Estamos a apenas dois dias da data mais romântica do ano: o Dia dos Namorados. A data é comemorada pelos apaixonados, mas também pode ser uma oportunidade para reflexão. Isso porque os relacionamentos, se bem cuidados, preservados e construídos, nos trazem incontáveis benefícios, mas, caso contrário, podem levar a relações tóxicas, assim como complicações na saúde física e mental. Você sabia que a liberação de hormônios é fundamental para mente e organismo humano? Tudo isso é imprescindível para um sentimento de verdadeiro afeto, seja ele profundo ou apenas uma emoção momentânea. Mas, afinal, você sabe a diferença entre amor e paixão?
A psicóloga montenegrina Mara Cristiane von Mühlen destaca que em sua área, já há correlação das regiões do cérebro e atividades do sistema nervoso com sentimentos do amor, identificando a química cerebral responsável pelo surgimento das emoções. Porém, a ciência está longe de definir o real significado do sentimento. Por isso, ela adianta que existem várias formas de interpretação. Em sua visão, em uma relação saudável, o que ocorre é que a pessoa se ama, primeiramente, para depois amar outras pessoas que também queiram a amar.
Este modo saudável, segundo Mara, geralmente inicia com a famosa química entre o casal. “Daí pode surgir uma paixão, algo explosivo, intenso, com muitas reações fisiológicas e, que, geralmente tende a passar, segundo alguns estudiosos, em até dois anos. Depois disso, quando já conhecemos a pessoa com a qual estamos envolvidos, pode ou não evoluir para o amor”, explica. Por isso, pode-se dizer que o amor é um sentimento positivo e evoluído. Sendo assim, não deve estar ligado a dor e sofrimento. Quem nunca ouviu a frase “o amor é cego”? Mas, não é sobre isso. “Não estamos “cegos” quando amamos. Isso é quando aceitamos o outro, quando não queremos encaixar esta pessoa nos meus modelos”, diz. “O amor deixa livre. Se quero para mim, do meu jeito, não é amor”, acrescenta a psicóloga. “Todos merecemos relações saudáveis, amar e ser amados em toda a plenitude que este sentimento, o amor, ou essa emoção, a paixão, permite, sem ansiedade, sofrimento, angústias e medos psicológicos.”
Dentre as principais reações da química, a psicóloga destaca coração acelerado, pupila dilatada e dificuldade de respirar. A mente de uma pessoa apaixonada funciona baseada na química. Algo naquela pessoa causa essa explosão, com endorfina, dopamina, serotonina e adrenalina. Segundo Mara, é um evento de reações fisiológicas. “A paixão é a química cerebral a mil quase que o tempo todo em que estamos em contato com a pessoa. Nossa mente funciona como se num estado de drogadição”, avalia.
Ela diz que paixão é emoção, e amor é sentimento, portanto, tem um tempo de duração maior que a paixão. “Isso não quer dizer, necessariamente, que se dura muito é amor. Depende da relação que temos com essa emoção, com esse sentimento. O amor envolve aceitação, tranquilidade, bem-estar”, salienta. Já a paixão, dá uma “sacudida” no ser humano. “Acorda, faz a pessoa se sentir sexy, atraente, faz querer melhorar, ficar bem, bonita. É motivacional, de uma forma positiva. Sentimos nosso corpo vivo, vibrante.” Por outro lado, se não for paixão, vai te prender, colocar em um molde, o que pode começar a envolver posse. Mara ainda reitera que nada é apenas físico, nem mesmo a paixão. Tudo está ligado ao sistema nervoso e seus neurotransmissores, inclusive aos hormônios.
Ocitocina para que te quero?
A endocrinologista montenegrina Aline Dame d’Ávila destaca a importância da preocupação com a felicidade como um todo. “Devemos investir em amizades e relacionamentos saudáveis, porque a paixão durando até 48 meses é tempo suficiente para criarmos vínculos permanentes de amor e união”, comenta. Ela também salienta que a escolha do parceiro, assim como maneira como acontece a relação, é fundamental para definir se a troca será saudável – então são liberados os hormônios de bem-estar e até mesmo saúde -, ou se será uma relação tóxica, em que os hormônios do estresse são liberados excessivamente.
Os hormônios são substâncias químicas mensageiras produzidas pelas glândulas. Cada hormônio produzido pelo corpo humano tem funções específicas, seja de regular o crescimento, a vida sexual, o desenvolvimento e o equilíbrio interno. “Quando estamos apaixonados, liberamos predominantemente os três hormônios da felicidade: ocitocina, dopamina e serotonina”, aponta. Os hormônios têm tanta importância que uma simples alteração na produção ou absorção de uma dessas substâncias pelo organismo é suficiente para aumentar ou diminuir a sensação de felicidade ou de tristeza e dar mais ou menos ânimo, por exemplo.
Conhecido como hormônio do amor, a ocitocina costuma ser liberada quando se está perto do parceiro. Quando isso acontece, os níveis de cortisol (hormônio do estresse) diminuem no organismo. Também está intimamente ligada à sensação de prazer e de bem estar físico e emocional e à sensação de segurança e de fidelidade entre o casal. Pesquisas ainda mostram que as concentrações de ocitocina aumentam 40% depois de um orgasmo. Aline acrescenta que este hormônio aumenta a excitação sexual em ambos os sexos.
Dentre os efeitos psicológicos da ocitocina estão o aumento da sociabilidade; facilitação da formação de laços de amizade e o estreitamento de ligações sentimentais; melhora do humor e redução da ansiedade. Aline pondera que não é apenas a relação sexual que promove a liberação deste hormônio. Atividades e momentos de lazer, como risadas e massagens com a pessoa que você se relaciona causam os mesmos efeitos.
A dopamina é um mensageiro químico (neurotransmissor) que atua no sistema nervoso central. Este hormônio aumenta a libido. Isso porque durante as relações sexuais, os níveis de dopamina aumentam, trazendo grande sensação de prazer. Além disso, também atua em outras áreas como a memória, função cardíaca, processamento da dor, motivação e atenção.
Assim como a dopamina, a serotonina é um neurotransmissor da felicidade. A serotonina atua na função sexual e desejo, regulando o humor, e também no sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade e funções cognitivas. Por isso, quando se encontra numa baixa concentração, pode causar mau humor, dificuldade para dormir, ansiedade ou mesmo depressão. Assim, os momentos de lazer com a pessoa amada se tornam cada vez mais importantes para a produção destas substâncias quando se está apaixonado ou amando.