Cidade das Artes? Na prática, ou apenas no título? A resposta, de acordo com os artistas montenegrinos de diversos segmentos, é a segunda opção. Isso porque a falta de políticas públicas que abracem a categoria tem afetado diretamente a comunidade artística e sua valorização. Foi dessas demandas que nasceu o Movimento Pró Arte Montenegro. O grupo é composto por artistas de diversas áreas, das artes visuais, dança, teatro e música, além de grupos e companhias, artistas independentes e estudantes da região.
De acordo com Débora Primaz, proprietária da Plié&Cia Ballet e integrante do movimento, os artistas conversam entre si e essa briga por políticas, espaços adequados e reconhecimento já é antiga. “De que forma o artista daqui está sendo valorizado, se não há locais para as apresentações e atividades e se apenas os de fora são convidados para participarem de eventos municipais, recebendo cachês? Nossa participação é sempre gratuita”, desabafa.
Débora explica que a falta de espaços é um dos maiores problemas enfrentados pela categorias. Um comunicado da Prefeitura Municipal, ainda no início do ano, avisando que o Teatro Roberto Atayde Cardona estaria interditado durante o ano de 2017, ajudou a consolidar o Pró Arte. “Em contato individual com a Administração, nenhum artista conseguiu êxito nas solicitações. Então esse coletivo está em busca de seus direitos. Todos os que trabalham na cidade precisam de estrutura, apoio e sequer têm onde se apresentar”, diz.
O primeiro passo para tentar mudar a situação atual, de acordo com Débora, foi a elaboração de uma carta manifesto dos artistas de Montenegro, com a coleta de assinaturas dos envolvidos. Este material posteriormente será integrado a um abaixo-assinado da comunidade apoiadora das melhorias.
A carta será enviada aos poderes Executivo e Legislativo. Os artistas pretendem marcar uma reunião para apresentação das demandas e a formalização de compromissos quanto ao que pode ser melhorado.
Obras que nunca acabam são problema
“Recebemos o título de Cidade das Artes e somos, sem sombra de dúvidas, a cidade dos artistas. Levamos esse título para concursos, congressos e festividades de diversos lugares do nosso estado, mas há muito a ser feito para que nossa Montenegro possa ser considerada uma cidade que investe em arte e movimenta sua cultura”, diz a carta escrita pelos artistas.
Em reunião anterior ao lançamento do documento, foram apontados muitos entraves ao trabalho artístico no município. A falta de recursos no Fundo Municipal de Desenvolvimento da Cultura e a negligência no não pagamento de projetos contemplados pelo edital de 2016, além do fechamento, sem debate prévio com grupos e companhias, do Teatro Roberto Atayde Cardona, interrompendo espetáculos e trabalhos, são só algumas das questões.
Na Estação da Cultura, o aluguel de salas para grupos e estudantes da Uergs, conforme esclarecido no documento elaborado pelos artistas, dificulta o acesso, levando ao pagamento financeiro ou em trabalho para o município. O Pró Arte ainda protesta e exige esclarecimentos sobre as reformas no Parque Centenário, no Teatro, e na Biblioteca Municipal, que não têm prazos bem estabelecidos para realização e término.
Integrante do Diretório Acadêmico da Uergs, o estudante Ezequiel Souza diz que todos os setores das artes estão carentes na cidade. “E essa constatação criou uma certa revolta, que gerou o movimento. Somos a Cidade das Artes. Recebemos esse título. Temos, inclusive, artistas em nível nacional e internacional. E há esse grande descaso municipal com a arte e a produção cultural. O próximo passo é buscar o apoio do Legislativo e marcar uma audiência com o prefeito porque queremos respostas”, diz, convicto.
Importância da arte deve ser reconhecida
O poder público, de acordo com Ezequiel, precisa entender a importância da arte. “Não dá para a Prefeitura fazer discurso de apoio, se não está nem incluso no orçamento. Isso significa que a Administração vê outras prioridades que não a cultura. Nós estudamos, sabemos o quanto é indispensável para o desenvolvimento cognitivo e humano”, argumenta.
O grupo também cobra maior valorização da Uergs, que corre o risco de ser retirada de Montenegro. “Em média, seis grupos e companhias e mais de 30 artistas independentes, todos com as mesmas reivindicações, integram o grupo”, destaca Ezequiel.
“Queremos que estes mesmos artistas possam produzir e desenvolver sua arte na cidade, para a cidade, enfim, para a comunidade montenegrina. Somente assim poderemos ter a dignidade de citar Montenegro como Cidade das Artes. Estamos descontentes com a atual inexistência de políticas públicas e com o abandono de nossa administração aos locais públicos de desenvolvimento cultural, aos artistas e aos grupos locais”, conclui o documento.
Aguardando comunicação
De acordo com o diretor do Departamento de Cultura do Município, Leonardo Appel, o setor não foi oficialmente informado sobre as reivindicações dos artistas montenegrinos. Também por isso, de acordo com ele, não há como afirmar o que pode ser efetivamente feito em relação às solicitações. “Acredito que qualquer tipo de manifestação é importante e válida para o crescimento de Montenegro. Mas não houve nenhum questionamento oficial, até o momento, para o Departamento. Acompanhei e o que sei foi através das redes sociais. Mas é necessário, para uma resposta oficial, algum comunicado direcionado por parte do Movimento”, conclui.