Calor e inflação, mas sem perder a doçura

Melancia. Agricultores do Vale sofreram para ofertar fruta de qualidade

A melancia ainda é uma das frutas que caracteriza o setor primário do Vale do Caí. Os caminhões e carroções nos acostamentos das rodovias, muitos em frente às casas dos agricultores, são requisitados por quem está passando ou que veio especialmente para comprar a mais suculenta fruta do Verão. Mas a realidade desta cultura coaduna com todo o setor de agricultura familiar, que nesta safra é castiga pela seca e pelo aumento nos preços dos insumos básicos.

Em suas terras no município de Capela de Santana, Eduardo Sauter cultiva melancia, melão, moranga e abóbora. O trunfo dele foi ter semeado cedo, e assim colhido cedo; tanto que já vendeu tudo. “Eu consegui comprar bem cedo! Mas mesmo assim paguei R$ 100 a mais por saco de adubo”, revela. Em 2020 ele pagava em torno de R$ 86,00 por um fertilizante específico. Em 2021 o mesmo custava R$ 180,00. Isso por que optou por outra formulação, pois o adubo que classifica com ideal era inviável.

A estratégia também o livrou da seca, que se acentuou a partir do início do mês passado. Mas no campo se ganha de um lado e se perde de outro; e Sauter acabou sendo atingido por uma chuva de granizo que levou 40% da lavoura no Paquete.

Agricultores que assim como Sauter garantiram uma safra “do cedo” tiveram boas vendas no varejo. Até que veio a virada do ano, e a procura direta do consumidor caiu. “Daí tivemos que vender mais barato para conseguir vender a produção! Pois a procura foi menor, e o sol estava queimando muitas frutas’, explicou Eduardo Sauter.

Sol “queimou” 70% da safra “do tarde” na propriedade de Renato Reidel, no Itacolomi. Foto: Arquivo Pessoal

Aumentos em insumos acima de 100%
Luiz Carlos Schmitz também usou a estratégia de adiantar a lavoura; tanto que nesta semana vende suas últimas melancias no ponto da ERS-240, na localidade do Segredo. Ele semeou cedo e virou a terra com arado quatro vez em seis meses. Assim fugiu da seca, que pegou apenas o final de sua colheita “do cedo” na localidade de Paquete.

Já sua colheita “da tarde” foi prejudicada na aparência, mas manteve o sabor. Isso pode explicar a redução na procura depois da festas de final de ano. Na terra, as perdas foram devido ao sol que torrava a casca e secava o suco. Mas prejuízo mesmo ele teve com o preço dos insumos, que triplicaram em um ano, em especial os adubos (químico e orgânico), o defensivo folhar e as sementes. Em 2020 Schmitz pagava R$ 80,00 por um saco de 50 quilos de adubo. Em 2021 este valor chegou aos R$ 220,00. Schmitz também soma o preço do Diesel.

Venda direta ao consumidor caiu
Na localidade de Itacolomi, em Montenegro, Renato Elias Reidel usa o sistema orgânico; mas nem por isso ficou livre dos problemas. Em 2021 ele cultivou seis hectares com 2.000 pés em cada; de onde deve colher um total de 30 toneladas. Em tempos normais, colheria esta quantia por hectare. “Será aproveitado em torno de 70% da lavoura”, lamenta.

Renato nem pensa em abandonar o plantio da melancia

O sol escaldante após a virada do ano queimou bastante as cascas, gerando o efeito de a fruta inchar e amadurecer à força. A falta de chuva (a última havia sido em 15 de dezembro) até afetou o tamanho, mas não o sabor das frutas colhidas no final da safra.

Repetindo os colegas de Capela, em janeiro Reidel viu seu consumidor sumir da RSC-287. Ele que vendia 1.500 unidades por dia, agora não passa das 300, contando com caminhoneiros que levam para mercados. Ele recorda dos dias em que tiravam da roça de manhã e vendia tudo a tarde. Na contra-mão, sobem os preços dos combustível, mão de obra e o composto orgânico com esterco de galinha, que avançou em 40%.

 

Safra da melancia
Segundo o Escritório da Emater, nesta safra de melancia Montenegro somou próximo de 100 hectares cultivados; com produtividade média de 20 toneladas/hectare. Não é observada redução em área plantada, a não ser pela ação da rotatividade na terra; e nem queda na produtividade, a não ser devido a quebra de safra devido a estiagem. “Quem plantou mais cedo se livrou. Quem plantou um pouquinho mais tarde, que não são muitos, sofreu com a estiagem”, confirmou a extensionista rural agropecuária da Emater em Montenegro, Luísa Leupolt Campos. Ela afirma ainda que desistência de agricultores em cultivar melancia “são casos pontuais”. Pelo censo da Fruticultura, feito de 3 em 3 anos, Montenegro e Capela de Santana lideram o cultivo da melancia. Capela tem estimativa de 85 hectares cultivados, em 2020 e 2021.

Aos poucos Lerner vai deixando a melancia de lado
Poucos quilômetros à frente, o primo de Reidel, Luiz Carlos Lerner, fala, agora seriamente, em parar de vez com a melancia. Ele que já chegou a semear 20 hectares, agora não passa dos três em Muda Boi. Também o preço, (R$ 15,00 e R$ 20,00 as maiores), é desanimador. Segundo ele, este teto compensaria se as vendas direto ao consumidor tivessem volume expressivo.

E nos últimos anos, o preço mais alto que conseguiu no atacado não passou dos 50 centavos o quilo. Neste ano é de 40 centavos; e ainda recebe ofertas de atacadistas abaixo, e que depois repassam por até 90 centavos. Lerner também confirma um aumento de 80 para R$ 230,00 na saca 50 quilos de adubo. Na mesma linha subiu a Ureia, que agora vale R$ 250 o saco de 50 quilos. “Nessa pandemia não foi fácil. E virou exploração em cima do colono”, protesta.

Colocação de papel protegeu um pouco as frutas de Lerner

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