Saudável. Programa federal visa incentivar o desenvolvimento sustentável na agropecuária
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está fomentando seu recém-lançado Programa Nacional de Bioinsumos, visando estimular a pesquisa, a produção e o uso de produtos biológicos na agropecuária do País. A ideia de aplicar fertilizantes e defensivos naturais para o desenvolvimento sustentável ganha força agora, mas há muito já é usado em Montenegro e no Vale do Caí.
O Governo Federal quer aproveitar o potencial da biodiversidade brasileira para reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados, ampliando a oferta de matéria-prima para o setor. Mas o bioinsumo tem um significado ainda mais valioso, que é livrar de venenos e químicos a comida que chega à mesa dos brasileiros.
Um dos expoentes nesta prática saudável de cultivar alimentos é a cooperativa Ecocitrus, que hoje reúne 113 agricultores associados. Entre suas vantagens está justamente fornecer, gratuitamente, bioinsumo produzido em sua Usina de Compostagem. Aberta pela cooperativa em 1995, a biofábrica trata resíduos industriais do setor alimentício, de bebidas, biodiesel, cosméticos e outros.
“Por meio de biodigestores e de revolvimento automático, produz biofertilizantes e composto orgânico oferecidos aos sócios”, explica o gerente de relações institucionais da Ecocitrus, Ernesto Carlos Kasper. Esta prática insere-se no contexto da Economia Circular, porque completa todo o ciclo de produção agrícola.
O Governo despertou agora para as vantagens produtivas e de custo dos bioinsumos, que são inúmeros. Não só ao produtor, mas ao consumidor! Primeiro, porque são biológicos e, portanto, respeitam o meio ambiente. Kasper aponta que, no caso da Ecocitrus, o benefício se estende ao fato de os agricultores ganharem os insumos sem custo algum.
E ainda, mesmo para aqueles que precisam comprar um insumo destes, o ganho chega ao final do clico produtivo, pois um produto orgânico é mais valorizado no mercado. “O consumidor tem a garantia de que não foram usados insumos químicos, quando o agricultor é orgânico ou, melhor ainda, ecológico”, ressalta Kasper.
Precisou união para alcançar um “sucesso orgânico”
A agricultora Márcia Kranz, sócia da Ecocitrus, é um testemunho dos resultados obtidos com uso de bioinsumos como opção ao produto químico, confirmando esta como uma alternativa há muito já usada. Ela comenta ainda como a obrigatoriedade legal de seu emprego na agricultura orgânica acabou por se tornar um dos grandes entraves para o aumento da produção. Segundo ela, a Ecocitrus – pioneira na produção de bioinsumos na região – precisou abrir a usina justamente porque os associados não encontravam insumos orgânicos para aplicar.
Em sua propriedade, na comunidade de Alfama, a família Kranz aduba os pomares pelo sistema agroflorestal com manejo biodinâmico. “Ele auxilia nossas plantas a crescerem mais saudáveis e produzirem citros ecológicos processados na agroindústria da Ecocitrus”, comenta. A produtora assegura que obtém resultados excelentes, pois este elemento natural entrega todos os nutrientes necessários.
Apenas este incentivo não mudará o cenário
Para estimular e fortalecer o segmento de bioinsumos, o programa prevê ofertar aos usuários tecnologias, produtos, processos, conhecimento e informações sobre uma diversidade de insumos de base biológica. Seu uso vai desde a nutrição do solo e o controle de pragas, como em processos relacionados à pós-colheita.
De acordo com o Ministério, em cerca de 10 milhões de hectares de produção no Brasil já são usados produtos biológicos no controle de pragas. E entre suas ações, o programa propõe elaborar normas para a instalação de unidades produtoras de bioinsumos – biofábricas –; com prioridade à pequena e à média produção; assim como financiamento de infraestrutura e de custeio para sua produção.
Ainda é muito cedo para o setor, sobretudo da agricultura familiar, avaliar o projeto federal e seu impacto na população. “De qualquer forma, não vai proporcionar que todo cidadão adquira alimentos orgânicos; porque o agronegócio, com manejo convencional, ainda tem muita força e influência dentro do governo”, declara Kasper.
Além do mais, afirma que a expansão do seguimento pede programas sistemáticos e de mais força e capilaridade, do que meramente o incentivo aos bioinsumos. Ele defende ainda adequações legais que coloquem fim a verdadeira “penalização” de trâmites documentais através dos quais o agricultor que não usa produtos químicos precisa justificar sua produção.
Teoria dos bioinsumos
Bioinsumos compreendem uma gama de insumos ecológicos para aplicação em lavouras e pomares agrícolas, obrigatoriamente utilizados na agricultura orgânica. Os especialistas garantem que isso é tudo o que o agricultor precisa utilizar para que sua safra seja cultivada de forma saudável. No caso biológico, compreendem: adubo, fertilizantes e demais necessidades para se realizar o manejo. Abrangem desde sementes, fertilizantes, produtos para nutrição vegetal e animal, extratos vegetais, defensivos feitos a partir de microorganismos benéficos para controle de pragas e doenças até produtos homeopáticos ou tecnologias que têm ativos biológicos na composição.