Nos últimos anos, a diminuição foi de 38%, segundo estudo do INSS
A diminuição no número de acidentes no segmento da construção civil é uma boa notícia. Para o engenheiro de Segurança do Trabalho e perito do Trabalho, Augusto Zanatta, um dos principais motivos são os investimentos feitos na prevenção. “Todo e qualquer descuido ou procedimento inadequado coloca a obra em risco, principalmente as pessoas. Creio que isso se deva a um gerenciamento mais consciente e eficiente por parte das empresas de construção”, afirma.
De acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AET), disponibilizado pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) em junho de 2017 e que traz os acidentes ocorridos entre os anos de 2013 e 2015, a queda foi de 38% em todo o país, o que representa em torno de 8 mil casos. Em 2015, foram 13.387 acidentes de trabalho envolvendo profissionais da construção, contra 15.486 em 2014 e 21.631 em 2013. Os dados representam diminuição de 38,11% no período de 2013 a 2015.
Apesar da redução, Zanatta alerta que o número pode ser duvidoso, uma vez que é baseado somente nos dados informados via CAT (Comunicado de Acidentes de Trabalho). Ele diz que é preciso considerar que nem todas as empresas fazem este registro quando acontece um caso. “Acredito que ainda aconteçam vários, porém não são registrados, o que poderia diminuir este percentual”, pondera.
O setor ainda permanece como o terceiro no ranking com os maiores índices de acidentes de trabalho, situação que deve se alterar com a conscientização dos trabalhadores. “O que muitas vezes percebo é que, além de explicar num treinamento sobre o porquê do uso do EPI (equipamento de proteção individual), temos que trabalhar também as ‘emoções’ destes trabalhadores, a fim de sermos eficazes no nosso objetivo, que é o de não termos acidentes”, avalia.
Segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de mortes por acidentes de trabalho, com 2.503 óbitos. O país perde apenas para China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090). No Brasil, foram registrados 725.664 acidentes de trabalho em 2013, 712.302 em 2014 e 612.632 em 2015. A queda no número de ocorrências neste período foi de 15,5%, mas este número refere-se a todas as atividades da economia e não apenas à construção civil.
Construtoras investem na segurança dos trabalhadores
Para o sócio proprietário da BR Incorporadora, Rodrigo Henning, a preocupação com a segurança dos operários é fundamental ao bom andamento da obra. “Tivemos casos em que as equipes tiveram mais resistência ao uso dos EPIs, então a gente precisou fazer uma sensibilização maior. Da mesma forma como os operários chegam, queremos que retornem para suas casas. Então, segurança é um fator fundamental nas obras”, argumenta. Hoje a empresa possui três empreendimentos na cidade e o uso dos equipamentos de segurança deve ser seguido à risca pelos trabalhadores.
Gilberto Meurer é mestre de obras e atua há 27 anos no ramo da construção. Quando começou no setor, não existia a preocupação com a segurança dos trabalhadores. Só nos últimos dez anos ele percebeu que as empresas têm investido mais no setor. “Agora nesse último ano é que a gente vê ainda mais, aqui na construtora a preocupação com isso. Acredito que o uso (dos EPIs) protege e dá mais segurança para os trabalhadores, né”, afirma o trabalhador.
Pequenas obras, mais atenção
Para a engenheira civil e perita do Tribunal de Justiça, Patrícia Brenner, as obras, como de residências ou pequenos prédios, ainda requerem mais atenção. Isso porque é nestas que, muitas vezes, os empresários acabam se esquecendo de investir na segurança dos trabalhadores. “Nas obras pequenas, acredito que falta um treinamento adequado, mostrar para os trabalhadores que existem as Normas Reguladoras (NRs), que tu tens que seguir elas até para o próprio bem deles”, sustenta.
Apesar de ainda haver a necessidade de fiscalização e mais conscientização, Patrícia diz que o número apresentado pelo INSS é um dado positivo para o setor. “Na construção civil, as pessoas sempre trabalham no risco. Então, acredito que essa redução mostra que realmente as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a diminuição dos acidentes.”
Quando um acidente acontece, envolve toda uma família, porque daquele operário dependem outras tantas pessoas. “Então o contratante será prejudicado, por não ter o funcionário trabalhando. A família será prejudicada porque ele não poderá trabalhar e também não vai receber. Acho que essa redução é muito significativa dentro da construção civil”, argumenta.
Para a profissional, quanto mais as pessoas se conscientizarem, quanto mais se preocuparem com o uso dos EPIs e investirem em treinamentos, mais os acidentes irão diminuir.