Empresária montenegrina conta sua experiência de 15 anos no ramo. Segundo ela, ainda há procura pelo serviço
Quem frequentava festas de aniversário há uns 15, 20 anos atrás, já sabia: se ouvisse alguma música mais alta tocando, era hora de correr para a rua. Estava chegando a telemensagem.
Elas eram febre. Traziam mensagens emocionantes e diversas brincadeiras com os homenageados. Com o tempo, acabaram perdendo espaço. Engana-se, no entanto, quem pensa que elas deixaram de existir.
“Em tempo de WhatsApp, em que ninguém mais se fala e ninguém mais se vê, quem ganha telemensagem é rei”, opina a empresária Gabriela Azevedo, dona e locutora de uma empresa dessa área. Há mais de quinze anos no ramo – sete em empresa própria, que conduz com o marido, Leandro Lopes, – ela afirma que, mesmo passada essa época de alta demanda, a procura por paarte dos clientes é boa.
Gabriela garante que telemensagem não é “telemico”. “O meu trabalho é emocionar as pessoas, mostrando pra elas o quanto são especiais”, conta. “Pra mim, não é só um meio de ganhar dinheiro. Faço por amor e a gente tenta espalhar o amor por onde passa.” A locutora explica que, quando é contratada, busca conversar com a pessoa para entender o significado do homenageado para ela e qual é sua história de vida.
Cada mensagem, por isso, é única e personalizada. Nada pronto copiado da internet. Gabriela diz que normalmente chega apenas com um texto pré-elaborado e deixa sua mensagem a partir do que sente no ambiente e na pessoa que recebe o “presente em forma de palavras”. “De cada dez, nove me mandam mensagem no outro dia me agradecendo. Acabo criando um vínculo com a pessoa”, ressalta. O casal tem até alguns clientes fixos, que já presentearam com teles todos os membros da família.
Com relação aos tipos de mensagem, eles são os mais variados. Tem de aniversário, romântica, pedido de casamento, evangélica e até, curiosamente, de reconciliação. São casais brigados que buscam, em alto e bom som, uma forma de fazer as pazes. A locutora lembra de um rapaz que havia traído a companheira com outra mulher e a engravidado. Ele buscou o serviço e contou toda a história. “Eu disse que ajudava ele, mas que aquilo não podia se repetir”, lembra. “Eu tenho esse hábito de me meter nos casos.”
E é assim, de caso a caso e de pessoa para pessoa, que o negócio segue funcionando. Em Montenegro, a empresa tem a maior parte dos clientes no bairro Senai. Mas não é só no município que atuam. Já estiveram em Estância Velha, Barão, Salvador do Sul, Pareci Novo, Canoas, Triunfo, dentre outros, com o carro que é especialmente preparado para a atividade.
Se for o desejo do cliente, o serviço pode agregar também a apresentação de um palhaço, um “Don Juan” e de uma Drag Queen. A intenção é alegrar e descontrair a homenagem ainda mais.
Histórias marcantes não faltam
Gabriela sai com o marido para uma tele já levando lenços e uma garrafa d’água. Mesmo para ela, é difícil conter a emoção. Com 15 anos no ramo, histórias tocantes não faltam. Entre as mais marcantes foi a de uma mãe que contratou o casal para uma mensagem de despedida. Eles aceitaram, pensando que se tratava de uma viagem ou de uma mudança que seria feita. Quando chegaram ao local, ficaram sabendo que a mulher tinha câncer em fase terminal. O texto, na verdade, era uma despedida da vida, destinada para os filhos e o esposo como forma de agradecimento e de conforto. Segurar as lágrimas, para a locutora, foi impossível.
É em momentos como esse que Leandro, marido e motorista, fica atento ao volume da música de fundo. Quando o som sobe, é a deixa para a locutora respirar e se acalmar para dar seguimento à mensagem.
Em outro trabalho marcante, um marido contratou para a esposa uma tele de aniversário. Enquanto a mensagem era lida, Gabriela via que o filho do casal, de apenas seis anos de idade, não parava de chorar. Ela o chamou, no fim, para entregar um buquê de rosas à mãe. Neste momento, ele pediu o microfone e falou com o pai, na frente de todos. Disse que o amava muito, mas pediu ele deixar de bater em sua mãe — outro momento de fortes emoções.
Desafios de um negócio
Agora, com a proximidade do Dia das Mães, chega o período de maior alta no faturamento do serviço. Gabriela explica que são elas as que mais apreciam as homenagens e, por isso, mesmo faltando um mês, já existem reservas. Nem sempre é assim e, por isso, o casal toca o trabalho como uma renda extra. Leandro também trabalha no Polo Petroquímico e Gabriela trabalha como coordenadora em uma escola e supervisora em outra.
Ela avalia que é justamente essa dificuldade de viver somente da telemensagem que tirou muitos do mercado. Outra questão mais difícil os horários. “Não tem dia e não tem hora”, aponta.
Com o fim da “febre”, ficaram apenas os que podiam se dedicar ao ramo e oferecer algum diferencial. No caso deles, ela aponta, fica a personalização das mensagens e a sensibilização com o texto narrado.
O público ainda aprova
Moradora do bairro Estação, Pedrolina da Silva contratou no último dia 7 uma mensagem para uma querida vizinha, a Nilete. Reunindo amigos em sua festa de aniversário, a homenageada se sensibilizou com o presente. “Foi muito emocionante. Uma mensagem que comovia qualquer um”, relembra Pedrolina.
Tainara Schedler contratou uma tele para o pai em 2016. Sabendo que ele era uma pessoa envergonhada e mais fechada, não esperava a reação que recebeu. “Foi tão emocionante. Ele chorou muito, ficou feliz e me abraçou”, conta. Ela chega a se arrepiar ao lembrar da cena.
No último dia 11, agora junto das irmãs e da mãe, ela contratou uma nova tele para o felizardo. Foi a forma escolhida para agradecer a ele por tudo o que tem feito pela família.