos dos novos alunos descobrem a escola de Montenegro. “Só pra citar um exemplo, nós temos um piloto formado do Mato Grasso que chegou aqui com 17 anos de idade. Ficou três anos e hoje está voando por lá, no município de Nova Mutum. Ele indicou um amigo dele que veio agora, fez o curso de piloto privado conosco e está retornando em janeiro para dar sequência”, conta Lelo.

E sempre que podem, os pilotos retornam para rever amigos e instrutores. “Pra mim, é uma satisfação pessoal”, admite o presidente, que pilota desde a adolescência e fez seu primeiro voo no aeródromo montenegrino em 1978. “Todos eles vêm aqui, batem um papo. Contam histórias. Isso é muito gratificante e é o que mantém a gente aqui”, pontua. Exemplos disso estão nas histórias de pilotos que, vindos pelo Aeroclube, conheceram a esposa em Montenegro e constituíram família; ou também nos muitos do ramo agrícola que, na entressafra, voam de volta para o local de sua formação para um reencontro anual com colegas que comemora o trabalho realizado. Ano após ano, a família só cresce!

Na entressafra, pilotos agrícolas voltam para um reencontro anual. Sai até costelão. FOTOS: ACERVO DO AEROCLUBE

Lá de cima, a família desfruta das belezas da cidade e região

O clube é de todos! Também é DELAS!

Dentre as muitas histórias da família Aeroclube em meio a esses 80 anos, está a de Dóris Baierle, hoje com 26 anos de idade. Ela é natural de São Sebastião do Caí, mas mora atualmente em Minas Gerais, onde trabalha como piloto da empresa Azul. Entrou na escola montenegrina com apenas 17 anos de idade. Acabou obtendo sua licença para pilotar antes mesmo de tirar a carteira de motorista.

“Foi uma coisa que veio de mim desde a infância. Eu era pequena e ainda operava a Vasp, a Varig, e passavam aquelas aeronaves maravilhosas por cima de minha casa no Caí. Ali era um ponto que a gente chama de ‘fixo’ e elas precisavam passar por ele para fazer o procedimento no Salgado Filho”, lembra Dóris. “Eu já sabia até o horário em que o avião passava e corria pra janela. Assim eu ia acompanhando durante anos.”

Dóris tinha 17 anos
quando começou a pilotar

O interesse virou paixão e deu espaço ao sonho de uma carreira que lhe colocasse próxima das aeronaves. A jovem, primeiro, considerou ser comissária de bordo; depois, se interessou pela aviação militar e, buscando cada vez mais informações, optou, de vez, pela formação civil. Foi quando, bem perto de casa, ela ingressou no Aeroclube de Montenegro. “Eu ainda precisava de autorização dos meus pais para fazer as horas de voo, já que não tinha completado os dezoito anos ainda”, recorda. Seguindo as regras da Anac, Dóris só pôde fazer seu primeiro voo solo após a maioridade.

Hoje em plena carreira, a piloto avalia ter tido sorte por ter encontrado as pessoas certas em seu caminho e nunca ter sofrido discriminação por ser uma mulher numa profissão que muitos ainda atrelam aos homens. “Meus colegas de trabalho sempre tiveram muito respeito comigo. Ainda tem muito mais homens do que mulheres (na aviação). Mas quando eu comecei, tinham menos mulheres e, hoje, nós somos muito mais. Está crescendo e elas estão sendo muito bem aceitas no meio”, pontua.

E assim como é para centenas de outros, Dóris pode voar para onde for, mas sempre levará consigo o lugar onde tudo começou. “Eu sempre me senti em casa no Aeroclube e fiz muitas amizades que guardo no meu coração até hoje. Ele foi fundamental porque foi minha porta de entrada; e esse amor pela escola perdura em todos nós que fizemos parte”, destaca a profissional formada em Montenegro.

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