GUERREIRO. Ele superou o coma e agora enfrenta novos desafios
Milagre! Essa é a palavra escolhida pela família do menino Bernardo Matheus da Silva Dahmer, de 4 anos, para definir sua recuperação. A criança ficou cerca de 30 dias internada no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, e depois no Hospital da Criança Santo Antônio, dos quais 18 esteve em coma na UTI. Bernardo foi vítima de um acidente de trânsito, no dia 24 de janeiro, na ERS-124 em Montenegro, quando retornava da igreja para casa, no bairro Senai. O condutor do veículo que provocou a batida estava embriagado.
Dia 26 de fevereiro Bernardo retornou para casa em Montenegro. Ele ainda necessita de muitos cuidados, toma medicação para evitar convulsões, usa cadeira de rodas e precisa de fisioterapia – que por enquanto está sendo feita pelos próprios pais, pois não conseguiram agendamento pelo SUS. Com sequelas, o menino terá de passar por avaliação de um cirurgião de córneas e aguarda o início do tratamento com neurocirurgião. A família também já encaminhou pedido junto ao Sistema Único de Saúde para uma placa de platina, que será implantada no crânio de Bernardo, no local mais prejudicado pelo acidente.
O processo de recuperação será longo, mas ter Bernardo em casa é motivo para comemorar o primeiro e mais difícil round dessa luta. “Ele está cada dia diferente, já está caminhando, ta fazendo de tudo um pouco”, conta Luíse dos Santos Vargas da Silva, mãe do pequeno. “Só está um pouco estressado por não poder fazer nada, ele quer correr, brincar. Não parava, agora sente falta”, acrescenta Luíse.
Bernardo completou 4 anos no dia 7 de fevereiro, quando ainda estava em estado grave. A mãe lembra com lágrimas nos olhos como foi passar a data sem perspectivas de melhoras. “Eles não davam notícia boa, nem eles estavam acreditando na recuperação, era só notícia ruim. O dia do aniversário foi muito triste. Foi o dia que liberaram ele para comer uma gelatina “, detalha.
“Tudo que a gente tem é o Bernardo”
Reunida no pátio onde ficam as casas dos pais, tios e avós de Bernardo, a família se emociona em ter o pequeno de volta ao lar. Ele, que desde o início da situação batalhou pela vida, faz graça ao comentar sobre a própria condição “Que cabeça bem feia mãe”, fala com o ingênuo sorriso de quem não compreende o risco que correu.
“Dava pra ver que ele tinha força de vontade e queria sair daquela situação, e isso foi nos dando força. Fiquei com medo que ele não fosse falar, mas não foi prejudicado. Agora, o problema nos olhos vai para o resto da vida”, revela Luíse.
A família de evangélicos atribui a boa recuperação de Bernardo à fé e às orações recebidas de pessoas que nem mesmo conheciam. “Quero agradecer a todos que ajudaram a gente, que se preocuparam, que rezaram por nós”, diz Tiago Alexandre Dahmer, pai do Bernardo.
Liane do Carmo, de 50 anos, vó do menino estava no carro no dia da tragédia. Ela chegou a pensar que não teria o neto de volta em seus braços, mas hoje celebra a conquista. “Tudo que a gente tem é o Bernardo”, garante Liane.
A garra em lutar pela vida, Bernardo deve ter puxado da mãe, como dizem por aí. Luíse passou por um dos piores momentos de sua vida carregando um novo filho no ventre. Agora, com seis meses de gestação a família aguarda a chegada de uma menina, que trará novas alegrias e força para enfrentar as dificuldades impostas pela vida.
Um dia para ser esquecido
O tio de Bernardo, Maicol Ribeiro, 30 anos, dirigia o carro da família no dia da tragédia. Ele, a esposa, sogra e sua mãe saíram sem ferimentos graves. Maicol conta que o retorno da igreja transcorria, normalmente, até que viu um Passat realizando uma ultrapassagem de risco. “Diminui a velocidade e esperei pra ver pra que lado ele ia se atirar. Ele veio para o meu lado, achei que ia se jogar pra cair no mato, ai joguei o carro na contramão pra conseguir desviar, só que, ele voltou para o meio da pista ”, foi quando o carro em que estava Bernardo foi atingido.
Maicol relata ainda que o motorista embriagado tentou fugir do local e foi contido por populares. Em meio ao desespero, um “curioso” parou no local e fotografou o menino ferido. Quando pediram ajuda para ele, o homem disse que estava com pressa e foi embora.
Por outro lado, pessoas do bem também passaram pelo local e prestaram auxílio. “Um morador daqui de perto, chamado Júnior, foi em casa, pegou o seu carro e nos ofereceu ajuda, ele nos levou para o hospital”, lembra Maicol agradecido pelo ato solidário.
“As leis tinham que ser mais rigorosas. A pessoa paga fiança e sai pra provocar outros acidentes. A gente nunca espera uma coisa dessa. A gente teve apoio de pessoas de fora, mas essa pessoa que fez toda a desgraça, nunca apareceu. Se não fosse a misericórdia de Deus o Bernardo não estaria vivo. O Bernardo é um milagre”, conclui a vó.