Viajar é a paixão da aposentada, que já passou por cinco continentes
Nascida no interior de Bom Princípio, dona Helga Cecília Lerner, 77, desde cedo dava sinais da sua vocação para servir e ajudar o próximo. Primeira dos 15 filhos de um casal de agricultores, ela ajudou a mãe a cuidar de boa parte dos irmãos. Na adolescência, aos 14 anos, saiu de casa para trabalhar e morar no Hospital de Bom Princípio, ali começava a sua trajetória como enfermeira, profissão que ela diz ter orgulho de ter seguido.
“Com quatro anos eu já era babá do meu irmão. Os quatro menores sempre estavam comigo. Assim que eu fiz 14 anos o pai me levou pro Hospital em Bom Princípio pra trabalhar, mas no fim do mês ele vinha buscar o meu dinheiro. Não ganhei um centavo de todos os anos que trabalhei lá, foi tudo o pai que pegou. Mas não me arrependo, porque o conhecimento que tive foi muito maior que o dinheiro que poderia ter recebido”, diz dona Helga.
A vinda para Montenegro foi em 1970, quando passou a trabalhar no Hospital Montenegro. A enfermeira trabalhou ainda no Hospital Centenário, de São Leopoldo. “Eu saí de Montenegro e fui para São Leopoldo, onde trabalhei no Hospital Centenário. Depois voltei pra trabalhar com o doutor Teixeira e o doutor Mattana, com raios-X e acidente do trabalho. Foram eles que me convidaram pra voltar pra Montenegro, voltei e aqui fiquei até hoje”, conta dona Helga.
Quando se aposentou da profissão de enfermeira, dona Helga continuou trabalhando como cuidadora de idosos até 2019, quando iniciou a pandemia. “Eu já era conhecida das clínicas que trabalhei. Então continuei, sempre tinha alguém pra cuidar. Mas quando veio a pandemia eu não pude ir mais”, relata. Em casa sem atividades, a aposentada então teve a ideia de começar a trabalhar com materiais recicláveis e destinar o dinheiro da venda para asilos, pessoas em vulnerabilidade e a igreja. “De início eu trazia as latinhas, tampinhas, garrafa pet e alumínio, mas era muita coisa. Então eu comecei a trabalhar só com as latinhas e as tampinhas das garrafas pet. Eu coloco 200 latinhas em cada saco, em duas semanas já tenho mais de 3 mil amassadas”, relata.
Todos os dias, no fim da tarde, a aposentada sai da sua casa, no bairro São João, com um carrinho de feira e percorre as ruas locais em busca dos materiais recicláveis. O trabalho conta com o apoio de amigos e vizinhos, que guardam as latinhas consumidas para doar para dona Helga, formando uma corrente solidária. “Eu comecei ajudando ali no asilo Recanto das Vovós. Também ajudei muito os índios que estavam acampados ali no Centenário. Eu comprava roupa, calçado, comida e levava pra eles. Agora também estou ajudando a Paróquia para a compra de bancos novos”, afirma a aposentada.
Com muita saúde e disposição, dona Helga diz ainda não ter planos de parar com o serviço. “Muitos dizem pra eu parar, mas por enquanto eu não quero, já ajudei muitas pessoas”, aponta a idosa. A atividade é encarada como uma oportunidade de se sentir útil e ainda poder ter contato com outras pessoas. Dona Helga conta que durante suas caminhadas pelas ruas em busca das latinhas já fez muitas amizades. “Eu me sinto muito bem de poder ajudar as pessoas e ainda tenho com o que me ocupar. Isso me faz bem, eu encontro com outras pessoas, já conheci muita gente”, conta a aposentada.
A paixão por viajar
Quando saiu de casa aos 14 anos, no interior de Bom Princípio, dona Helga não imaginava que um dia iria conhecer tantos lugares e viver tantas aventuras. Com três passaportes carimbados, a aposentada diz já ter conhecido cinco continentes. A inspiração por desbravar novos lugares veio da professora de história do primeiro ano do segundo grau. “Foi ela que me colocou no caminho das viagens”, afirma dona a aposentada.
A primeira viagem para o exterior foi para Viena, na Áustria, ainda muito jovem. Foi o pontapé inicial de uma aventura que dura até hoje. Dentre os tantos locais por onde passou, dona Helga lembra com carinho das duas viagens para Jerusalém. “Eu estive duas vezes no túmulo de Jesus, na Basílica do Santo Sepulcro. Também tomei banho no mar da Galileia e no Rio Jordão. São lugares marcantes que ainda quero voltar”, conta.
Uma das maiores aventuras da aposentada foi durante uma viagem para os Países Bálticos, quando acabou perdendo o avião no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. “Em Frankfurt o aeroporto é enorme. Quando cheguei no aeroporto não conseguiu achar o portão de embarque, perdi o avião, então tive que comprar outra passagem de outro voo. Mas tive que esperar cinco horas até pegar outro avião”, relata.
A paixão por conhecer novas culturas e lugares se mantém até hoje, sendo que a próxima viagem já está programada para o Paraná, onde dona Helga vai passar por vários locais. O objetivo é também realizar esse ano uma viagem para Fernando de Noronha. “Eu me sinto muito feliz na minha vida. Eu posso contar coisas do mundo, porque Deus me deu oportunidade e condições financeiras de viajar. Por isso sou grata e acho que tenho o dever de ajudar outras pessoas”, conclui dona Helga.