Coparentalidade. Mais do que ter filho sem casar, é uma guarda compartilhada planejada
O desejo de ser pai ou mãe perpetuando-se em um filho consanguíneo, criado com amor e respeito, tem muitas formas de realização. Uma delas é a coparentalidade, em que não é necessária a relação romântica através do casamento, mas é essencial a responsabilidade sobre a vida da criança nascida desta união legal, amigável e planejada. Nesta relação, o filho representa todo o amor irrestrito e alicerçado no equilíbrio emocional necessário para o desenvolvimento de um adulto.
A jornalista gaúcha Taline Schneider é idealizadora da Coparentalidade Responsável e Planejada no Brasil, alternativa defendida através da rede social Pais Amigos – Construindo Famílias – Desconstruindo Preconceitos. Ela resume a teoria em “uma cooperação mútua no planejamento, concepção, geração e criação de filhos”. São noções que não surgem repentinamente, como testemunha Taline, que desde os 10 anos falava em ter filho, mas sem pensar em dividir seu dia a dia com marido.
A Coparentalidade mesmo não é uma ideia moderna. Ela surgiu no final dos anos 70, com a legalização do divórcio. Ele permitiu o rompimento da “família conjugal”, porém, a lei mantinha aquele núcleo ligado através da divisão de responsabilidade sobre os filhos. Isso justifica o argumento de que não há diferença da rotina da Coparentalidade – pais criando o filho sem morarem juntos – com a de uma separação.
A semelhança aumenta no caso de o casamento ter acabado logo após o nascimento do bebê. O diferencial, e que é positivo, está no fato de, em geral, estes divórcios trazerem atritos e mágoas, acabando até com a amizade entre os adultos, o que não acontece quando se trata da coparentalidade.
Rede Pais Amigos
Primeira rede social do mundo, única e exclusivamente, para a coparentalidade responsável e planejada. Ou seja, um local de encontro virtual para quem quer conhecer um(a) parceiro(a) para planejar, conceber e criar um filho juntos sem a necessidade ou obrigatoriedade de uma relação conjugal, romântica ou até mesmo sexual. O método de concepção pode ser o tradicional (sexual), a Inseminação Caseira ou a Reprodução Assistida em laboratório (Inseminação Artifical ou Fertilização in Vitro). Acesso no endereço www.paisamigos.com. É recomendado um contrato de geração de filhos elaborado por um advogado de família sem preconceitos.
Pais amigos dividem em relação fraterna
Pode surpreender, ao abrir a rede social Pais Amigos encontrar o ícone ‘Faça um filho comigo!’, por parecer algo frio, mecânico e rápido. Mas muito pelo contrário, na verdade, a página é um aglutinador de pessoas interessadas em conhecer esta teoria e iniciar um longo período de construção desta relação amigável.
A fundadora conta que muitos referem-se ao site como “um Tinder de concepção”, para tentar explicar a funcionalidade da plataforma, apesar de o objetivo não ser relações casuais ou românticas, mas sim a construção de famílias. Ela explica ainda que os participantes não precisam se casar, mas podem; não precisam gerar o filho através de relação sexual (optando por reprodução assistida), mas podem. Tudo é negociado e recomenda-se colocar em ‘contrato de geração de filhos’, incluindo cada detalhe da criação, como divisão de despesas e presença de cada um – ou dos dois juntos – no dia a dia.
A Coparentalidade é opção às pessoas que não querem mais relação romântica, inclusive divorciadas que se decepcionaram, mas ainda sonham em ser mãe ou pai, e sem abrir mão da importante presença do outro genitor na vida da criança. É ainda um acalento aos assexuais (quem não sente ou sente muito pouca atração sexual), aos solteiros homoafetivos e, até mesmo, casais homoafetivos, quando a multiparentalidade une fraternalmente este a um pai ou a uma mãe amiga, para a concepção e criação do filho entre três pessoas amigas e unidas em torno do filhos.
Opção para romper dogmas do patriarcado
É preciso equilíbrio emocional e muita certeza para essa decisão, assim como é para escolher ser pai e mãe convencional. E para isso serve a rede social criada pela jornalista, como ponto de encontro e discussão. Inclusive, ocorrem casos em que tudo está certo, com o casal fraterno formado; mas, na hora de colocar os itens no contrato, percebem que divergem em pontos da criação, ou da participação, e acabam desistindo.
E este emocional precisa estar preparado também para as agruras do caminho. Taline comenta a respeito da construção social patriarcal que ao longo dos anos criou dogmas à mulher, cuja sua transposição é vista como insulto à família. Há anos era inaceitável não casar virgem. Depois, era mal vista a mulher desquitada, assim como a mãe solo (produção independente). Hoje, é a coparentalidade que sofre essa discriminação.
Taline argumenta que estudos confirmam que 2/3 dos casamentos acabam. Todavia, o desgaste não é da instituição família, mas da ideia do “para sempre”. “Casamento deve ser pelo tempo em que for bom para os envolvidos”, declara.
Já entre os Pais Amigos dificilmente ocorrerá uma disputa litigiosa pela guarda da criança. Ao menos de acordo com o Instituto Brasileiro de Direito de Famílias (IBDFAM), que informa não haver registro de nenhum caso assim no País.
Opção também para manter casais unidos
Inclusive, não é inédito hver um casal heterossexual em que um deles não quer ter filhos, e dá ao outro a liberdade de procurar um terceiro para realizar seu sonho. E nestes casos, todos podem registrar a criança. O pai ou mãe biológico é incluído na Certidão de Nascimento por meio de solicitação judicial, como socioafetiva.
É importante destacar ainda que a Coparentalidade não é uma imposição para alterar padrões tradicionais de família ou relacionamento. É apenas mais uma escolha pessoal, por uma alternativa que visa a felicidade e a realização humana, onde o amor é todo direcionado à criança. E os que optam por esta maternidade e paternidade pedem apenas respeito. E repudiam que haja sacanagem, ou busca pela libertinagem, nesta escolha.
As diferenças
Conjugalidade = relação entre casal que pode se romper, inclusive de forma litigiosa, tendo no meio os filhos;
Coparentalidade = cooperação mútua na geração e criação de filhos entre os genitores, de forma responsável e harmoniosa, sendo eles casados, separados ou ainda somente amigos. Mas também entre pessoas que tenham outros laços de parentesco e que não sejam necessariamente genitores. A coparentalidade pode ser biológica, adotiva ou socioafetiva.