As mudanças históricas por trás dos Super-Herois e HQs

Pessoas ao redor do mundo tiveram suas vidas marcadas pelas histórias em quadrinhos (HQ), principalmente os enredos criados em torno de um personagem transformado em um super-herói. Sem dúvidas, o mais marcante e conhecido é o Superman, publicado pela primeira vez nos anos 1930, nos Estados Unidos, pela DC Comics.

Ao longo dos anos, novos personagens foram introduzidos às histórias em quadrinhos e, mesmo que fossem parte da ficção, traziam um toque de realidade e eram inspirados por fatos que aconteciam no mundo. Além disso, vilões também passaram a figurar nas páginas produzidas pela DC Comics e Marvel.

São nítidas as transformações históricas em personagens muito conhecidos pelo público, como Superman, Batman, Mulher Maravilha, Homem Aranha, Capitão América e tantos outros. As mudanças acontecem a partir das novidades tecnológicas e da metamorfose cultural que as gerações têm passado.
Atualizações nos traços e na proposta dos personagens podem ser percebidos. Com a chegada da indústria do cinema, por exemplo, muitas histórias foram reformuladas e recontadas em animações. No entanto, o passo mais interessante foi dar vida humana aos super-heróis e vilões, que hoje aparecem em grandes produções tecnológicas cinematográficas.

Outra tendência possível de ser analisada é o acompanhamento das gerações. Se por um lado temos as clássicas histórias em quadrinhos retratadas no cinema para adultos, também tivemos a criação de novas opções para o público infantil. Vale destacar, neste contexto, o lançamento de “Os Incríveis”, em 2004 e sua sequência em 2018.

Na era do grande consumo de séries, as produções também seguiram por este caminho. Em 2013, a DC Comics lançou a série animada “Jovens Titãs em Ação”, focada em situações engraçadas, que acontecem entre os Titãs (Robin, Cyborg, Estelar, Ravena e Mutano). Em agosto deste ano um filme dos titãs estreou nas grandes telas e tem divertido o público infantil.

Mesmo com este panorama geral sobre as HQs ainda existe muita coisa na área, inclusive as abordagens sobre o simbolismo e as definições destas obras. Escritor, semiólogo e filósofo italiano, Humberto Eco observa em seu livro “De Superman au Surhomme” que a maioria das histórias de super-heróis evoluem fora do tempo, já que não envelhecem e têm uma vida idêntica.

As eras das histórias em quadrinhos e seus personagens
Para compreender melhor os sentidos das histórias em quadrinhos, nada melhor que falar com quem entende do assunto. Professor de filosofia, o montenegrino Gelson Weschenfelder, 38 anos, pode mais que ninguém analisar, com propriedade, a história dos super-heróis e das HQs.

Gelson no evento Universos Paralelos, que abordou a cultura pop. Foto: Arquivo Pessoal

Weschenfelder iniciou o seu aprendizado de leitura aos 4 anos de idade, a partir das histórias em quadrinhos que sua prima mostrava na casa dos tios e da avó. Com isso, há 34 anos Gelson é apaixonado pela área e realizou pesquisas acadêmicas sobre as HQs. “Logo quando comecei a estudar eu não parei de ler essas super aventuras”, diz.

Para analisar o contexto histórico, o professor afirma que é preciso falar de eras, pois é quase um século de histórias. “Alguns historiadores vão falar em quatro eras e outros falam de cinco grandes eras dos quadrinhos”, aponta. Para que o leitor entenda melhor, Gelson contextualiza cada período:

Era de ouro – Conforme o professor, é no final de 1930 que surgem personagens como o Superman, Shazam e outros que imitam super-homem. Logo depois vem Batman, Mulher Maravilha e Capitão América. “É então que surge a indústria dos quadrinhos que retrata, nesse período, o anseio do ser humano diante de uma atrocidade (2ª Guerra Mundial e grandes crises econômicas) e, a partir disso, há uma necessidade de um ser mitológico e este ser, dentro da cultura pop, vem a se transformar nestes super heróis das histórias em quadrinhos”, aponta.

Era de prata – Surgem os heróis em ciência e alguns vilões que são vinculados à ciência. Segundo Gelson, vamos ver acidentes que vão dar poderes aos super-heróis, no caso do Flash, que é uma das melhores referências para a era de prata. “Essas histórias não vão mais trazer uma questão mitológica e sim um trabalho do heroísmo, do bem contra o mal”, comenta.

De acordo com o professor, a era de prata é o nascimento da Marvel e a inserção das questões sociais emergentes. “A Marvel traz muito bem os problemas sociais, a luta dos direitos civis, o empoderamento feminino e também apresenta os super-heróis negros”, afirma o pesquisador.

Era de aço – No final da década de 1970 e no início da década de 1980 as HQ vão trabalhar a questão mais violenta, quando surge o anti-herói e a era das mortes. “Foi para dar um drama, pois iniciava a época da invasão dos desenhos japoneses nos Estados Unidos. Com isso, o mercado de quadrinhos norte americanos começa a cair, surge a matança de super-heróis, e depois eles voltam novamente” destaca Gelson.

Era contemporânea – A partir dos anos 2000 ocorrem as reformulações com uma nova linguagem para novos leitores. “A Marvel e a DC reformulam as histórias para a geração do cinema que não conhece os super-heróis. Foi uma ideia bem comercial para as telas”, comenta Weschenfelder.

Segundo o professor, a partir de 2015 a DC, principalmente, “rebuta” novamente as histórias e começa a recontar. “Isso acontece porque outras maneiras não deram certo e pela busca do cinema, que passa a ser o ponto de referência da origem e não mais o quadrinho”, diz. Em todas essas eras, a origem começa a ser recontada. Porém, a partir da era de prata, com a Marvel, a DC vai dar outro enfoque e reescrever as histórias dos seus personagens, conforme Gelson.

Foto: Reprodução da internet

Últimas Notícias

Destaques