Amigas do Peito: 15 anos de fortalecimento e esperança

Grupo tem papel fundamental na divulgação da prevenção contra o Câncer de Mama

Há 15 anos, em Montenegro, por iniciativa da Unimed Vale do Caí, surgia um grupo de fortalecimento e suporte não apenas emocional como físico para as mulheres com Câncer de Mama: o Amigas do Peito. Mas, se engana quem pensa que o atendimento se restringe às mulheres que passam por esse difícil processo. O grupo tem como um dos principais objetivos alertar a comunidade como um todo sobre a prevenção da doença. Maria Paulina Pölking, idealizadora do grupo e atualmente coordenadora, explica que a iniciativa partiu da percepção de que frente ao diagnóstico de Câncer de Mama, oferecer um espaço de acolhimento, suporte emocional e troca entre mulheres agregaria um elemento importante no tratamento. “Buscamos acompanhar quem chega trazendo a experiência de quem já viveu o diagnóstico e o tratamento, sempre desmistificando a doença”, afirma.

As diretrizes do grupo seguem as mesmas desde a época de criação. Em primeiro lugar é receber, acolher e buscar fortalecer as mulheres com a doença através da troca de experiências e informações técnicas. Já a segunda é ser um símbolo da prevenção, tanto a primária, com os cuidados para uma vida saudável; como a prevenção secundária, com a orientação para a consulta médica e exames necessários.

Maria Paulina Pölking, idealizadora e coordenadora. Foto: arquivo pessoal

Ao longo dos 15 anos, mais de 100 mulheres passaram pelo grupo que, atualmente, conta com 35 integrantes. Um ponto fundamental é que o grupo não é destinado apenas para usuários da Unimed. “O único critério para inclusão é o Câncer de Mama, não precisando a mulher fazer parte de algum convênio da Unimed, nem realizar pagamentos ou inscrições”, afirma Paulina. Sendo assim, a mulher que tiver interesse em participar do grupo deve entrar em contato pelo número (51) 3649-8960, ou, ainda, pelo portal da Unimed apenas com o preenchimento de um formulário.

Paulina conta que um dos maiores desafios ao longo desses anos foi lidar com a pandemia e suas limitações. “Antes, tínhamos um encontro presencial semanal, o que foi interrompido. Assim, mantivemos o grupo virtualmente, mas, felizmente, desde outubro de 2021 voltaram alguns encontros pontuais”, salienta. Segundo a coordenadora, o grupo está reestruturando seu formato e, possivelmente, os encontros serão quinzenais e ainda com grande restrição nas ações.

“Nunca imaginei que minha posição passaria de apoiadora para integrante”
Rose Almeida, 55 anos, é uma das mulheres que sempre apoiou o grupo e jamais imaginou um dia precisar participar como uma integrante. Desde sua época como vereadora, Rose sempre teve como uma de suas bandeiras a questão da prevenção contra o Câncer de Mama e era uma grande apoiadora do Amigas do Peito. Foi em um exame preventivo, que em 21 de setembro de 2020, ela descobriu a doença. “Entender o que estava acontecendo nos primeiros dias foi muito difícil. A gente fica sem chão, parece que o mundo desaba na nossa cabeça. Mesmo assim, tomei logo as providências”, afirma.

Rose Almeida teve câncer em 2020. Foto: Ibiá

Já debilitada por ter tido Coronavírus apenas um mês antes do diagnóstico, Rose felizmente descobriu o nódulo ainda muito pequeno durante a biópsia, sendo assim, não foi necessário que realizasse as quimioterapias, mas sim, 15 sessões de radioterapia antes da cirurgia. Por isso, Rose segue disseminando a importância dos exames preventivos. “Eu não só preguei desde a época que era vereadora que as mulheres fizessem seus exames preventivos, assim como seguia isso à risca em minha vida. Quando diagnosticado precocemente, [o câncer] tem cura com percentual muito alto. Foi o que aconteceu comigo”, relembra.

Logo que foi diagnosticada, uma das primeiras pessoas que procurou foi a doutora Paulina, junto do grupo. “Eu sempre me identifiquei muito com o grupo e o trabalho prestado à comunidade. Participava de todos os encontros e ações. Mas, nunca imaginei que minha posição passaria de apoiadora para integrante do grupo, com câncer de mama. Isso não passa pela nossa cabeça, porque acha que com a gente não vai acontecer”, relembra. Para Rose, o grupo é muito mais que uma rede de fortalecimento: é união e afeto. “É onde encontramos apoio, esclarecimentos, orientações e trocas de experiências. Quando nos reunimos, é um momento muito bom de carinho e preocupação umas com as outras”, pontua. Rose destaca que a coordenadora Paulina é fundamental para o grupo. “Ela é uma pessoa carinhosa e preocupada com a saúde das integrantes, faz um trabalho excelente. Ela é um ser humano que a gente tem que aplaudir sempre. Sem ela, esse grupo não seria o que é hoje”, destaca.

Maria Inês Machado teve o diagnóstico em 2004

Maria Inês Machado da Silva, 66, também passou pelo tratamento do câncer, descoberto em 2004. Apenas um ano e alguns meses após o seu diagnóstico o grupo foi criado, mas o apoio ainda foi essencial. “Eu estava muito perdida, cheguei arrasada e a Paulina e as três meninas que tinham inicialmente me deram um apoio fundamental, muito importante. Paulina é nosso porto seguro”, relembra. Muito grata pela rede de fortalecimento, Maria não pretende ficar longe das Amigas do Peito. “Nunca vou sair do grupo, porque ele é maravilhoso para mim. Quando eu precisei de apoio, eu tive e agora sou eu quem está dando. Participo do grupo, onde a gente fala a mesma língua, onde tem mulheres em todas as fases da doença, umas iniciando tratamento, outras terminando o processo”, finaliza.

“O Amigas do Peito é um espaço de celebrar a vida”
O médico Dirceu Mauch foi um homem que duramente participou do processo de luta destas mulheres. “Sinto orgulho de ter testemunhado o nascimento, implementação, desenvolvimento e sucesso desta ideia. Por ser médico há mais de 54 anos, sou de um tempo em que se tinha medo até de pronunciar a palavra câncer, por isto se dizia “doença ruim”, como se pudesse existir também uma doença boa”, relembra. Ele explica que por muito tempo, o diagnóstico de câncer estava associado a uma condenação de morte, apenas sem data. Mas, os tempos mudaram e a medicina trouxe a esperança, junto com o grupo.

Foto tirada no início da criação do grupo. Foto: arquivo pessoal

15 anos atrás, Mauch era diretor de medicina preventiva na Unimed, quando Paulina o convidou para criação do grupo Amigas do Peito. “Sua argumentação consistente, o seu jeito calmo de falar e o seu carisma, logo me convenceram. Levei a sugestão à diretoria da Unimed, que prontamente aprovou. Isto foi o meu papel principal. Eu pude seguir acompanhando, incentivando e participando, durante alguns anos, até meu afastamento do Espaço Vida”, afirma.

Médico Dirceu Mauch fez parte da implementação do grupo na Unimed

Para Dirceu, o que Paulina fez foi, em suas palavras, extraordinário. “Reuniu, primeiramente, sete mulheres com a doença ainda em atividade e em tratamento, com algumas já curadas, em palestras informativas, reuniões semanais para falar de si,  expor seus medos, suas angústias e seus fantasmas, mas de ouvir também palavras de motivação, de esperança e de fé”, ressalta.

“Quando uma nova integrante chegava, tímida, encolhida e sestrosa, era logo adotada e assimilada pelo grupo, então, logo se soltava. Aliás, grupo falante e barulhento, que me fez algumas vezes chamá-las de bando de caturritas, de tanto entusiasmo e alegria de viver que manifestavam. Mas, que souberam ser apoio e amparo, sem se deixar abater pelo desalento”, pontua. Dirceu agradece todas as envolvidas no projeto pelo belíssimo trabalho e finaliza com uma frase e tanto: “muito mais que um espaço de esperar a morte, o grupo Amigas do Peito é um espaço de celebrar a vida.” Vida longa!

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