Se voltarmos alguns poucos anos no tempo, lembraremos que as barbearias eram locais em desuso, com clientes e profissionais sem a necessária renovação. De repente, tudo mudou. Esse mercado se renovou lançando uma tendência totalmente brasileira e que encontrou clientela vasta. As Barber Shops oferecem bem mais do que o cuidado com o cabelo e a barba. São locais tipicamente masculinos, que incentivam o homem não apenas a cuidar da aparência como a também ter momentos de descontração com amigos.
A decoração em estilo vintage, com uma pegada mais rústica ou detalhes que remetem ao futebol, carros e motos promete agradar a clientela. E a possibilidade de ouvir música, jogar sinuca ou vídeo game, beber uma – ou algumas – cervejas e trocar uma ideia só entre homens enquanto faz a barba tem feito os homens irem mais frequentemente à barbearia. Eles podem cortar o cabelo uma vez por mês, mas darem uma paradinha na barbearia toda a semana.
Tanto sucesso, além do modelo inovador, se deve também a uma tendência masculina em reservar alguns minutos do dia para se cuidar. Uma pesquisa realizada ela empresa Euromonitor Internacional aponta crescimento anual de 7,1% do mercado de beleza masculino brasileiro e estima que ao menos até 2019 esse percentual deve se manter. O Brasil, que já era conhecido por seu potencial na área de beleza feminina, agora está também no topo como mercado voltado à vaidade masculina.
E a tendência chegou em Montenegro. Pelo menos duas barbearias no estilo Barber Shop oferecem seus serviços na cidade e já contam com clientela fiel. São homens de todas as idades que se interessam pelos cuidados com barba e cabelo e por toda a experiência que os estabelecimentos oferecem.
Um desses montenegrinos, dispostos a investir no visual, é Cleisson Barreto, de 24 anos. Entre uma passada de navalha e outra, ele e o seu barbeiro, Samuel Costa, trocam uma ideia. Uma viagem planejada, o modelo de carro que andou chamando sua atenção, aquela saída que estão combinando. Com alguma dificuldade, Cleisson reconhece ser um homem mais ou menos vaidoso. Todos os meses ele passa pela barbearia e, em geral, fica mais tempo do que o necessário para dar aquele tapa no visual.
“Às vezes eu venho com amigos. Mas, em geral, venho sozinho e fico até mais tarde, conversando com o pessoal que tá por aqui”, conta o cliente que, apesar de marcar hora, não parece se importar em alongar o período na barbearia. Assim como nos salões de beleza tipicamente femininos, nas Barber Shops vão se criando vínculos entre os barbeiros e os clientes. Tanto que alguns clientes não aceitam que outro profissional da casa faça o serviço.
“Tem quem corta o cabelo uma vez por mês, mas vem toda a semana beber uma cerveja”
Quem passa pela rua João Pessoa e vê a fachada da Barbearia 1989 pode se surpreender. É que vista de fora, o balcão de bar, mesa de sinuca e motos da decoração, além da prateleira que exibe diferentes rótulos de cerveja artesanal, geram algumas dúvidas. Mas não se engane, trata-se de um lugar especializado em cuidar da beleza masculina. Aliás, as mulheres não são muito bem vindas por lá, conforme diz o proprietário Samuel Costa, de 27 anos, ao contar que isso já gerou alguns questionamentos femininos.
“De início, as namoradas podem estranhar. Questionam porque elas não podem vir com eles e também cuidar do cabelo. Mas o serviço é só masculino mesmo e depois elas até gostam porque sabem que eles estão aqui, só entre amigos, e vão voltar pra elas com o cabelo e a barba bem cuidados”, conta Costa. E isso oferece a eles uma liberdade maior para conversar sobre qualquer assunto. “Se estivessem num ambiente também feminino, eles não conversariam sobre qualquer tema com a mesma privacidade”, diz ele.
No atual endereço, a barbearia tem apenas alguns meses, antes funcionava num ambiente bem menor e sem o estilo barber shop. Observando o mercado crescente nesse segmento, Samuel fechou parceria com um cliente e, já sócios, eles criaram um espaço onde bar, loja de cervejas e barbearia operam lado a lado.
“Não é uma moda, é uma tendência do mercado”, explica Samuel, que trabalhava como atendente de farmácia quando, por incentivo de um amigo, entrou no ramo. Para ele, o que fez as barbearias ressurgirem foi a qualificação do setor como um todo. “O aperfeiçoamento dos profissionais mudou. Antes se pensava em barbearia como num lugar parado no tempo, com os mesmos cortes. E só os profissionais que atendiam as mulheres se capacitavam para novos serviços. Agora os espaços para os homens também investem”, diz.
O ambiente incentiva encontros e reencontros. Apesar de ser possível fazer o agendamento – inclusive por um aplicativo do estabelecimento – e resolver rapidamente o que precisa na barbearia, o bar faz com que os homens vão lá para conversar ou assistir um jogo de futebol. “Tem quem corta o cabelo uma vez por mês, mas vem toda a semana beber uma cerveja. Não necessariamente vir aqui é para cuidar da aparência”, diz o proprietário. Além disso, não é incomum, um cliente olhar para a cadeira ao lado e descobrir um ex-colega de aula ou trabalho não visto há bastante tempo.
Homens assumem a vaidade
O motivo pode até variar, mas o fato é que os homens hoje cuidam mais dos cabelos. E, quando o assunto é barba, as coisas mudaram ainda mais. Se no passado ela fazia alguns torcer o nariz e quem a mantinha levava a fama de desleixado, hoje, ter barba é sinônimo de estilo. Bem cuidada, é claro. “Nós temos clientes que chegam aqui pra fazer o cabelo e comentam da vontade de deixar a barba crescer, mas, não fazê-lo porque a namorada não gosta ou por dar trabalho pra cuidar. Daí com os produtos, ele percebe que pode ter. O balm dá maciez para barba”, conta Samuel Costa.
O barbeiro diz que atende desde a gurizada que chega à barbearia pedindo pelo corte de determinado jogador de futebol, ator ou músico, até homens da terceira idade que, em geral, querem um visual mais tradicional. Eles não atendem crianças. “A maior parte tem na casa dos 20 a 30 anos. Chegam a vir toda a semana, cuidar do cabelo e já fazer a barba”, diz o empresário que confessa ter se surpreendido com a dedicação masculina à própria vaidade.
Ele conta que, inicialmente, foi contrário a ideia de vender produtos para cuidados com a barba e cabelo e em casa porque não acreditava no sucesso da atividade. Enganou-se. O retorno foi tão bom que hoje a barbearia conta com marca própria de cosmético masculino, que oferece shampoo, balm e pomada, criados em parceria com uma empresa de Novo Hamburgo.
A arte de barbear e os novos espaços
Mário, que praticamente se descobriu na profissão, é o único barbeiro do Studio. Tudo teve início pelo incentivo da mãe de um amigo, que o viu cortando o cabelo do filho. E desde então ele entrou de cabeça no mundo dos salões e hoje é especializado também em barbear. “Iniciei ainda muito novo, como cabeleireiro para cortes femininos. Só depois que me interessei mais por esse universo masculino, vendo a desenvoltura do Beto ao atuar. Resolvi, então, especializar-me”, enfatiza.
Formado em cursos específicos, Mário explica que no início da carreira tudo é mais difícil. O profissional já atuou em outros três salões em sua trajetória e, após um período afastado, retornou, há três meses, para o Beto Silveira, porém como barbeador do Man Studio.
Sobre os novos perfis de barbearias, ele destaca que o diferencial é que atrai o público.“Não é só vir e cortar o cabelo ou fazer a barba; é um passeio. É conversar um bom assunto. Nós, ultimamente, falamos muito de política aqui, com todas as situações que têm ocorrido no Brasil”, salienta.
E juntamente com a mudança social, novos espaços e com o conceito de homem moderno, mudaram também os aparelhos de barbear, segundo Mário. “As máquinas estão mais leves e potentes. Os cursos de antigamente hoje já não valem tanto. Por isso é importante os barbeiros antigos se reciclarem para fugirem do padrão. E outra que antes o homem não poderia manter a barba em ambientes como o de trabalho. Atualmente é mais flexível. Uma barba bem feita, com bom acabamento, é aceita”, diz.
O que eles querem?
Mas, afinal, o que eles querem? Ao contrário de muitos discursos que ouvimos por aí, a moda é, sim, também para homens. E as barbearias estão aí para comprovar.
Seguindo as tendências, os homens têm lá suas preferências. “Eu brinco que o quem mais vende é jogador de futebol. Têm muitos que vêm com a imagem de um corte de jogador para reproduzir igual”, explica Mário.
Um estilo, nos cabelos, dégradé, começando numa zero, também está super em alta. Já no quesito barbas, Mário diz que a moda é rústica, estilo o viking Ragnar, da série ‘Os Vikings’; mais cheia embaixo, porém com um bom acabamento delineado.
“O mundo da barbearia está mais evoluído. Cada cliente tem seu charme, seu gosto pessoal, e aprendo sempre muito com essa troca de experiências. Compartilhamos tanto momentos bons quanto ruins, mas o mais importante é que se o cliente está feliz, fico feliz também”, conclui.
O que é moda na cabeça dos homens
Sabe aquele hábito feminino, de levar ao salão de beleza a imagem de determinada atriz da novela e pedir para a cabeleireira deixá-la igual? Isso também acontece nas barbearias. Só que quem costuma lançar moda são os jogadores de futebol. Conheça alguns dos cortes do momento:
Franja longa
Pode ser degradê ou ter as laterais e a nuca são raspadas. O charme desse corte está no topete, que mantém um tamanho maior do que o resto do cabelo. Os fios da franja são repicados e aleatórios, dando um ar de bagunça, deixados para o lado.
Faux Hawk
Tem o estilo moicano e pode ser deixado mais ou menos volume. Se caracteriza por um degrade nas laterais, feito com máquina ou tesoura. Funciona para diversos tipos de fios, dando muito estilo para quem tem cabelo crespo ou ficando mais reto para quem os tem lisos.
Low Fade
Oferece um efeito degradê mais curto. Não precisa ser raspado por completo. O efeito em camadas vai da metade das laterais e, atrás, em torno de três dedos, estendendo o efeito ao longo da cabeça.