Certa vez ouvi que existem dois tipos de pessoas no mundo. Os que planejam a vida e os que a vivem. Não é uma questão de escolha. É como ser bagunceiro ou organizado. Um impulso irracional, que não deixa escolha, mas, da mesma forma, muda muito a forma como a vida de qualquer um vai se construindo. Mesmo sem poder de escolha, vale a pena a gente pensar um pouquinho sobre os planos que temos e do que estamos dispostos a abrir mão para conquistá-los no prazo que estipulamos.
Eu planejo. Mas pense num planejamento completo, detalhe por detalhe, e reajustado frequentemente. É necessário (num pensamento bastante capricorniano), não sei viver de outra forma. Mas, às vezes, confesso, me pergunto como seria a vida sem planos. Sem nenhuma expectativa pro próximo mês, nem meta para até o final do ano. Já pensou poder levantar da cama e esperar o que destino lhe apresentar? Depender totalmente das surpresas da vida, sem ter horário a cumprir nem contas pra pagar. Pena que essa realidade não me pertence.
E também não pertence à maior parte das pessoas, porque somos ensinados que a vida é planejada. Mas será que ela é planejável? Não vejo nada de errado em tentar colocar alguma ordem na nossa existência, mas, o problema é virar reféns dos próprios planos. Uma pequena mudança de rota vira pecado! Quer saber, se eles não servem mais, que vão para a lata do lixo! A vida não precisa caber num compartimento para estar certa.
Um exemplo claro disse está no chamado “planejamento familiar”. Disseram para muitas meninas do passado e hoje mulheres – eu sou uma delas – que elas tinham de estudar e se formar antes de casar e ter filhos. Depois disseram que elas tinham de se firmar no mercado de trabalho antes de pensar nas alegrias e dificuldades da maternidade. Temos aí uma geração de mulheres que escolheram não serem mães ou que posterga esse plano o quanto pode, às vezes desafiando a capacidade do corpo humano.
Mas também disseram que a maternidade era o “normal” e o “natural” para a mulher. Não ter filhos seria sinal de egoísmo, um defeito, passível de críticas duras da sociedade. Temos aí uma geração de mulheres culpadas por não “dar conta” de tudo. Porque não há planejamento que coloque mais horas no dia. Por mais organizado que você seja, existem limites. E não adianta lutar contra os ponteiros do relógio, como nós mulheres teimamos em fazer. Há as que conseguem, alguns dirão. Bem sucedidas no trabalho e com uma família digna de comercial de margarina. Não adianta muita coisa. Essas ouvirão que ter família grande hoje em dia é muito difícil, mais que dois filhos é loucura.
Claro que planejamento familiar é importante, sobretudo para aquelas famílias que terão dificuldade em oferecer o básico – material e emocionalmente – para que esse novo ser humano que chega. Mas, quando a realidade sai do curso do que estava planejado, não é sinal de que tudo acabou. Ao contrário. É a vida acontecendo, surpreendendo, te tirando da zona de conforto e te obrigando a erguer a cabeça, recalcular a rota quando necessário, mas continuar lutando. Planeje sim, dê preferência sem ouviu os pitacos alheios. Mas não se esqueça de deixar claro pros seus planos que quem manda nesse longo trajeto é você. E que, se eles não trouxerem felicidade, serão substituídos sim, sem culpa alguma. Bom final de semana a todos!