Nessa quarta-feira, 13, o principal assunto do mês de outubro esteve em pauta na mesa redonda da Rádio Ibiá Web: o câncer de mama. Maria Paulina Hummes Polking, psicóloga, psicanalista e coordenadora do grupo Amigas do Peito Unimed Vale do Caí e a Secretária de Saúde de Montenegro, Cristina Reinheimer estiveram em um bate-papo sobre o tema, junto de Rosemeri Matana, que recentemente teve o diagnóstico do câncer e iniciou o processo de quimioterapia. No Outubro Rosa, é promovida a campanha de conscientização, que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
Em janeiro deste ano, Rosemeri solicitou exames de rotina no SUS, mas conta que, pela demora devido ao número elevado de casos de Covid-19, deixou a realização dos exames de lado. Mas, em maio, sentiu uma dor no peito direito e notou a presença de um nódulo, estranhando a anomalia. “Procurei um especialista e fiz uma ecografia. Meu primeiro diagnóstico, do dia 27 de maio, dizia que era um cisto. Mas, eu tratei e os incômodos e a dor continuaram. Troquei de médico e fiz duas punções e uma biópsia. Então, no fim de julho, veio o diagnóstico de que era o câncer de mama metaplásico grave”, relembra.
“O primeiro passo é aceitar o diagnóstico”, afirma psicóloga
Rosemeri conta que o impacto inicial foi muito grande em sua vida. “Abriu meu chão. Passou um filme na minha cabeça em segundos. Pensei nos meus filhos, família, trabalho. Mas, para minha surpresa eu estou levando tudo muito numa boa. Tenho muita fé, até porque eu fui atrás do atendimento rápido, o que conta muito. Iniciei o tratamento com quimioterapia no dia 24 de agosto e graças a Deus está tudo dentro do esperado”, afirma. Ela contou sobre o diagnóstico para os dois filhos no mesmo dia em que soube. “Além de Deus, meus filhos são quem me dão mais força para que eu levante todo dia, eles são a minha vida”. Já para demais familiares e amigos, criou grupos no WhatsApp para contar a situação. “Escrevi uma mensagem e mandei nestes grupos para contar de uma vez só e pedir para que me apoiassem e mandassem energias boas”, afirma.
Rosemeri relembra que em momento algum questionou a doença. “Nunca perguntei “por que comigo?”. Eu simplesmente aceitei e vou lutar. Eu acho isso muito importante para quem está neste processo. Tem os dias bons e os ruins, onde a auto-estima cai ou tu fica mais pra baixo, com medo, mas se tu tem fé e pessoas te apoiando tu tira de letra.” A psicóloga Maria Paulina explica que o primeiro passo de Rosemeri já foi um acerto: a não negação. Ela aceitou o diagnóstico. “Esse é o primeiro movimento. Receber a notícia e aceitar, para depois enfrentar”, destaca. “Ao saber deste diagnóstico, ocorre mesmo a perda de estabilidade, mas, logo vem o fortalecimento pós enfrentamento do câncer. Então, aquilo que parecia o fim, é na realidade o começo de uma fase de força”, reitera.
Para a paciente, até agora, mesmo com muita fé e positividade, a pior parte do processo foi o início da queda dos cabelos. “É uma mistura de sentimentos, mas quando mexe com a tua auto-estima é uma coisa que te impacta mais, que foi quando começou a cair meu cabelo. O médico me disse que em vinte dias ia começar a cair e realmente. Eu sempre tive pouco cabelo, mas eu não via a possibilidade de cair tanto cabelo da minha cabeça. Foi o que mais me chateou porque eu sempre fui vaidosa, toda mulher é”, detalha.
Hoje em dia, já adaptada às sessões de quimioterapia, Rosemeri conta que a vida segue normalmente, mas que há mudanças. “A quimio me deixa debilitada, mas eu já observo o que eu posso e o que não posso comer, por exemplo, porque tem coisas que já não param no meu estômago e eu evito para não ficar muito ruim. Agora, por último, o que eu tenho mais sentido é canseira”, afirma. A Secretária Cristina reitera a fala da paciente e explica que muito do medo das demais mulheres com este diagnóstico é o nome forte: câncer. “Eu não gosto de usar a palavra câncer. Usamos neoplasia, já que parece uma palavra mais amena perante as pessoas. A palavra câncer, para muita gente, tem um teor grave e não podemos levar esta doença desta forma, e sim como uma doença que inspira uma nova vida” destaca.
Diagnóstico precoce caminha lado a lado da cura
O diagnóstico precoce é fundamental e caminha em direção à cura. Na rede de saúde municipal, há exames que podem ser realizados de forma preventiva, que é o caso do rastreamento, segundo a Secretária de Saúde Cristina Reinheimer. “Hoje, enfermeiros em todos os postos de saúde podem prescrever a mamografia de rastreamento. Assim, como viemos trabalhando há cerca de quatro anos, a gente reduziu muito o câncer em Montenegro. Em 2016 a gente teve em torno de 17 óbitos por câncer de mama, e em 2020, terminamos o ano com apenas seis”, afirma.
Se a mamografia tiver alguma alteração, após, na rede municipal, a ecografia mamária é o próximo e imediato passo, para detectar tudo minuciosamente. “Temos um trabalho bem importante junto ao Hospital Montenegro, que no momento que temos esta mulher positivada, já encaminhamos ela para avaliação com o mastologista, já é realizado o procedimento cirúrgico e a gente já vai encaminhando precocemente essas pacientes para a quimioterapia em São Leopoldo, que é nossa referência”.
Vale lembrar que o auto-exame não substitui nenhum exame de rotina, mas é indispensável. “As mulheres têm que realizar sua palpação mensal. Além de, anualmente, realizar o exame de rotina. Esses exames têm que ser feitos não só pelo câncer mamário, mas também uterino, o segundo câncer com número elevado entre as mulheres”, pontua Cristina. A psicóloga Maria Paulina acrescenta que o auto-exame ajuda cada mulher a conhecer sua mama, para então poder ou não detectar nódulos.
Pandemia afetou busca por diagnósticos
A Secretária Cristina Reinheimer conta que a pandemia e o medo da Covid-19 fizeram com que as mulheres evitassem procurar a atenção básica e até convênios para ajuda ao perceber anomalias. “Hoje estamos começando a sentir essa situação. Nós estamos recém em outubro e já tivemos 23 casos de câncer de mama encaminhados para São Leopoldo. Isso sem contar os convênios. A pandemia fez com que a gente deixasse as outras patologias de lado”, lamenta. Mesmo assim, a secretária diz que acredita que estes casos de 2021 ainda podem não ter diagnóstico tão grave e ter um bom resultado.
Ela ainda aponta que agora, com restrições mais brandas em função do coronavírus, as mulheres devem procurar o sistema de saúde para exames de rotina. “Nós estamos com as mamografias em dia. Temos toda uma linha de cuidados e só precisamos que as mulheres que tiveram algum diagnóstico que palparam algum nódulo ou até sentiram alguma alteração nos procure no posto do seu zoneamento.” Maria Paulina também faz um apelo: “Pós-pandemia, retomem os seus exames, não fiquem com medo da Covid-19. Retomem o cuidado”.
Rosemeri reitera a fala da especialista, já que é prova viva de que exames preventivos pós detectar alguma anomalia é imprescindível na busca pela cura. “A gente conhece nosso corpo, mas não tem como sozinhas descobrirmos o diagnóstico. É de enorme importância se cuidar, procurar um médico. Se eu tivesse ficado igual eu estive em maio, sem buscar, o quão pior eu poderia estar agora?”, indaga.
Fortalecimento emocional no município
O grupo Amigas do Peito, do Hospital Unimed Vale do Caí é importante maneira de fortalecer as mulheres com este diagnóstico. “As mulheres têm um espaço de fala e acolhimento por outras mulheres que já tiveram suas experiências. Muitas vezes, poder conversar com alguém que já vivenciou isso em outro momento é muito bom para elas. É um testemunho de quem já passou por esta experiência de que tudo passa e que tem muita vida após diagnóstico e tratamento”, afirma Maria Paulina. Vale lembrar que o grupo é aberto a toda a comunidade, não apenas restrito a quem tem convênio com a Unimed. O município também oferece serviços de apoio psicológico. “Temos um ambulatório de saúde mental onde fornecemos este acolhimento para quem precisar na atenção básica através do SUS”, destaca Cristina.