Entrar no antiquário Casa do Velho é como voltar no tempo. Percorrer diferentes décadas e conhecer um pouco mais sobre cada uma delas, suas tradições e peculiaridades. Criado em maio de 2013 pelo apaixonado por História, selos e literatura, Osvaldo Mattos, 70 anos, a casa traz um valor singular a Montenegro. Muitos detalhes da construção da identidade montenegrina estão gravados em objetos e imagens que compõe seu riquíssimo acervo.
Com sorriso largo e olhos atentos, a fala do aposentado é repleta de lembranças, citações de datas marcantes, episódios envolvendo famílias tradicionais e da própria história da cidade.
Osvaldo conta que, em tempos de menino, costumava guardar com grande cuidado objetos que ganhava do avô e da avó. A paixão se manteve com o tempo e foi ao se aposentar do funcionalismo público que resolveu investir no espaço de antiguidades, inicialmente com a irmã e o filho. Com todos os tipos de itens disponíveis para venda e troca (ele também compra), Osvaldo afirma que o seu grande forte é a filatelia – coleção de selos.
“Hoje acredito ser um expoente da filatelia no Rio Grande do Sul. É incontável o acervo que tenho. Desde selos que marcam o início da República brasileira até os comemorativos, como o centenário da cidade. Isso é antiquário. Isso é história”, relata.
Com fatos ainda frescos na memória, Osvaldo conta que, em 1948, houve, inclusive, um encontro riograndense de colecionadores de selos em Montenegro. “O município já viajou o mundo com a filatelia. Muita gente desconhece o fato de sermos representantes nisso”, diz.
E para quem tem apreço por relíquias, um fato entristece: o de que muitos não dão o mesmo valor aos itens e toda a sua simbologia e contribuição. Osvaldo salienta que a falta de interesse das pessoas por coisas antigas e curiosidades que as circundam é uma triste realidade hoje, principalmente pelas gerações mais jovens. “Estamos perdendo a raiz cultural, histórica. Os valores atuais são diferentes. Ao mesmo tempo, há de curioso que quem me abastece é mesmo essa nova geração, que se desfaz dos objetos antigos. Se eu for pensar pelo lado comercial, é algo positivo, mas pelo sentimental, entristece um pouquinho”, conta.
Moldura de 1931
Há anos atrás, segundo Osvaldo, a moldura ao lado chegou a ser procurada pela diretoria do Museu Júlio de Castilhos, para ser cedida de forma voluntária ao seu acervo.
“É entalhada à mão e datada de 1931. A moldura é alusiva à revolução da década de 30. Em cima, há o brasão dos estados que lutaram: São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Isso constitui uma boa parte da história”, destaca.
Um lugar de descobertas
Anunciado por uma placa em frente ao edifício Fernanda, o antiquário tem ponto fixo na sala 2, entrando no corredor lateral do prédio. É impossível deixar o olhar parado ao primeiro passo. São facas, espadas, jóias, molduras, espelhos, móveis antigos entalhados à mão… Uma infinidade de antiguidades, muitas das quais com aparência de novas. Outras tantas com valores inestimáveis – culturalmente, inclusive. Como o caso de uma balança antiga de manipular medicamentos, utilizada pelo médico José Flores Cruz no posto de saúde montenegrino. “O sentimento ao fazer uma compra e abrir um baú de antiguidades, é como de um pinto no lixo”, brinca Osvaldo.
Óculos de Santos Dumont
Sim. Osvaldo conhece a história do relógio de pulso, criado por Santos Dumont, e traz em mãos, com cuidado e olhar rememorativo, um óculos que diz ter sido usado pelo próprio inventor. Como chegou a suas mãos, já não lembra, mas afirma concisamente que as lentes são melhores que a dos óculos que usa.
“Não lembro como veio parar comigo. Supõe-se que era utilizado por ele. E eu teria que provar que foi mesmo. Mas se alguém negar minha afirmação, terá que provar, também, que o acessório não foi de Santos Dumont”, brinca.
IMPORTANTE
Os objetos para venda não tiveram seus preços divulgados, pois variam conforme características específicas, como raridade e singularidade.
Lanterna de quando não havia luz elétrica
Antigamente, quando não havia postes nas ruas, lanternas eram colocadas ao longo das vias para iluminar a cidade da penumbra. “Ia um funcionário da Prefeitura em uma carroça, à tardinha, e instalava uma por uma nos mastros. Acredito que isso na década de 20. Quando amanhecia, uma a uma eram recolhidas. Eu gosto muito de dizer que todos esses artefatos não são meus, não sou eu que os tenho. É Montenegro”, diz Osvaldo.