“Isso aqui não é meu, mas nosso”, afirma moradora sobre plantio de mudas nas margens do Arroio São Miguel
Ângela Cristina de Souza, 40 anos, desde criança, via as águas do arroio São Miguel subirem e chegarem até a casa onde a família reside. Depois de anos pedindo uma solução para a Prefeitura, finalmente, no início de 2016, as obras de macrodrenagem foram entregues e, com elas, a promessa de que a água não iria mais invadir as casas.
De fato, desde então, a família de Ângela teve mais tranquilidade. “Isso era perigoso, tenho um menino de cinco anos aqui e não deixava ele brincar no pátio porque sempre tinha bicho por aqui. Era rato e até filhote de cobra que a gente chegou a ver”, relata ela. Agora, com a limpeza do local, a situação mudou.
Depois da ação de macrodrenagem, a bacia do Arroio São Miguel recebeu o plantio de árvores nativas. “Tem pontos positivos: a enchente não tem mais, está limpo, o plantio de árvore ficou bonito e tem até um container de lixo”, avalia Ângela, junto da filha Angélica de Souza, 18 anos, que já acrescenta que o espaço é de responsabilidade de toda a comunidade. “Isso aqui não é meu, mas nosso”, afirma.
Mas o vizinho, Elso Luiz Nunes, 53 anos, deficiente auditivo, não teve a mesma felicidade. Como a drenagem exigiu alargamento do leito do arroio, a casa dele acabou cedendo e a família teve que sair da moradia. Por algum tempo, viveram em um espaço emprestado pela escola de samba, depois acabaram voltando para a moradia. Mas a surpresa quando voltaram foi a de que o pequeno espaço que acomodava a residência virou um deposito de lixo. Material que foi
descartado durante a obra e até por moradores próximos.
A família, e até os vizinhos, procuraram vereadores e a Prefeitura, mas desde que a obra de macrodrenagem foi entregue, Elso e outras quatro pessoas da família moram em uma meia água que ainda divide o espaço com a montanha de entulho descartada depois da obra.
“Esses são os pontos negativos, o lixo que foi colocado no terreno”, afirma Ângela, além da cobertura da parada de ônibus, que foi retirada e não recolocada. “Essas árvores aqui são boas. Agora ‘tá’ pequeno, mas depois vai crescer e vai dar sombra”, ressalta.
Apesar de dividir o espaço com a montanha de entulho, em sua pequena propriedade, Elso também decidiu plantar algumas mudas de árvore, justamente para contribuir com a recuperação do local.
Até o fim do ano, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) estabeleceu a meta de plantar até 5 mil mudas pela cidade, seja por meio de ações de doações de árvores ou incentivo da comunidade. “Estamos revisando a arborização no município, vamos orientar as pessoas e potencializar a questão da árvore nativa, porque ela vai ajudar a trazer mais pássaros, trabalhar melhor a multiplicação da flora e fauna, naturalmente, além de evitar os problemas de irregularidade com o tamanho da copa das árvores e da raiz”, explica o assessor especial, Marcos Guarani.
Revitalização conta com a ajuda de escolas
Recentemente entregue à comunidade, a obra contemplou a recuperação de 840 metros das margens do Arroio São Miguel, com alargamento da vala, posicionamento de muros de gabiões e ampliação das galerias. O trecho engloba os bairros Senai, Industrial, Centro sul, Municipal, Tanac, Cinco de Maio e Bela Vista.
Com a obra entregue, outra iniciativa que faz parte do processo de recuperação do arroio é o plantio de mudas de árvores nativas em suas margens. Atividade que conta com apoio de escolas e de moradores ribeirinhos.
De acordo com o assessor especial da Secretaria de Meio Ambiente, Marcos Guarani, com a manutenção do local e constante cuidado por quem vive próximo, o principal benefício direto à população é a diminuição do impacto das enxurradas. “As cheias acabam sendo menos intensas na região da macrodrenagem”, defende.
Além da limpeza, Guarani explica que tem sido desenvolvido projeto técnico social diretamente com as famílias que moram no entorno, com a ampliação da consciência de que o arroio precisa ser cuidado também pela comunidade. “Porque muitos dos impactos que aconteciam eram em função de lixo depositado nas margens, dentro do arroio e da falta de cuidado e fiscalização”.
Guarani orienta que a comunidade se aproprie do arroio e mantenha o local limpo, fator que traz benefícios diretos aos próprios moradores. “É uma corrente de benefícios, um atrás do outro. E se formos parar para analisar, dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável, contempla vários, como o consumo consciente, água potável e saneamento, enfim. E os impactos diretos são tantos e relevantes para a comunidade”, aponta o assessor.