O dia 31 de maio marca, no Rio Grande do Sul, a luta contra o câncer bucal. Nesse dia, a área da saúde de todo o Estado volta a atenção ao assunto pouco debatido, mas de extrema importância para a sociedade. O câncer da boca (também conhecido como câncer de lábio e cavidade oral) é um tumor maligno que pode se desenvolver nos lábios, língua, céu da boca, gengiva, amígdala e glândulas salivares. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que para cada ano do triênio 2020/2022 serão diagnosticados no Brasil 15.190 novos casos de câncer de boca e orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca). O especialista em periodontia, Luís Felipe Farias Martini, da clínica Odonto Becker pontua que o câncer é mais comum em homens acima dos 40 anos de idade.
Martini pontua que uma das causas do câncer bucal é o tabagismo. Quem fuma cigarro ou outros produtos derivados, como o cigarro eletrônico, tem maior risco de desenvolver o câncer de boca e faringe. “Quanto maior o número de cigarros fumados, maior o risco”, ressalta. O consumo de bebidas alcoólicas também é uma das causas, assim como o excesso de gordura corporal e exposição ao sol sem proteção (representa risco para câncer de lábios).
O médico diz que a exposição a óleo de corte, amianto, poeiras, fuligem de carvão, solventes orgânicos e agrotóxicos também está associada ao desenvolvimento do câncer bucal. Ainda, a infecção pelo vírus HPV está relacionada a alguns casos de câncer de orofaringe. “Previna-se do câncer de boca reduzindo o fumo e o álcool e fazendo uma alimentação rica em frutas, verduras e legumes. Consultas regulares com o dentista e o auto-exame são muito importantes para prevenir o câncer. Qualquer sinal de anormalidade deve ser criteriosamente investigado”, destaca.
Segundo o Inca, a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados. Porém, ele pode ser detectado em fase inicial, o que permite o tratamento mais efetivo, assim como a cura. O diagnóstico tardio vai implicar em tratamentos mais agressivos e, consequentemente, com maior chance de sequelas. Por isso, Martini destaca que se deve estar sempre atento a qualquer alteração da boca, desde mudanças na coloração até o surgimento de lesões parecidas com aftas que não cicatrizem em até 15 dias. Nestes casos, deve-se procurar a unidade de saúde para um exame. Assim, se a lesão suspeita é identificada, a biópsia deve ser realizada para avaliação. Se confirmado o câncer, o paciente deve ser encaminhado imediatamente para tratamento especializado.
O diagnóstico do câncer de cavidade oral normalmente pode ser feito com o exame clínico, mas a confirmação depende da biópsia. Esse procedimento, na maioria das vezes, pode ser feito de forma ambulatorial, com anestesia local. Alguns exames de imagem, como a tomografia computadorizada, também auxiliam no diagnóstico, e ajudam a avaliar a extensão do tumor. O exame clínico associado à biópsia, com o estudo da lesão por tomografia (nos casos indicados) permitem ao cirurgião definir o tratamento adequado.
Tratamento
Quanto ao tratamento, na grande maioria das vezes é cirúrgico, tanto para lesões menores, com cirurgias mais simples, como para tumores maiores. O cirurgião de cabeça e pescoço é o profissional que vai avaliar o estágio da doença. Essa avaliação, associada a exames complementares determinará o tratamento mais indicado. A radioterapia e a quimioterapia apenas são indicadas quando a cirurgia não é possível ou quando o tratamento cirúrgico traria sequelas funcionais importantes e complicadas para a reabilitação funcional e a qualidade de vida do paciente.
A cirurgia normalmente consiste na retirada da área afetada pelo tumor associada à remoção dos linfonodos do pescoço e algum tipo de reconstrução quando necessário. Em todas as etapas do tratamento é importante o aspecto interdisciplinar, com a participação de vários profissionais de saúde, visando prevenir complicações e sequelas.
Sinais de risco
– Lesões (feridas) na cavidade oral ou nos lábios que podem apresentar ou não sangramentos e crescimento;
– Manchas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca ou bochechas;
– Nódulos no pescoço;
– Rouquidão persistente;
– Dificuldade de mastigação e para engolir;
– Dificuldade na fala;
– Dificuldade para movimentar a língua;
– Sensação de que há algo preso na garganta.
Como fazer o auto-exame?
Luíz Felipe Martini pontua que o auto-exame é uma técnica simples que a própria pessoa pode fazer, bastando que tenha um espelho e esteja num ambiente bem iluminado. “A finalidade deste exame é identificar lesões precursoras do câncer de boca, uma doença curável se tratada no seu início”, afirma.
1. De frente para o espelho, observe a pele do rosto e do pescoço. Veja se encontra algum sinal que não tenha notado antes. Toque suavemente com as pontas dos dedos todo o rosto.
2. Puxe com os dedos, o lábio inferior para baixo, expondo a sua parte interna. Apalpe todo o lábio. Puxe o superior para cima e repita a palpação.
3. Com a ponta do dedo indicador, afaste a bochecha para examinar a parte interna da mesma. Faça dois lados.
4. Com a ponta do dedo indicador, percorra toda a gengiva superior e inferior.
5. Introduza o dedo indicador por baixo da língua e o polegar da mesma mão por baixo do queixo . Palpe todo o assoalho da boca.
6. Incline a cabeça para trás e abrindo a boca o máximo possível, examine o céu da boca. Palpe com o dedo indicador todo o céu. Abra a boca e observe o fundo da garganta.
7. Ponha a língua para fora e observe a parte de cima. Repita com a língua levantada até o céu da boca. Puxando a língua para esquerda, observe o lado esquerdo. Repita o procedimento para o lado direito.
8. Estique a língua para fora, segurando-a. Apalpe em toda a sua extensão com os dedos indicador e polegar da outra mão.
9. Examine o pescoço. Compare os lados direito e esquerdo e veja se há diferenças entre eles. Apalpe o lado esquerdo do pescoço com a mão direita. Repita o procedimento para o lado direito.
10. Introduza o polegar por debaixo da queixo e apalpe suavemente todo o seu contorno inferior.
O que procurar?
– Mudanças na aparência dos lábios e da porção interna da boca;
– Endurecimentos;
– Caroços;
– Feridas;
– Sangramentos;
– Inchaços;
– Áreas dormentes;
– Dentes amolecidos ou quebrados.