Benefícios estariam inviabilizando passagem de ônibus mais barata

Transporte. Única maneira de locomoção da maioria da população de Montenegro ficará 11% mais cara

As tarifas dos ônibus municipais estarão mais caras a partir do dia 1º de julho (segunda-feira) em Montenegro. Os valores da linha urbana convencional e interiorana passarão de R$ 3,50 para R$ 3,95; enquanto o Transporte Seletivo (amarelinho) sobe de R$ 4,20 para R$ 4,75. O diretor da Viação Montenegro (Vimsa), Júlio Hoerlle, aponta que o aumento de 11,93% tem aval do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito.

Segundo ele, este índice é reflexo dos critérios do novo contrato licitatório firmado com a Prefeitura. Há uma série de exigências, como a renovação de frota e acessibilidade nos veículos; além de estrutura de garagem com exigências ambientais. A Vimsa participa do sistema de transporte público de Montenegro, portanto, o documento foi editado e publicado pela Prefeitura.

“Somado ao aumento da cesta de insumos”, argumenta ainda Hoerlle, referindo-se a combustível, peças, reajuste dos salários e demais encargos da empresa. Uma prévia desta notícia publicada pelo Ibiá no Portal e no Facebook sábado teve inúmeras reações negativas, comparando valor da passagem com o serviço oferecido. As reclamações vão desde a qualidade e limpeza dos ônibus, até a regularidade dos horários.

“Quanto ao valor da tarifa, também julgamos muito elevada. Fora da modicidade, preceito básico para modelo adequado de transporte público”, concordou Hoerlle. Então, explicou que a empresa tem solicitado junto aos órgãos públicos a retirada de tributos, redução das gratuidades e redução de serviços deficitários como forma de reduzir a cesta de custos.

APP’s de transporte como solução
Para o cidadão, qualquer aumento de preço, seja qual for o serviço ou mercadoria, representa impacto em seu orçamento doméstico. E quando o reajuste alcança 45 e 55 centavos, como ocorrerá nas passagens, o custo de vida da população mais pobre, real usuário de ônibus, se eleva significativamente. Foi assim que a doceira Leoni Jahn, 59 anos, calculou quanto a mais precisará vender em seus roteiros diários.

Essa é a única maneira dela deslocar do bairro São Paulo, sendo que a partir de segunda-feira lhe custará R$ 7,90 diários (ida e volta). “Terei que vender uns 15 doces para ter ao menos para a passagem”, concluiu.

O Vale Transporte é que facilita um pouco a vida do técnico administrativo Cleber da Silva, 38. Mas ele considerou o quanto pagaria para os dois filhos que lhe acompanhavam no feriado de segunda-feira.

Ao menos quatro vezes por semana ele usa ônibus para sair do bairro Panorama ao Centro. Avaliando este impacto, o cidadão fez coro a muitos comentários deixados na publicação do Ibiá. “Com o preço que está se aproximando, daqui a pouco vale mais a pena pegar Uber”, disse Silva, defendendo sua tese, apontando a vantagem irrefutável se a corrida for rachada entre dois ou mais passageiros.

Leoni gastará R$7,90 por dia para vender seus doces pelo Centro

Renovação da frota está na licitação
Pelo que apontou o gerente da Viação Montenegro, o novo edital permite que os usuários possam esperar uma renovação da frota. Mas Hoerlle defende que a substituição dos veículos ocorre sistematicamente, a medida do vencimento de seu tempo de vida útil. “Em 2018 trocamos os microônibus, e já havíamos colocado 11 ônibus mais modernos com acessibilidade universal”, defende.

Ele argumenta ainda que a Viação não tem como prever o que será utilizado de frota para os próximos anos, mas concorda que, certamente, haverá necessidade de renovação ano a ano. O cálculo de reajuste tem como base a Planilha de Cálculo Tarifário do Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes (Geipot) do Ministério dos Transportes.

Presidente do Conselho concorda
E sua argumentação então foi ao encontro daquela apresentada pelo gerente da Vimsa. Segundo o presidente, levando em conta o alto número de usuários idosos que viajam grátis, de estudantes que pagam meia e o limite de vida útil dos ônibus imposto na licitação, na verdade o próprio sistema estaria, praticamente, inviabilizando uma tarifa menor.

Ele explica que o cálculo é feito em função do custo de todas as viagens e de todos os ônibus, dividido pelo número de usuários, independente de pagar ou não. Neste contexto, haveria linhas que o coletivo cumpre com cinco ou seis passageiros, entre os quais pode haver os isentos.

“Os que pagam não cobrem o custo sequer do combustível gasto durante o percurso”, avalia. Assim, aquelas linhas que lotam acabam suprindo os custos daquelas que “dão prejuízo”. “Este cálculo é feito em todos os municípios. Este problema vem acontecendo em todo o Brasil; todas as empresas de ônibus passam por dificuldade”, defende Santos.

Gerente aponta os gargalos
“Veja como fecha esta conta. Estamos em torno de 21% de gratuidades, 5% de ISSQN e Funtran e 12% de déficit nas linhas interioranas. Totalizando 38%”, especificou Hoerlle. O gerente garantiu então que, retirando estes custos e subsídios, a tarifa em Montenegro poderia baixar de 3,95 para 2,45.

Com o reajuste, segunda-feira o passeio de
Cleber com os filhos custaria R$ 23,70, ida e volta

Ele concordar que não é possível tirar todas as gratuidades, mas defende que “alguma coisa” seria possível abater, dando como exemplo o Dia do Passe Livre, além de outras que classificou como “assistencialismo”. E quanto ao transporte interiorano, Hoerlle sugere ao Município encontrar alguma brecha na legislação para operar com um sistema autônomo.

Nesta alternativa, um morador compraria um veículo coletivo e faria acordo com outros cidadãos da comunidade para serem usuários, garantindo-lhes frequência, roteiro e preço. “Semelhante aos aplicativos. Além do transporte de pessoas, poderia atender outras necessidades, encomendas, mercadorias, pagamentos comerciais e bancários”, explica. Hoje, a Lei das Licitações vigente não permitido este sistema.

O presidente do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, Vitor Paulo Campos dos Santos, confirma que foi dado aval ao percentual de reajuste proposto pela empresa e avaliado pelo Setor de Transporte da Prefeitura. Inclusive, na reunião os 11,93% foram defendidos com a apresentação de uma planilha de preços em municípios com as mesmas características de Montenegro. “Chamou a atenção que Montenegro está com a tarifa um pouco a baixo destes municípios”, revelou Santos.

Aumento nas linhas do Daer
No fim de maio o Conselho Superior da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) fixou índice de 4,4884% de reajuste tarifário anual nas linhas do Sistema do Transporte Intermunicipal de Passageiros (TIP) de Longo Curso. E deu prazo de 10 dias para que o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) enviasse o cálculo das tarifas praticadas por linha. Mas, na segunda-feira, a autarquia informou ao Ibiá que pediu explicação à Agergs sobre o cálculo, pois, desta vez, foi utilizada uma metodologia diferente da planilha de custos usada habitualmente. Assim que a agência responder ao Departamento, a proposta será analisada como prioridade. No início deste mês foram as tarifas Intermunicipais Metropolitanas – linhas da Metroplan – que tiveram alta de 6,66%.

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