Dia do Trabalho. Nicolau começou com registros contábeis manuscritos e passou por outros sistemas até usar computardor
Aos 68 anos, o contabilista Nicolau Alvísio de Oliveira soma décadas de trabalho na área e acompanhou as mudanças no desenvolvimento da atividade. Ao observar sua foto da década de 80, ele sorri e diz: “Eu ainda tinha cabelo”. Mas em seguida identifica a máquina de escrever adaptada para os registros contábeis, bem diferente do computador usado atualmente.
Em sua trajetória profissional, ele viu os cadernos manuscritos de registro contábil caírem em desuso com o avanço da tecnologia. Em alusão ao Dia do Trabalho, comemorado hoje, publicamos um pouco de sua história, um exemplo das transformações no desenvolvimento das atividades profissionais.
Nicolau começou a trabalhar cedo. Quando ainda era adolescente precisava conciliar os estudos pela manhã com o corte de mato à tarde, em Passo da Serra, interior de Montenegro, onde morava. Foi assim desde os 11 aos 16 anos. Nessa idade, ingressou no técnico de contabilidade na Escola Estadual São João Batista e já no primeiro ano do curso conquistou uma vaga na Associação Comercial para trabalhar como contínuo. “O que hoje chamam de office boy”, compara. A entidade de classe prestava serviço de assessoria fiscal às empresas.
Aos 18 anos, Nicolau formou-se como técnico em contabilidade e começou a ter seus próprios clientes. “Os livros Diários eram manuscritos em três colunas”, recorda. Em 1974, ele montou o próprio escritório. Na época ainda utilizava os livros manuscritos, mas paralelo a máquinas de datilografia adaptadas para possibilitar escrever em formulários próprios da atividade contábil.
Os avanços tecnológicos continuaram e seu aperfeiçoamento profissional também. Em 1982, Nicolau graduou-se em Ciências Contábeis pela Feevale. Nos anos 80, a contabilidade passou a contar com o sistema mecanizado. “Passamos a ter máquina elétrica com alguma programação e automatização”, recorda. No início dos anos 90, começou a usar computador e, desde então, vem sendo criados programas cada vez mais sofisticados e específicos para a atividade.
O contabilista observa que a disponibilidade de recursos digitais agilizou muito o trabalho, mas salienta a importância de profissionais capacitados para um trabalho de qualidade. “Ainda com toda essa automatização precisamos de pessoas bem formadas”, analisa Nicolau.
Nesse avanço tecnológico, o especialista percebe que as pessoas perderam um pouco a capacidade de memorizar, fazer cálculos e até de racionar, pois confiam muito na possibilidade de armazenar dados no computador.
Ele reforça, no entanto, a importância do bom profissional, que inclui ter credibilidade pessoal. O contabilista observa ainda que a informatização facilitou o acesso aos dados contábeis de uma empresa pelo poder público, o que facilita a fiscalização pelo fisco.
Mais máquinas e pontos de venda para o produtor rural
Com experiência na avicultura, produção e comércio de frutas e hortaliças, Naura Schubert, 66 anos, conhece bem a vida no meio rural. Ela observa que a atividade era mais difícil antigamente, mas essa situação mudou a partir do avanço na tecnologia.
Naura lembra que há mais de 40 anos, quando iniciou na avicultura, o cuidado para manter a temperatura ideal nos dias de calor incluía aguar o telhado do aviário e retirar os frangos para a sombra. Hoje, os aviários são climatizados. As máquinas facilitaram as atividades rurais em geral, desde o preparo da terra até a colheita, além de garantir mais conforto aos moradores.
Naura observa, porém, que até mesmo para vender os produtos está melhor, pois há mais pontos de vendas. Um exemplo é a criação da Casa do Produtor Rural, que garante espaço para que o trabalhador desse segmento venda diretamente aos consumidores. No local, sua família comercializa uma diversidade grande de frutas e hortaliças.
Ela acrescenta que no comércio indireto o preço ao produtor é muito baixo, mesmo quando o consumidor paga mais caro. “Às vezes uma compra pode custar R$ 50,00 para o consumidor, mas, para o produtor fica uns R$ 10,00”, exemplifica. Nessa diferença, pesa o lucro dos atravessadores, bem como os impostos colocados no meio do caminho.
Na sua avaliação, há cada vez mais demanda pelos produtos rurais. “Falta produto para atender a procura”, afirma. Naura acrescenta que a dificuldade no meio rural hoje é a falta de mão de obra, pois percebe que não há interesse das novas gerações pelo trabalho. “A gente tem um mercado de venda melhor que antes, mas falta valorizar o produto”, completa. Para ela, falta incentivo público à agricultura, inclusive para que o trabalhador rural tenha condições de investir em maquinário e consiga produzir mais.