Arte na pele pelo traço feminino

Mulheres reivindicam direitos e lutam por espaço no mercado de trabalho

As mulheres estão tomando conta do mundo. E quem se atreve a dizer o contrário? Estão cada vez mais proprietárias de seus corpos e vontades, desprendendo-se dos padrões sociais que limitam a vida feminina. E esse empoderamento se verifica em todas as áreas da vida, chegando também ao mercado de trabalho.

De pequena, Andrine Rosa de Lima, 25 anos, só tem a estatura. A tatuadora montenegrina resolveu desbravar novas experiências grandiosas e arriscar em uma profissão que, infelizmente, ainda é majoritariamente masculina: a da arte sobre a pele, a tatuagem. Precisou de coragem, determinação e persistência. Ninguém disse que seria fácil, mas ela enfrentou os obstáculos e hoje se sustenta unindo talento e prazer.

Com traço fino e delicado em seus desenhos, Andrine abriu estúdio há dois anos, mas desde criança tem afinidade e destreza para desenhar. “Meu pai, meu maior incentivador, sugeriu que eu fizesse o curso de Artes Visuais na Uergs, por conta dessa aptidão. Isso em 2011, logo que concluí o Ensino Médio”, conta.

Mesmo não concluindo o curso, Dini, como é conhecida, explica que a partir dali se encontrou e soube o que queria fazer da vida. E ali, também, a semente da mudança começou a germinar em sua cabeça. “Eu pensava em trabalhar com tatuagem, mas tinha medo”, relata.

A motivação principal para começar o próprio negócio e apostar suas fichas na realização profissional foi a filha Helena, que completará quatro anos. “A gente pensa diferente antes de ter filho. E o mais difícil é sempre dar o primeiro passo. Meter a cara. Para as ‘minas’ que tiverem dúvidas antes de fazerem algo, o conselho é ‘só vai e faz’. Só tentar já será um aprendizado”, aconselha.

Consolidando a profissão e fazendo fama
“Só se aprende com a prática, mas ninguém consegue nada sem arriscar e nem nasceu sabendo”, diz Dini. Com aproximadamente um cliente por dia, e procuras mais intensas no verão, a artista começou a notar que as pessoas estavam confiando no seu trabalho quando mais homens passaram a procurar o estúdio, e quando também apareceram trabalhos maiores, com grandes desenhos. O que antes era só para pagar contas, hoje já rende até pé-de-meia.

“O valor cobrado depende do tamanho, se a tatuagem é colorida e o trabalho que dá o desenho. As pequenas ficam em torno de R$ 50,00. Quando for muito grande, é cobrado por sessão”, informa a tatuadora.

Com um forte em tattoos Linework e Old School, ela comenta a importância de uma mulher nesse ramo, também pela relação com os clientes. “É fundamental mulheres atuando em todas as áreas. E as clientes se sentem mais confortáveis para mostrar o corpo e onde pretendem ser tatuadas”, comenta.

Andrine também tem as suas artes. Umas dez tatuagens pelo corpo. E costuma deixar sua marca em amigos, namorado e até arriscou nela mesma uma lua, pela qual particularmente nutre uma paixão e apego sentimental, na perna. “Tenho sonhos, como tatuar em outros lugares, conhecer outros estúdios. Abrir a mente. O mundo é muito grande e precisamos sair da casca”, conclui.

A revolução
Andrine revela que o incentivo do amigo Lucas Behrens foi fundamental para que começasse a investir no seu sonho. Lucas também tatua, mas não profissionalmente. “Eu peguei todas as economias que tinha e juntos fomos a Porto Alegre comprar máquina e tintas. O Lucas, que sempre me apoiou muito, acabou me ensinado a tatuar”, diz.

Levantando muito a bandeira das causas femininas, ela, a partir de então, começou a revolução – na própria vida e dando exemplo para outras mulheres. Porque ser talvez a tatuadora precursora em uma cidade é um ato de revolução. A revolução de conquistar espaços ainda muito masculinos, mas que também são das mulheres.

“Eu iniciei em casa, mas como o espaço era pequeno, meu pai me auxiliou a encontrar uma sala, ajudou com o aluguel. Todo mundo começa de algum lugar. E ser tatuadora te traz muito mais perto do feminismo. Aqui em Montenegro, por ser uma cidade de interior, todos os preconceitos são muito enraizados. Tive receio de iniciar também por isso”, lembra.

Teve textão machista de homem no Facebook com o início de sua atuação? Teve, segundo Dini. “As minas devem quebrar estereótipos, padrões. Essas coisas nos limitam muito. Temos inteligência e força para fazermos qualquer coisa. Eu fico muito orgulhosa das minhas amigas que estão lutando, mulheres abrindo empresas”, confessa a tatuadora.

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