Paróquia Sagrado Coração pretende realizar celebrações inclusivas
Diva Barreto de Vargas, gestora de RH, acadêmica de Serviço Social e presidente da Federação Rio-grandense de Entidades de e para Cegos, nasceu com catarata e, por cirurgias tardias, foi perdendo a visão ao longo dos anos. Ela conta que seu sonho sempre foi estudar, mas, até a alfabetização, com 11 anos, foi muito difícil. “Por muito tempo as pessoas não me aceitavam como pessoa deficiente. Eu ouvia todo tipo de coisa”, lembra. Mesmo assim, superou as dificuldades e atualmente cursa sua segunda graduação. Por isso, destaca a importância de as pessoas se sentirem acolhidas nos locais que frequentam. “As pessoas com deficiência precisam se sentir parte do espaço. A igreja tem que receber bem o ser humano, porque se for bem vindo, vai voltar e permanecer”, aponta.
Essa necessidade de acolhimento e respeito às individualidades foi discutida durante o Café com Fé, realizado pela Paróquia Sagrado Coração de Jesus essa semana. O debate, que abordou a inlcusão e acessibilidade dentro da igreja, teve como tema “Fé e inclusão”.
Para falar sobre o assunto, foram convidados, além de Diva Barreto; Valdair da Rosa Silva, membro do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência e presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Montenegro; Santos Fagundes, Cientista Social e Político, e articulador nacional do Estatuto da Pessoa com Deficiência; e Carlos Fernando Petry, gestor de Segurança e Defesa Cibernética.
O Padre João Vitor explica que a ideia inicial é que algumas das celebrações dentro da igreja ofereçam acessibilidade universal. “Ainda não sabemos como será, mas pensamos em Braile, Libras e som mais baixo para não incomodar autistas, por exemplo”, destaca. Para ele, incluir todos os públicos aproxima toda a comunidade da igreja. “Estas são maneiras de comunicação, então, se não nos comunicarmos com estas pessoas, elas ficam de fora. A ideia da Paróquia é levar a liturgia para todos”, afirma. Outro tema abordado foi como tornar a catequese mais inclusiva, mais um foco da Paróquia.
Santos Fagundes, deficiente visual, destaca que é essencial que ações e políticas públicas sejam desenvolvidas para acolhimento de todos os seres humanos. “Esta proposta de sempre incluir as pessoas, não é boa só para nós, que temos alguma deficiência. É para todos. Precisamos que a sociedade e o poder público passem a enxergar a importância da inclusão”, ressalta.
Valdair também é deficiente visual e salienta que algumas ferramentas simples de acessibilidade fazem toda a diferença para quem possui alguma limitação. Ele diz que o principal objetivo é buscar o entendimento e empatia dos demais para com os deficientes. Segundo ele, um dos tantos problemas em Montenegro é a falta de sinais sonoros nas sinaleiras, que obriga deficientes visuais a aguardarem pela boa vontade dos motoristas para atravessar a rua. “Para resolver estas questões, precisamos que as pessoas se coloquem no lugar das outras, para começar a ter uma cidade mais acolhedora para todos”, afirma. Ele aproveitou a oportunidade para agradecer à Paróquia pela intenção do encontro. “Esta sensibilidade e este olhar são louváveis. Isso é o começo de tudo”, conclui.
O Café com Fé ocorre mensalmente, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, da Timbaúva. O objetivo do projeto é debater temas relevantes à sociedade e que não estejam, necessariamente, ligados à fé Católica. Todos são convidados a participar e sugerir discussões, independente de serem membros da comunidade paroquiana.