Levantamento do IBGE quantifica a variação, traduzindo em números a rotina de quem vive no campo em todo país
Cultivar a terra e torcer para que o clima colabore faz parte da rotina de produtores rurais como Alexandre de Oliveira Almeida, 28 anos, morador de Vendinha, no interior de Montenegro. Embora as dificuldades do setor, que às vezes independem da ação de quem trabalha no campo, como as condições meteorológicas, ele gosta do que faz. Alexandre chegou a tentar a vida na cidade, morou em Caxias do Sul, onde trabalhou como soldador por mais de dois anos, mas decidiu voltar às origens.
Natural de Montenegro, Alexandre voltou a trabalhar ao lado do pai, Atair de Oliveira Almeida, 54 anos. Eles cultivam hortaliças e citros e cuidam de uma banca na Casa do Produtor Rural. Na avaliação de ambos, a situação no setor agropecuário está começando a melhorar. “As vendas estão um pouco melhores, mas as verduras sentiram muito com o frio, com a geada se perdeu muito”, acrescenta Atair. Para eles, no entanto, esses problemas em decorrência do clima não ser sempre favorável fazem parte da vida de quem depende do agronegócio.
A vida de pessoas como Alexandre e Atair ilustra os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo Agro 2017. Os resultados preliminares revelam que há 1.211 estabelecimentos agropecuários em Montenegro, em uma área total de 27.937 hectares. Em relação ao Censo Agro 2006, essa área cresceu 9% e o número de estabelecimentos reduziu em torno de 25%. No Estado e no país, também ocorre essa variação. No Rio Grande do Sul, houve crescimento de 6,6% na área e redução em torno de 20% no total de estabelecimentos; no Brasil, a diferença positiva foi de 5% na área, e foi apurado decréscimo de 2% no total de estabelecimentos.
Em Costa da Serra, interior de Montenegro, Débora Biachi Falleiro produz hortaliças ao lado do marido, Jorge Moisés Griebeler. Ela salienta a opção por uma produção agroecológica, preservando os recursos naturais e cultivando alimentos mais saudáveis. “Temos a natureza como parceira”, resume a agricultora.
Débora observa que o mercado nesse segmento está em crescimento, pois as pessoas estão mais preocupadas em se alimentar de forma saudável. Ela percebe ainda que a consciência sobre a importância em preservar o meio ambiente também está cada vez maior. Sua expectativa é reduzir custos de produção para que os artigos tenham preços mais acessíveis, o que certamente aumentaria a demanda. Para isso, Débora defende a união dos produtores agroecológicos em cooperativas. “Assim reduziríamos alguma despesas em comum, como de transporte, por exemplo”, acrescenta.
SAIBA MAIS
Existência de telefones em estabelecimentos agropecuários
Montenegro – 1.144 (94%)
Rio Grande do Sul – 325.045 (89,04%)
Brasil – 3.193.775 (62,96%)
Existência de internet em estabelecimentos agropecuários
Montenegro – 410 (33,85%)
Rio Grande do Sul – 150.074 (41,11%)
Brasil – 1.425.323 – (28,10%)
Pouco mais de 30% têm conexão com a internet no interior
O avanço na tecnologia levou mais conforto e facilidades aos moradores do meio rural. Residindo no interior desde sempre, o produtor Atair de Oliveira Almeida acompanhou essa evolução. Natural de Três de Maio, ele mudou para Montenegro há mais de três décadas. Lá, no município da região noroeste do estado, ele também morava no meio rural e sempre trabalhou no cultivo da terra.
Atair acompanhou as mudanças no setor ao longo dos anos, enquanto seu filho, Alexandre de Oliveira Almeida, é de uma geração favorecida com recursos que deixaram de ser privilégio de quem mora na zona urbana. “Hoje se tem mais tecnologia, é mais fácil”, resume o pai. Alexandre observa, no entanto, que existem limitações, pois ainda há algumas operadoras de telefonia celular e serviços de internet que nem sempre funcionam no interior.
Sua observação vai ao encontro dos números do Censo Agro 2017, realizado pelo IBGE. Conforme a pesquisa, 410 unidades de agropecuária de Montenegro têm acesso à internet, o equivalente a 33,85%. Alexandre faz parte da maior fatia, que ainda não tem esse serviço, mas planeja conectar-se à rede em breve. O índice apurado em Montenegro é inferior ao do Rio Grande do Sul, onde 41% dos estabelecimentos têm acesso à internet. No Brasil, porém, o índice é menor, ficando em 28,10%.
O serviço de telefonia, no entanto, tem números melhores. Em Montenegro, 94% dos estabelecimentos agropecuários têm telefone. A queixa de Alexandre, no entanto, é que nem todas as operadoras funcionam no interior, o que limita as opções dos moradores.
NÚMERO DE UNIDADES AGROPECUÁRIAS E ÁREAS NO VALE DO CAÍ
Alto Feliz: 443 estabelecimentos; 5.058 hectares de área
Barão: 736 estabelecimentos; 8.218 hectares de área
Bom Princípio: 616 estabelecimentos; 4.559 hectares de área
Brochier: 710 estabelecimentos; 7.369 hectares de área
Capela de Santana: 384 estabelecimentos; 13.627 hectares de área
Feliz: 593 estabelecimentos; 4.158 hectares de área
Harmonia: 446 estabelecimentos; 3.394 hectares de área
Linha Nova: 329 estabelecimentos; 4.432 hectares de área
Maratá: 521 estabelecimentos; 6.284 hectares de área
Montenegro: 1.211 estabelecimentos; 27.937 hectares de área
Pareci Novo: 377 estabelecimentos; 3.142 hectares de área
Salvador do Sul: 419 estabelecimentos; 6.966 hectares de área
São José do Hortêncio: 269 estabelecimentos; 3.082 hectares de área
São José do Sul: 351 estabelecimentos; 3.286 hectares de área
São Pedro da Serra: 218 estabelecimentos; 2.085 hectares de área
São Sebastião do Caí: 622 estabelecimentos; 5.169 hectares de área
São Vendelino: 153 estabelecimentos; 1.546 hectares de área
Tupandi: 492 estabelecimentos; 3.987 hectares de área
Vale Real: 125 estabelecimentos; 1.440 hectares de área
Fonte: Censo Agro 2017 – IBGE