Aquecimento global vai agravar os fenômenos da natureza

Atenção. Estudo faz alerta sobre sérios riscos para a região e o RS devido às mudanças climáticas, mas população pode reduzir impactos se cooperar

O objetivo não é disseminar pânico na gauchada. Mas é que não há mais tempo para ser alheio ao problema. As mudanças climáticas já impactam em nosso dia a dia por conta de erros passados e não há mais nenhuma alternativa senão encarar a situação e minimizar as consequências das emissões de gases na atmosfera. Para citar um exemplo recente, parte de São Francisco de Paula veio abaixo, no último dia 12, pela ação de um tornado. Pesquisas indicam que esses fenômenos atmosféricos serão cada vez mais recorrentes e mais intensos.

A pedido da empresa Braskem, a Consultoria ERM fez um estudo que apontou que o RS vai entrar em estado de alerta em função do agravamento de ciclones e tempestades extratropicais, inundações devido a chuvas intensas, aumento da incidência de raios e ondas de calor. Os resultados foram obtidos a partir da análise de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e metodologia desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo.

Para entender melhor essa conjuntura e cooperar para que a sociedade se prepare e se adapte a esses novos contextos, o Jornal Ibiá conversou com o especialista de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Luiz Carlos Xavier, que participou da 2ª Virada Sustentável de Porto Alegre, no último final de semana. No seminário “A Virada Sustentável na Educação”, ele detalhou o estudo e disse por que os gaúchos não podem mais dar as costas para as transformações que já estão em curso.
Acompanhe:

Jornal Ibiá – Por que a Braskem está tão preocupada com os eventos climáticos? O que a população e o poder público têm a ver com isso?
Luiz Carlos Xavier – O estudo, elaborado com suporte da Consultoria ERM, foca nos riscos climáticos com potencial impacto às operações da Braskem no Brasil, nos Estados Unidos, no México e na Alemanha. Mas toda a população das regiões analisadas está também exposta a esses riscos. Por isso, os resultados são comunicados a clientes, fornecedores e entes públicos com os quais a empresa se relaciona. Os efeitos que estamos sentindo hoje, em parte, são um reflexo do passado. As emissões atuais vão gerar consequências no futuro. Por isso é tão importante que a indústria e a sociedade discutam formas de reduzir as emissões de gás carbônico a partir de suas atividades e criem articulações para se preparar ante esses riscos. Temos sistemas de monitoramento de riscos, mas não basta agirmos sozinhos. Se houver uma elevação do nível do mar em Alagoas, por exemplo, vai impactar no porto, depois em nossos clientes, na sociedade e, consequentemente, em nós.

A Braskem possui uma planta importante em Triunfo. Com relação a ameaças naturais, o que a pesquisa projeta para essa região e para o Rio Grande do Sul como um todo?
Para o Rio Grande do Sul, os principais motivos de alerta são a intensificação da ocorrência de ciclones e tempestades extratropicais, inundações devido a precipitações intensas, aumento da incidência de raios e ondas de calor. Estamos em uma situação em que já não basta mais reduzirmos as emissões. Também temos de nos preparar e nos adaptar para esses grandes eventos climáticos, que são fruto do que fizemos no passado e que serão mais intensos e mais frequentes até que se consiga mudar a situação. O estudo mostra que sentiríamos os impactos até 2050 caso o planeta parasse neste momento com as emissões de gases, só que isso não vai acontecer. A temperatura da Terra está 1,5ºC acima do normal. O limite é 2ºC, porque a partir daí estamos sujeitos a perder o controle sobre o planeta.

O que vai nos acontecer se atingirmos esse limite de 2ºC?
Costumamos enxergar as mudanças climáticas só mediante o derretimento das calotas polares, mas existem mais de 30 cenários de impactos possíveis, como a extinção de espécies, novas doenças e a ocorrência de grandes eventos climáticos que dizimam tudo por onde passam, como furacões, ciclones, secas e inundações. A expectativa é que com esses 2ºC a mais se perca o controle sobre o planeta. Compare com o ser humano. Você tem 37,5ºC de febre e, se passar a 39,5ºC, pode sofrer uma convulsão, perder o controle da situação, sofrendo sequelas irreparáveis.

Os fenômenos climáticos vão piorar, mas quais os principais riscos que corremos?
Os estudos indicam que os maiores riscos estão associados a furacões e ciclones extratropicais, além de chuvas mais intensas, descargas elétricas cada vez mais fortes. Também há cenários de inundações e ondas de calor que impactarão fortemente no sistema de energia elétrica. Isso significa que poderemos não ter energia elétrica para todos. Daí a necessidade de nos adaptarmos para ficarmos menos vulneráveis. E essa preparação a Braskem não fará sozinha. O processo envolve também o poder público, outros entes e a sociedade. Nossa empresa está sempre avaliando os riscos presentes e futuros, porque as emissões de hoje causam efeitos ao longo de 100 anos. Em curto prazo, temos medições até 2040; em médio, até 2070; e longo, 2100. No entanto, já temos um cenário atual bem preocupante e a tendência é de agravamento, tanto em frequência quanto em intensidade. No Rio Grande do Sul, uma preocupação especial é com relação às descargas elétricas, porque atualmente é o Estado com maior concentração de descargas elétricas do País. É uma situação atual e de alto risco. Já o risco de ciclone, que hoje é moderado, passa para alto à medida que as mudanças, com o tempo, impactam no dia a dia.

Quais as medidas que todas as pessoas poderiam tomar para reduzir a emissão de gases?
Mitigar o aquecimento global é uma tarefa bem mais complexa do que fazer algo para reduzir as emissões. O efeito causado pelas emissões de gás carbônico tem uma duração de aproximadamente 100 anos sobre a Terra. Empresas, por exemplo, podem investir em diversos aspectos para reduzir suas emissões, porque já existe tecnologia para isso. Mas do ponto de vista individual, temos em mãos o poder de reduzir o gás carbônico adquirindo equipamentos que consomem menos energia, usando fontes de energia limpa, pegando mais ônibus em vez do carro particular, andando de bicicleta sempre que possível, consumindo alimentos de empresas que reduziram suas emissões. São decisões que estão em nossas mãos. É necessário consumir com responsabilidade e valorizar quem também trabalha com esta preocupação. As tecnologias já estão aí. Estamos falando de defender um bem coletivo, o que exige uma ação conjunta. Ações isoladas não são suficientes para mitigar as consequências do efeito estufa.

Você referiu que o ser humano precisa adaptar-se a essa mudança. Como seria isso na prática?
É necessário, por exemplo, ser mais rigoroso na escolha dos alimentos. A decisão de compra de determinado produto precisa incluir critérios como o respeito ao planeta. Na esfera governamental, se vê o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Indústria envolvidos nesta discussão [o aquecimento global e suas consequências], mas não se vê o Ministério da Educação, que poderia inserir essas informações desde a formação básica do aluno. Falo da formação de um cidadão sustentável, com respeito e ética pelos resíduos que gera, por exemplo. Muitos hábitos são padrão de comportamento. Não há como mudar padrões de consumo e vivência sem informação, que hoje só circula em meios restritos, como cientistas. Se a sociedade não entender a situação, não tem como fazer a sua parte. Aí ocorrerão grandes eventos climáticos e seremos tomados de surpresa por eles.

A sociedade está preparada para essa nova realidade?
Infelizmente não. Existem muitas técnicas para mitigar o aquecimento, mas muitos não as conhecem. As pessoas podem contribuir se tiverem conhecimento, mas falta informação e consciência a respeito. Acredito que haverá mudança de hábitos à medida que se souber dos impactos das mudanças climáticas em nossas vidas, porque a continuidade do planeta estará em jogo.

Quais os esforços da Braskem para fazer circular as informações desse estudo que encomendou?
Já estamos envolvendo os fornecedores mediante a solicitação dos dados quanto aos riscos que eles identificaram. Agora estamos desenvolvendo uma estratégia de comunicação que também envolve os clientes e, no final, vai resultar em um plano de ação neste sentido. Iremos trabalhar conjuntamente e disponibilizar as informações a todos os públicos. Porque todos têm responsabilidade de reduzir as emissões e, além disso, adaptarem-se às mudanças que estão em andamento. Mais do que nunca, é necessário dar as mãos.

Últimas Notícias

Destaques