Incentivo. Entidade trabalha fomentando empreendedorismo e melhorias nas propriedades. Além disso, tem como foco incentivar os jovens a permanecerem no campo para uma sucessão sustentável e eficiente
Há pouco mais de quatro anos, o montenegrino João Antônio da Silva tornou-se o primeiro produtor de morangos do município. O empreendimento começou a tomar forma quando o morador de Costa da Serra, então com 19 anos de idade, buscava uma alternativa para viver da terra frente à vontade de ter um negócio somente seu. E o apoio da Emater/RS foi um dos principais incentivadores da escolha.
O acompanhamento dado pela entidade à sua família fez com que João fosse atrás de uma cultura com potencial na região e que, naquele momento, não tinha concorrência. Hoje ele tem três estufas em sua propriedade com oito mil pés de morango. Cerca de 80% da produção é vendida diretamente para o consumidor final. Ele também comercializa para uma padaria, uma pizzaria e sonha em crescer mais.
O atendimento de João pela Emater/RS é apenas um exemplo da ação e da importância desta instituição no município. Atualmente composta por uma assistente administrativa, um extensionista rural social e dois extensionistas rurais agropecuários, a unidade de Montenegro da Emater já existe há mais de meio século. Hoje, atende 526 famílias em 32 localidades da área rural do município. Contando com o apoio dos técnicos da unidade regional, que fica em Lajeado, são promovidas diversas frentes e linhas de ação.
“Sem ela [Emater], ia estar faltando muita coisa”, avalia João Antônio. Foi por intermédio da entidade, inclusive, que o produtor conseguiu acesso a algumas políticas públicas de incentivo. Para financiar a última compra de insumos, por exemplo, todo o projeto, com a coleta dos dados e os formulários necessários, foi feito pela empresa, que também realizou toda a intermediação entre o banco e o agricultor.
De acordo com o extensionista rural agropecuário Valmir Michels — um dos membros da equipe local — as áreas de atuação são amplas. “A Emater atua na defesa de direitos, na inclusão social e produtiva e em ações sócio-ambientais e de desenvolvimento econômico. Isso tudo é muito amplo. Trabalhamos muito na questão da melhoria de condição de trabalho, para diminuir a penosidade da atividade no meio rural”, explica o técnico. Outra das principais funções do órgão é incentivar os jovens a trabalharem no campo, de forma qualificada e sustentável, em busca da sucessão rural.
Valmir conta que não há critérios na seleção de famílias atendidas. “Algumas vêm até nós e outras a gente procura. A extensão rural que fazemos tem essa peculiaridade, que consegue chegar à propriedade e conversar com a família sem outros interesses. Nós chegamos com um intuito de ajudar mesmo e é uma relação de confiança”, garante. Ele ressalta que as famílias com maior demanda acabam tendo um atendimento mais detalhado.
Estímulo à boa gestão
Vinte e sete famílias de produtores, dentre as já atendidas pela Emater, foram selecionadas para o projeto “Gestão Sustentável da Agricultura Familiar” — iniciativa desenvolvida pelo governo do Estado e posta em prática pelos extensionistas. No projeto, busca-se a utilização de ferramentas de gestão para otimizar os processos nas propriedades e auxiliar as famílias nos âmbitos social, ambiental, produtivo e econômico.
Há um ano, o produtor de morangos João Antônio da Silva está entre os atendidos pela equipe. Ele conta que, dentro do programa Gestão Sustentável, o acompanhamento se tornou mais rigoroso, justamente na busca pela otimização da gestão da propriedade. Ele precisa anotar diversos dados da produção, despesas com insumos (como luz e água) e até gastos com lazer. A partir disso, ele e os técnicos fazem alinhamentos.
Ao fim do ano agrícola, que vai de junho a junho, é feita uma análise detalhada da safra. “Aí tu vai avaliar o que tu fez de certo, o que tu fez de errado, o que precisa mudar e o que está bom”, explica João. Neste ano, ele terá este diagnóstico completo pela primeira vez, mas já avalia, desde agora, que houve uma melhora significativa na produtividae desde que entrou no programa.
A seleção dos participantes, segundo Valmir, se deu em uma análise da vocação das famílias para a gestão. “Isso foi discutido, também, com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural”, acrescenta.
No decorrer do projeto, ocorre, no mínimo, uma visita a cada dois meses às propriedades. Neste ano, dez novas famílias deverão ser contempladas pela iniciativa.
Apoio e incentivo é força de trabalho das mulheres
As mulheres montenegrinas das áreas rurais também são apoiadas pela Emater. Com 21 Grupos Organizados do Lar (GOL’s), o órgão junta as mulheres de cada localidade em encontros que promovem a união, a capacitação e a orientação sobre diversos temas – desde questões relacionadas à saúde e a valorização da mulher até questões sobre a sucessão rural. Para agricultoras, filhas, mães e avós, os encontros proporcionam uma troca de experiências, mais autonomia e muito aprendizado.
Fomento ao empreendedorismo
A primeira agroindústria produtora de geléia de bergamota em Montenegro também deve muito de seu sucesso à parceria com a Emater. Diante das várias regras impostas em legislação para essetipo de empreendimento, um dos responsáveis, Charles Kauer, conta que o apoio dos extensionistas foi essencial. “Em toda a parte que a gente precisou, burocrática e técnica, eles auxiliaram. Foram eles que deram o maior incentivo para a gente fazer”, relata.
A Doces Vapor Velho, de Santos Reis, é um bom exemplo de empreendedorismo na agricultura familiar, pois nasceu em uma família produtora de citros que percebeu que, com a geléia, poderia ter um aumento em sua renda.
O negócio rural está no mercado desde setembro do ano passado e já comemora bons resultados. E na própria produção da fruta, Charles comenta acerca do apoio técnico especializado da Emater. “Eles dão muito auxílio em questão do manejo do pomar e sempre tentam achar um jeito para melhorar a produção”, enaltece.
Assistência técnica gratuita
O atendimento da Emater é realizado sem nenhum tipo de cobrança às famílias. O extensionista Valmir Michels explica que cerca de 70% do financiamento do órgão provém de verba do governo do Estado, 20% do Município e 10% de convênios com o governo federal.
Por essa razão, um relatório anual de todos os atendimentos e atividades realizadas é entregue às administrações, como forma de controle. Há cerca de duas semanas, por exemplo, o grupo esteve no gabinete do prefeito Carlos Eduardo Müller para apresentar seus resultados.
Parcerias no trabalho
Para atuar no município, a Emater conta com algumas parcerias que auxiliam na realização das atividades. Além da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural, que tem uma clara relação com a entidade, a Secretaria da Saúde é parceira em frentes relacionadas, principalmente, com a saúde do homem e da mulher – as campanhas do Novembro Azul e do Outubro Rosa, por exemplo, levaram palestras de profissionais do município para as famílias atendidas.
A Secretaria da Educação, também, oferece apoio com a Programa Nacional da Alimentação Escolar, que leva a produção local dos agricultores para as merendas escolares dos alunos. Pela afinidade e a necessidade de articulação, ainda, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais é outro importante aliado. “Tu não consegue avançar, nem atingir seus objetivos se não tiver parcerias”, avalia o extensionista Valmir Michels.
O profissional frisa, ainda, que além do grupo atuante na entidade e dos parceiros firmados, toda a unidade regional da Emater está à disposição dos atendidos. “Existe toda uma estrutura regional de assistentes técnicos que tem especialidades em diversas áreas. Se o produtor, eventualmente, precisar de apoio, ele vai ter”, explica. O escritório central da regional de Montenegro fica no município de Lajeado.
Pertencendo à regional de Porto Alegre, mas instalado no município, está o Centro de Treinamento (Cetam), no bairro Aeroclube. Ali, cursos nas áreas de inseminação artificial de bovinos, manejo de equinos, apicultura, fruticultura agroecológica, gestão de agroindústria, horticultura agroecológica, processamento artesanal de leite, melhoramento genético em bovinos de leite, meliponicultura e piscicultura são oferecidos, com custo, para o público em geram. Agricultores montenegrinos, no entanto, têm 50% de isenção na taxa.
Números demonstram a diferença
No ano passado, 75 produtores foram atendidos pela Emater em um serviço de geoprocessamento. Ali, foram elaborados croquis das terras — processo necessário para o acesso de algumas políticas públicas e que também é aliado no controle da produção e do solo.
Neste período, ainda, 363 agricultores foram reunidos em quatro eventos da entidade sobre educação ambiental – outra importante frente que é colocada em prática.
Neste sentido, 31 famílias foram instruídas ao uso de plantas bioativas, duas famílias construíram composteiras e o solo de 91 hectares de propriedades foi corrigido em métodos de correção de acidez, fertilidade, adubação e com plantas recuperadoras. 50 famílias receberam treinamento sobre a produção de alimentos de qualidade em práticas sustentáveis e 25 tiveram orientações quanto ao acesso ao “programa da merenda escolar”.