Contato inicial do jovem com a fé Católica, este momento da vida cristã passou por adequações de metodologia
Na fé cristã, é por meio da catequese que os jovens são introduzidos na religião, aprendendo sobre a Bíblia e as práticas da Igreja Católica. É por meio de encontros periódicos com as catequistas, que eles vão descobrindo e aprofundando sua fé. A tarefa, no entanto, não é fácil. Um jovem – e uma família – de 20 anos atrás, afinal, não têm o mesmo perfil de hoje. Por isso, algumas adaptações de metodologia foram necessárias.
Em Montenegro, o pároco da Catedral São João Batista, Diego Knecht, explica que a primeira transformação identificada foi a do que abordar nos encontros da catequese. “A catequese, hoje, é a base da fé. Antes, isso era um papel da família. Agora, muitos chegam sem nada, nem sabendo o sinal da cruz”, ressalta. Muitos dos jovens, inclusive, já não são inscritos para serem catequizados por influência de familiares. “Muitos veem o coleguinha fazendo e querem fazer também. Eles que são a forma de entrada da família na igreja”, conta o padre.
A partir deste ano, uma psicóloga ficará à disposição para que os catequizandos sejam encaminhados em uma eventual necessidade. Além disso, as catequistas passarão a visitar as casas das famílias como forma de entender a realidade de onde vem a criança e criar uma maior proximidade. Todas as mudanças são indicações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A idade de entrada do jovem na catequese também mudou. Desde o ano passado, ele não é inscrito mais na faixa dos 10 aos 11 anos de idade. Começa mais jovem, entre os 9 e os 10. Iniciam ali 28 encontros semanais de 1h30 de duração, que começam em abril e vão até setembro do ano seguinte, com uma pausa para as férias de verão. Feita a primeira eucaristia, o catequizando já emenda com o processo da crisma – etapa seguinte que, antigamente, tinha início quando o jovem chegava aos seus 15 anos de idade.
Com o aluno mais jovem, a forma do ensino mudou. “Antes era doutrinal. Ele decorava os mandamentos, o sacramento, a oração. Tipo uma aula”, explica a catequista Joseane Pithan Endres, que já conduz turmas de catequese há 15 anos. “Ali ele só decorava e saía vazio”, completa. Desde 2010, a metodologia começou a ser adaptada aos poucos, seguindo como referência a obra do Padre Leomar Brustolin, que recupera uma forma de catequese praticada nas origens da igreja, mas que acabou sendo substituída: a forma catecumenal.
Método para vivenciar a fé
“Hoje é tudo bem lúdico. De a gente trazer coisas palpáveis para eles enxergarem”, coloca Joseane, sobre o método catecumenal. Todo encontro tem uma atividade e um objeto que auxilia neste entendimento mais prático. As catequistas organizam doações e visitas em asilos com os catequizandos. Todo mês, ainda, eles participam de uma celebração junto da comunidade. “É para eles verem que a catequese não ocorre só naquele lugar fechado. Está acontecendo essa transformação”, completa o padre Diego.
Também catequista e com 10 anos de experiência, Rosimeri Maria Grosz ressalta a proposta de que os participantes sempre levem os temas discutidos nos encontros para dentro de casa. “A gente envolve a família, dialogando e também trazendo a aprendizagem para os dias atuais”, ressalta. Em uma ocasião, por exemplo, a passagem da Bíblia sobre a sogra doente de Pedro foi a oportunidade para um diálogo sobre a situação dos hospitais em nosso país.
As cinco salas da catequese na Catedral também foram repensadas para a vivência do novo método. Fugindo do formato de uma sala de aula, os alunos sentam-se em uma única mesa quadrada que simboliza, de acordo com o padre, a colocação dos apóstolos de Jesus. Cada turma tem, no máximo, doze integrantes para possibilitar um bom andamento dos encontros e um melhor atendimento.
Desafios de lidar com os jovens são cada vez maiores
A catequista Joseane conta que cada turma é uma caixa de surpresas, com alguns grupos sendo mais desafiadores do que outros. “Ser catequista é uma vocação”, declara. Como as companheiras de atividade, ela alia sua vida pessoal e profissional com os períodos em que “leciona” sobre a fé aos jovens montenegrinos.
É estimulado que, nos encontros, o telefone celular fique guardado, o que nem sempre acontece em uma geração ultraconectada. A catequista Rosimeri lembra que, recentemente, pediu uma pesquisa sobre Madre Tereza para que os catequizandos fizessem em casa. Logo, um deles chegou para ela com todo o trabalho pronto realizado no celular. “Ele já veio com o telefone e a pesquisa feita”, recorda, apontando outra das mudanças de perfil com surgidas com o passar dos tempos.
Joseane frisa que, indo além da religião, a catequese busca instituir outros valores no jovem ainda em formação. “A gente traz muita experiência nossa. Sempre digo para eles que o mundo está aí fora e vai oferecer muitas coisas. Que eu já tive a idade deles e que eles precisam ter consciência do que é certo e do que é errado”, coloca. Já houve situações em que o padre Diego precisou ser acionado pelas catequistas para conversar com os pais e resolver problemas pontuais.
Número tem se mantido estável
O padre Diego Knecht aponta que a média de catequizandos por ano tem se mantido constante. Ela gira em torno de 100 na Catedral e 80 nas demais capelas da cidade. “Dessas, nem sempre 100% continuam na fé. Mas 70% seguem para a crisma, o que é um número grande. Nós sabemos que, quanto mais eles envelhecem, eles ficam independentes e querem vivenciar a fé da sua maneira”, avalia. Muitos, segundo o padre, vão amadurecer a fé só depois de adultos.