Autoridades e pessoas ligadas ao esporte buscam soluções para a retomada do futebol de campo em Montenegro
O futebol é o esporte mais praticado e reconhecido em todo o mundo, exceto em Montenegro. Justamente no maior município do Vale do Caí, a bola não rola para um confronto 11 contra 11 entre dois clubes da cidade há bastante tempo. Mais precisamente há seis anos. Desde 2011, nenhum torneio ou campeonato de futebol 11 é realizado na cidade, enquanto os demais municípios da região possuem equipes e campeonatos ativos todos os anos. Mas por que o futebol de campo não é mais valorizado aqui?
Atletas não faltam, basta ver nos clubes Cantegril e Grêmio Gaúcho aos sábados. Centenas de jogadores disputam os campeonatos de futebol sete desses dois clubes e, para muitas pessoas, essa modalidade é um dos principais motivos para o fim do futebol de campo na cidade, mas não o único.
A falta de interesse do poder público e privado também deixou o esporte mais reconhecido do planeta cair no esquecimento em Montenegro. No início desse ano, o vereador Felipe Kinn Menezes, 34 anos, que assumiu o cargo em janeiro, foi em busca de alternativas para retomar a prática do futebol de campo. No final de fevereiro, o vereador promoveu uma reunião na Câmara de Vereadores com pessoas ligadas ao esporte do município para buscar soluções para resgatar a tradição.
De lá para cá, Felipe participou de várias reuniões, com inúmeras autoridades. Ele entende que a retomada do futebol de campo no maior município do Vale do Caí deve ser tratada como prioridade. “Temos que ter pessoas competentes para fazer isso acontecer. Precisamos parcerias de empresas, independente do apoio da Prefeitura. O futebol de campo tem que ser retomado, é um lazer. É o esporte mais reconhecido do mundo e caiu no esquecimento aqui devido ao tempo sem campeonatos”, frisa.
Sem entrar na polêmica da Liga Montenegrina de Futebol — entidade responsável pela organização dos campeonatos —, com a Justiça, Felipe Kinn acredita que muitos atletas preferem jogar apenas aos sábados nos clubes. “Perdemos (o futebol de campo) para os clubes. É uma alternativa, pois os jogos são sempre aos sábados, enquanto que o futebol 11 é domingo, dia que o pessoal tem preferido descansar”, compara.
Além disso, o vereador vê com bons olhos a possibilidade de realizar um torneio envolvendo os bairros ainda em 2017. “Estamos avaliando a possibilidade de fazer um torneio interbairros no segundo semestre desse ano para movimentar a comunidade. Esperamos concretizar, seja com cinco, dez ou quinze times. Marquei uma reunião para esta semana em Estância Velha, onde estão realizando um torneio assim, para termos uma ideia melhor”, completa.
O diretor de desporto da Smec, Felipe Cittó, 25 anos, revela que nos próximos dias um evento será promovido com todas as equipes da cidade e ressalta a necessidade do apoio da Prefeitura Municipal. “Em breve, faremos uma reunião com todos os clubes de Montenegro. Estarão representantes de Santos Reis, Mudaboi, para retomar o futebol 11. A Liga tem que estar apta a organizar campeonatos e o apoio da Prefeitura é fundamental. Temos que voltar aos poucos. Não adianta querer recomeçar com um grande campeonato”, argumenta.
Para Cittó, o futebol de campo acabou caindo no esquecimento em Montenegro pelo fato de muitos atletas preferirem ganhar uma grana extra e também para passar o domingo em família. “Muitos jogam por dinheiro, aí acabam jogando em outros times da região. Escuto também que os homens têm filho e não querem perder o domingo jogando futebol”, lamenta.
Na região, o futebol de campo segue forte
Se em Montenegro, maior cidade do Vale do Caí, o futebol de campo não é praticado, nos municípios vizinhos a realidade é bem diferente. Maratá, Pareci Novo e Brochier, por exemplo, são cidades que sempre participam de campeonatos regionais com alguma equipe.
Neste início de ano, inclusive, Maratá está sendo representada por um time no Campeonato Intermunicipal do Vale do Caí.
Vereador de Maratá, Maico Schmitt ressalta um dos aspectos determinantes para a continuidade do futebol de campo no município. “É preciso o apoio do poder público e privado, da sociedade. Os clubes têm estrutura, e o interesse também tem que partir deles. É uma parceria que dá certo entre o poder público e os clubes. Vejo que falta um pouco desse incentivo público e privado em Montenegro. Temos 2.500 habitantes e quatro times atuantes. Em Montenegro deveria ter pelo menos uns dez times, o que daria para organizar um campeonato tranquilamente”, salienta.
O secretário de Cultura, Desporto e Turismo do Pareci Novo, Gelci de Mello, concorda com Maico Schmitt na questão da importância do poder público para que este tipo de atividade aconteça. E ele também dá uma sugestão para a criação de outros campeonatos em Montenegro. “O poder público impulsiona. Acredito que não há nenhum tipo de apoio e interesse em Montenegro. É importante que tenha campeonatos regionais de futebol sete e futsal, além do futebol onze, em Montenegro, que é a maior cidade do Vale do Caí. É uma sugestão”, frisa.
Coordenadores de Fera e Olé lamentam a atual situação do futebol de campo
Eduardo Vercelhese, o Da Páscoa, coordenador do Fera, e
Gustavo Hoffmeister, coordenador do Olé, não somente trabalham com futebol, como respiram o esporte. Assim como a maioria dos montenegrinos apaixonados por futebol, eles lamentam o fato da cidade não ter mais campeonatos há tanto tempo, mas torcem pela retomada da modalidade no município.
“Não lembro o último campeonato de futebol de campo que Montenegro teve. Sinceramente, acredito que o fim da modalidade ocorreu por uma série de fatores, mas principalmente por essa geração ‘virtual’. Hoje você manda um feliz aniversário pelo WhatsApp. Esse ponto negativo vem se formatando de uns dez anos para cá. O pessoal perderam o interesse em acordar no domingo para jogar futebol”, lamenta Da Páscoa.
Gustavo acredita que o crescimento do futebol sete nos clubes tem influência direta no fim do futebol de campo na cidade. “O pessoal joga sábado e opta por descansar no domingo. O desinteresse do município e dos clubes também influencia. Para fazer a coisa acontecer, todos deviam se mobilizar para criar uma competição forte. As cidades vizinhas são menores e têm campeonatos”, compara o coordenador do Olé.